“Chega de notícias ruins”, escreveu Sidney Rezende antes de ser demitido
por : Kiko Nogueira
É certo que a Globo News está realizado o que se chama eufemisticamente de “reestruturação” —
aka, demitindo. No mês passado, foi o apresentador Eduardo Grillo, que trabalhava no canal desde o
início, em 1996.
Agora chegou a vez de Sidney Rezende, que integrava o estafe há 18 anos. “Ao dar a notícia de que
Agora chegou a vez de Sidney Rezende, que integrava o estafe há 18 anos. “Ao dar a notícia de que
o contrato não seria renovado, Ali Kamel, diretor de jornalismo e esporte, fez questão de enaltecer
para Sidney Rezende a sua qualidade profissional e o excelente desempenho dele nos muitos anos
que trabalhou para a TV Globo”, diz um comunicado oficial publicado no dia 13 (sexta).
Também é certo que a última coluna que Rezende escreveu em seu blog, datada de 12 de novembro,
é intitulada “Chega de Notícias Ruins”. Poderia ser endereçada a praticamente todo o time de
articulistas da Globo.
Ei-la:
Em todos os lugares que compareço para realizar minhas palestras, eu sou questionado: “Por que
Em todos os lugares que compareço para realizar minhas palestras, eu sou questionado: “Por que
vocês da imprensa só dão ‘notícia ruim’?”
O questionamento por si só, tantas vezes repetido, e em lugares tão diferentes no território
O questionamento por si só, tantas vezes repetido, e em lugares tão diferentes no território
nacional, já deveria ser motivo de profunda reflexão por nossa categoria. Não serve a resposta
padrão de que “é o que temos para hoje”. Não é verdade. Há cinismo no jornalismo, também.
Embora achemos que isto só exista na profissão dos outros.
Os médicos se acham deuses. Nós temos certeza!
Há uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e economia. A obsessão em ver
Embora achemos que isto só exista na profissão dos outros.
Os médicos se acham deuses. Nós temos certeza!
Há uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e economia. A obsessão em ver
no Governo o demônio, a materialização do mal, ou o porto da incompetência, está sufocando a
sociedade e engessando o setor produtivo.
O “ministro” Delfim Netto, um dos mais bem humorados frasistas do Brasil, disse há poucas
O “ministro” Delfim Netto, um dos mais bem humorados frasistas do Brasil, disse há poucas
semanas que todos estamos tão focados em sermos “líquidos” que acabaremos “morrendo
afogados”. Ele está certo.
Outro dia, Delfim estava com o braço na tipoia e eu perguntei: “o que houve?”. Ele respondeu:
Outro dia, Delfim estava com o braço na tipoia e eu perguntei: “o que houve?”. Ele respondeu:
“está cada vez mais difícil defender o governo”.
Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da presidente Dilma Rousseff é o
Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da presidente Dilma Rousseff é o
único caminho possível para a redenção nacional que se esquece do nosso dever principal, que é
noticiar o fato, perseguir a verdade, ser fiel ao ocorrido e refletir sobre o real e não sobre o que
pode vir a ser o nosso desejo interior. Essa turma tem suas neuroses loucas e querem nos
enlouquecer também.
O Governo acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na dimensão precisa. Da mesma
O Governo acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na dimensão precisa. Da mesma
forma que os acertos também devem ser publicados. E não são. Eles são escondidos. Para nós,
jornalistas, não nos cabe juízo de valor do que seria o certo no cumprimento do dever.Se
pesquisarmos a quantidade de boçalidades escritas por jornalistas e “soluções” que quando
pesquisarmos a quantidade de boçalidades escritas por jornalistas e “soluções” que quando
adotadas deram errado daria para construir um monumento maior do que as pirâmides do Egito.
Nós erramos. E não é pouco. Erramos muito.
Nós erramos. E não é pouco. Erramos muito.
Reconheço a importância dos comentaristas. Tudo bem que escrevam e digam o que pensam. Mas
nem por isso devem cultivar a “má vontade” e o “ódio” como princípio do seu trabalho. Tem um
grupo grande que, para ser aceito, simplesmente se inscreve na “igrejinha”, ganha carteirinha da
banda de música e passa a rezar na mesma cartilha. Todos iguaizinhos.Certa vez, um homem
público disse sobre a imprensa: “será que não tem uma noticiazinha de
público disse sobre a imprensa: “será que não tem uma noticiazinha de
nada que seja boa? Será que ninguém neste país fez nada de bom hoje?”. Se depender da
imprensa brasileira, está muito difícil achar algo positivo. A má vontade reina na pátria.
É hora de mudar. O povo já percebeu que esta “nossa vibe” é só nossa e das forças que ganham
dinheiro e querem mais poder no Brasil. Não temos compromisso com o governo anterior, com
este e nem com o próximo. Temos responsabilidade diante da nação.
Nós devemos defender princípios permanentes e não transitórios.
Para não perder viagem: por que a gente não dá também notícias boas?
Taí uma boa pergunta, cuja resposta Rezende sabe.
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