terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Jornalista revela susposto assassinato do deputado Eder Mauro


Réu no STF pelo crime de tortura, o deputado paraense que chama a atenção do Brasil pela 
forma agressiva com que age na "bancada da bala" do Congresso Nacional é conhecido como 
"matador de pobre, no Estado do Pará, onde foi eleito com 250 mil votos.

Por Luiz Gustavo Padrão, no Facebook.
(jornalista e hoje mora no Rio de Janeiro)


Se eu não tiver parado de defecar pela boca, fico feliz por ter parado de oferecer, gratuitamente, meu 
bolo fecal à sociedade.
Após 3 anos de abandono, a lembrança me emocionou de forma paradoxal. O amor que tive pela 
profissão e a decepção que tento esquecer.
Lembro o episódio que me fez perder o tesão pelo jornalismo e se tornar determinante para abandoná-
lo. Julho de 2012, eu retornava à reportagem de TV, depois de um ano e meio afastado. Na primeira 
semana fui cobrir uma reportagem em Benfica, Região Metropolitana de Belém.
Tratava-se da execução de um ajudante de pedreiro, apontado pela "elite" da Polícia Civil paraense 
como suspeito de envolvimento com o tráfico. A população estava revoltada com o assassinato 
(execução sumária) do rapaz e chegou a bloquear parte da BR-316, como forma de protesto.
Cheguei ao local e colhi depoimentos de moradores e parentes da vítima. Todos (unanimidade de 
cerca de 200 moradores) disseram que o rapaz nunca foi envolvido com o tráfico e que foi executado 
por engano e de forma covarde.
Um dos moradores me passou um vídeo que mostrava policiais saindo de dentro do terreno onde 
ocorreu a morte momentos depois da execução. Entre os policiais estava o delegado Eder Mauro, 
chefe do grupo de polícia metropolitana (GPM) e famoso pelo número de traficantes mortos em suas 
operações policiais.
Ele foi apontado pelos moradores como o executor da vítima. Após colher os depoimentos, fui a 
delegacia para ouvir o outro lado, como mandam os melhores e piores manuais de jornalismo. O 
delegado Eder Mauro não quis falar sobre o caso. Escrevi a matéria e fui para TV no início da 
madrugada.
Deixei todas as sugestões de imagens e de construção da matéria para a edição. No dia seguinte, na 
hora do almoço, aguardava a veiculação da reportagem no jornal mais importante da casa. A matéria 
não foi ao ar.
Liguei para chefia de reportagem para perguntar o que tinha acontecido. A chefe de reportagem não 
soube dar uma resposta concreta. Primeiro disse que havia ocorrido um problema com a fita onde 
estavam as imagens brutas. Eu não aceitei a resposta porque sabia que havia deixado a fita em 
perfeitas condições. Na mesma hora fui à TV para saber o que tinha acontecido de fato.
Quando cheguei na redação, a mesma chefe de reportagem disse que a matéria não tinha sido 
aprovada pela direção geral da emissora pelo fato da Polícia ser "nossa parceira" (palavras da direção 
reproduzidas pela chefia).
A "parceria" fez com que a matéria nunca fosse veiculada. Eu recebi inúmeras ligações dos 
moradores, nas quais era chamado de vendido, antiético e parceiro de policial assassino. A história 
do rapaz foi para estática de assassinatos por conflitos armados entre policiais e "traficantes". Eu 
abandonei o jornalismo meses depois, após ser eleito pela direção como um dos premiados com a 
demissão coletiva, promovida em dezembro do mesmo ano. Parei de ler e ver jornais.
Ainda assim, assisti a vitória do mesmo policial envolvido no caso. Não na justiça, mas nas urnas. Se 
tornou "nosso representante" no Congresso Nacional, após ser o candidato mais votado, escolhido 
por mais de 250 mil eleitores. Nós, jornalistas, temos responsabilidade por isso. Nós o colocamos lá. 
Nós que aceitamos aquilo que nos é imposto pela mídia, ou, no caso, que nós impomos por meio da 
mídia.
Acredito, cada vez mais, que a maioria da prática jornalística, no mundo e no Brasil, não está 
exercendo sua função social, abandonando, consciente ou inconscientemente, a sua essência. 
Estamos prestando um desserviço à sociedade. Não estamos levando informação que provoque a 
reflexão e o estímulo à construção de uma sociedade de fato. Estamos enfiando goela abaixo um 
produto indigesto, engolido e reproduzido como excremento.
Fica a esperança de assistir a mudança jornalística e social um dia. Tento fazer minha parte em 
outras áreas, sempre atento ao perigo de oferecer excrementos. Temos sempre algo muito mais 
palatável e saudável a dar.
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