Réu no STF pelo crime de tortura, o deputado paraense que chama a atenção do Brasil pela
forma agressiva com que age na "bancada da bala" do Congresso Nacional é conhecido como
"matador de pobre, no Estado do Pará, onde foi eleito com 250 mil votos.
Por Luiz Gustavo Padrão, no Facebook.
(jornalista e hoje mora no Rio de Janeiro)
Se eu não tiver parado de defecar pela boca, fico feliz por ter parado de oferecer, gratuitamente, meu
Por Luiz Gustavo Padrão, no Facebook.
(jornalista e hoje mora no Rio de Janeiro)
Se eu não tiver parado de defecar pela boca, fico feliz por ter parado de oferecer, gratuitamente, meu
bolo fecal à sociedade.
Após 3 anos de abandono, a lembrança me emocionou de forma paradoxal. O amor que tive pela
Após 3 anos de abandono, a lembrança me emocionou de forma paradoxal. O amor que tive pela
profissão e a decepção que tento esquecer.
Lembro o episódio que me fez perder o tesão pelo jornalismo e se tornar determinante para abandoná-
Lembro o episódio que me fez perder o tesão pelo jornalismo e se tornar determinante para abandoná-
lo. Julho de 2012, eu retornava à reportagem de TV, depois de um ano e meio afastado. Na primeira
semana fui cobrir uma reportagem em Benfica, Região Metropolitana de Belém.
Tratava-se da execução de um ajudante de pedreiro, apontado pela "elite" da Polícia Civil paraense
Tratava-se da execução de um ajudante de pedreiro, apontado pela "elite" da Polícia Civil paraense
como suspeito de envolvimento com o tráfico. A população estava revoltada com o assassinato
(execução sumária) do rapaz e chegou a bloquear parte da BR-316, como forma de protesto.
Cheguei ao local e colhi depoimentos de moradores e parentes da vítima. Todos (unanimidade de
Cheguei ao local e colhi depoimentos de moradores e parentes da vítima. Todos (unanimidade de
cerca de 200 moradores) disseram que o rapaz nunca foi envolvido com o tráfico e que foi executado
por engano e de forma covarde.
Um dos moradores me passou um vídeo que mostrava policiais saindo de dentro do terreno onde
Um dos moradores me passou um vídeo que mostrava policiais saindo de dentro do terreno onde
ocorreu a morte momentos depois da execução. Entre os policiais estava o delegado Eder Mauro,
chefe do grupo de polícia metropolitana (GPM) e famoso pelo número de traficantes mortos em suas
operações policiais.
Ele foi apontado pelos moradores como o executor da vítima. Após colher os depoimentos, fui a
Ele foi apontado pelos moradores como o executor da vítima. Após colher os depoimentos, fui a
delegacia para ouvir o outro lado, como mandam os melhores e piores manuais de jornalismo. O
delegado Eder Mauro não quis falar sobre o caso. Escrevi a matéria e fui para TV no início da
madrugada.
Deixei todas as sugestões de imagens e de construção da matéria para a edição. No dia seguinte, na
Deixei todas as sugestões de imagens e de construção da matéria para a edição. No dia seguinte, na
hora do almoço, aguardava a veiculação da reportagem no jornal mais importante da casa. A matéria
não foi ao ar.
Liguei para chefia de reportagem para perguntar o que tinha acontecido. A chefe de reportagem não
soube dar uma resposta concreta. Primeiro disse que havia ocorrido um problema com a fita onde
estavam as imagens brutas. Eu não aceitei a resposta porque sabia que havia deixado a fita em
perfeitas condições. Na mesma hora fui à TV para saber o que tinha acontecido de fato.
Quando cheguei na redação, a mesma chefe de reportagem disse que a matéria não tinha sido
Quando cheguei na redação, a mesma chefe de reportagem disse que a matéria não tinha sido
aprovada pela direção geral da emissora pelo fato da Polícia ser "nossa parceira" (palavras da direção
reproduzidas pela chefia).
A "parceria" fez com que a matéria nunca fosse veiculada. Eu recebi inúmeras ligações dos
A "parceria" fez com que a matéria nunca fosse veiculada. Eu recebi inúmeras ligações dos
moradores, nas quais era chamado de vendido, antiético e parceiro de policial assassino. A história
do rapaz foi para estática de assassinatos por conflitos armados entre policiais e "traficantes". Eu
abandonei o jornalismo meses depois, após ser eleito pela direção como um dos premiados com a
demissão coletiva, promovida em dezembro do mesmo ano. Parei de ler e ver jornais.
Ainda assim, assisti a vitória do mesmo policial envolvido no caso. Não na justiça, mas nas urnas. Se
tornou "nosso representante" no Congresso Nacional, após ser o candidato mais votado, escolhido
por mais de 250 mil eleitores. Nós, jornalistas, temos responsabilidade por isso. Nós o colocamos lá.
Nós que aceitamos aquilo que nos é imposto pela mídia, ou, no caso, que nós impomos por meio da
mídia.
Acredito, cada vez mais, que a maioria da prática jornalística, no mundo e no Brasil, não está
exercendo sua função social, abandonando, consciente ou inconscientemente, a sua essência.
Estamos prestando um desserviço à sociedade. Não estamos levando informação que provoque a
reflexão e o estímulo à construção de uma sociedade de fato. Estamos enfiando goela abaixo um
produto indigesto, engolido e reproduzido como excremento.
Fica a esperança de assistir a mudança jornalística e social um dia. Tento fazer minha parte em
outras áreas, sempre atento ao perigo de oferecer excrementos. Temos sempre algo muito mais
palatável e saudável a dar.
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