sábado, 14 de novembro de 2015

DE ONDE VEM O ÓDIO QUE ALIMENTA O TERROR ISLÂMICO


A reação dos jornais franceses

O papel do Ocidente na radicalização do islamismo

por : Paulo Nogueira

Diante de uma tragédia como a de ontem em Paris, duas atitudes se impõem.
A primeira é chorar cada morte. Na última contagem, 120 pessoas foram mortas pelos atos conjuntos 
de terrorismo, e dezenas estão feridas, muitas em estado crítico.
A palavra mais comum nos jornais franceses deste sábado é, previsivelmente, horreur, horror.
Derramadas todas as lágrimas, vem a segunda atitude. Tentar compreender como uma violência de 
tal magnitude pôde acontecer.
É um passo essencial para evitar que outros episódios dantescos como o desta sexta em Paris possam 
se repetir.
Mas há, aí, uma extraordinária dificuldade em sair de lugares comuns como a “violência radical” do 
islamismo e dos islâmicos.
Trechos do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos, são citados em apoio dessa tese falaciosa e 
largamente utilizada.
A questão realmente vital é esta: o que leva ao extremismo tantos muçulmanos, sobretudo jovens? 
Por que eles abandonam vidas confortáveis em seus países de origem, abraçam o terror e morrem 
sem hesitar pela causa que julgam justa?
Os líderes ocidentais não fazem este exercício porque a resposta àquelas perguntas é brutalmente 
indigesta para eles.
O terror islâmico nasce do terror ocidental, numa palavra.
Há muitas décadas os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, promovem destruição em 
massa nos países islâmicos.
Querem garantir o petróleo, a que preço for, e fingem que estão naquela região com propósitos 
civilizatórios.
O último grande ato de predação foi a Guerra do Iraque. Sabe-se hoje que as razões alegadas pelos 
americanos e seus aliados britânicos para realizá-la foram mentirosas.
O Iraque de Saddam Hussein simplesmente não tinha as armas de destruição em massa que serviram 
de pretexto para a guerra.
Um levantamento reconhecidamente criterioso calcula em cerca de 120 000 as mortes de civis 
iraquianos. Outras fontes falam em meio milhão.
Quem paga por este crime de guerra chancelado por Bush nos EUA e Tony Blair na Grã Bretanha?
Ninguém.
Você pode imaginar o tipo de reação que ações como a Guerra do Iraque provocam entre os 
sobreviventes da violência ocidental.
Mais recentemente, os drones americanos – os aviões de guerra teleguiados – vem semeando mortes 
em quantidade pavorosa nos países árabes.
Apenas nos anos de Obama, calcula-se que 500 civis tenham sido mortos pelos drones, muitos deles 
crianças e mulheres.
No mesmo dia do drama parisiense, os americanos comemoraram a morte, por um drone, do 
terrorista do Estado Islâmico que se tornou conhecido como Jihadi John. Aparentemente JJ foi quem 
degolou várias pessoas em medonhas execuções filmadas e postadas na internet.
Brutalidade gera brutalidade.
Bin Laden foi o cérebro por trás de uma mudança radical nas retaliações islâmicas. Ele levou a 
guerra para dentro dos países ocidentais. O maior exemplo disso foram os atentados de 11 de 
Setembro.
O que a mídia ocidental quase não noticiou é que Bin Laden virou um ídolo entre os muçulmanos e 
como tal foi chorado ao ser executado pelos americanos.
Os atentados de Paris obedecem à mesma lógica: transportar os combates para a casa dos inimigos.
O que torna esta guerra ainda mais complicada para os ocidentais é que os soldados islâmicos não se 
importam de morrer pela causa. Alguns deles se explodiram ontem em Paris.
Sem refletir profundamente sobre as origens do terror islâmico é impossível que a situação mude.
Obama, quando anunciou a morte de Bin Laden, disse famosamente que o mundo ficara mais seguro.
Os episódios de ontem em Paris mostram quanto Obama se equivocou – lamentavelmente.
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