quinta-feira, 5 de novembro de 2015

CUNHA E A TÁTICA SAMBARILOVE NA CÂMARA


Alvejado por uma chuva de dólares falsos no dia de ontem, o presidente da Câmara dos 
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), já traçou o plano para permanecer à frente do 
Legislativo; ele tentará provar que não mentiu ao negar suas contas na Suíça; no entanto, 
reconhecerá o vínculo com os dólares lá depositados, mas sem dizer que as contas são suas – na 
realidade, elas pertencem a empresas offshore em que ele aparece como beneficiário; Cunha 
dirá ainda que o dinheiro é lícito e se deve ao pagamento de empréstimos feitos a um deputado 
morto; na prática, Cunha se comportará como Armando Volta, personagem do ator David 
Pinheiro na escolinha do professor Raimundo, que imortalizou o bordão sambarilove; será que 
o Congresso engole essa?


As “explicações” de Eduardo Cunha sobre as contas na Suíça, publicadas nos jornais de hoje, são 
dolorosamente ridículas.
Diz a Folha: “O deputado disse aos colegas que foi questionado na CPI se era titular de contas e diz 
que isso ele não é, porque elas foram registradas por empresas que abriu fora do país.”
Tradução: “as contas não eram minhas, meu era só o dinheiro”…
Chegamos a um ponto de mediocridade em que, tivéssemos um parlamento digno de seu papel, os 
deputados se voltariam de costas para seu presidente, para que este fosse obrigado a ver que não tem 
condições morais de dirigir a instituição.
Janio de Freitas, na Folga de hoje, faz um balanço do que, infelizmente, vai decidir o destino de 
Eduardo Cunha á frente do parlamento: as provas judiciais.
O efeito não é o mesmo, porque arrasta. se já não levou, a instituição legislativa para o buraco de 
uma cumplicidade que o veterano observador da política brasileira poderia traduzir num trocadilho 
sobre o velho bordão humorísticco: “É, mas quem não sou?”

Outras contas

Janio de Freitas, na Folha (trechos)


Audácia e astúcia –eis Eduardo Cunha. É ele mesmo, em pessoa, a explicação para a tão difundida 
curiosidade sobre o desfecho do seu caso no Conselho de Ética. Ou, mais ainda, sobre o desempenho 
do próprio naqueles circunstâncias.
Eduardo Cunha já disse que provará não haver mentido à CPI da Petrobras, como alegado por 
proponentes da cassação do seu mandato, com base nas contas suíças do deputado. O mais provável 
argumento mágico que usará é o de que afirmou à CPI não ter contas do exterior. E as contas 
mandadas pelos suíços têm nomes de fantasia, ou “empresariais”, não o seu. Ainda que não se 
desconecte das contas, cujos registros têm sua assinatura, pode contestar o motivo da acusação.
Mas, entre a Procuradoria-Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, é indiferente o que se 
passe no Conselho de Ética. O interesse está, acima das delações verbais, em um levantamento 
contábil do “recebido e a receber” que Fernando Soares, o Baiano, diz ter recebido de Eduardo 
Cunha como cópia, em e-mail, da contabilidade das transações de ambos com terceiros. Esta é tida 
como uma das mais importantes delações e a mais forte referente a Eduardo Cunha.
(…)
Nem toda a importância que as contas ilegais no exterior adquiriram, para a opinião pública e a 
política, foi capaz de fazer a oposição na Câmara tratá-las pela ótica do conveniente ao país. O 
projeto de lei para atrair de volta esse dinheirão, desde que não proveniente de ilicitudes, sofreu 
duplo boicote de deputados, por integrar as medidas propostas pelo governo.
A tentativa de acordo para a pronta votação do projeto, feita por vários ministros e deputados 
governistas, encontrou a oposição com a ideia de protelar a votação e, portanto, a lei e o retorno do 
dinheiro. A alternativa ficou clara: a disputa a todo risco.
O relator do projeto, Manoel Júnior, paraibano do PMDB, incluiu variadas formas de proteção a 
criminosos financeiros. Até a importação sem pagamento dos impostos devidos, que em português 
razoável é o velho contrabando, entrou no projeto. Aliás, como contrabando de Manoel Júnior.
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