segunda-feira, 16 de novembro de 2015

A SINCERIDADE FATAL DE UM APRESENTADOR DA GLOBO


“Chega de notícias ruins”, escreveu Sidney Rezende antes de ser demitido

por : Kiko Nogueira

É certo que a Globo News está realizado o que se chama eufemisticamente de “reestruturação” —
aka, demitindo. No mês passado, foi o apresentador Eduardo Grillo, que trabalhava no canal desde o 
início, em 1996.
Agora chegou a vez de Sidney Rezende, que integrava o estafe há 18 anos. “Ao dar a notícia de que 
o contrato não seria renovado, Ali Kamel, diretor de jornalismo e esporte, fez questão de enaltecer 
para Sidney Rezende a sua qualidade profissional e o excelente desempenho dele nos muitos anos 
que trabalhou para a TV Globo”, diz um comunicado oficial publicado no dia 13 (sexta).
Também é certo que a última coluna que Rezende escreveu em seu blog, datada de 12 de novembro, 
é intitulada “Chega de Notícias Ruins”. Poderia ser endereçada a praticamente todo o time de 
articulistas da Globo.
Ei-la:

Em todos os lugares que compareço para realizar minhas palestras, eu sou questionado: “Por que 
vocês da imprensa só dão ‘notícia ruim’?”
O questionamento por si só, tantas vezes repetido, e em lugares tão diferentes no território 
nacional, já deveria ser motivo de profunda reflexão por nossa categoria. Não serve a resposta 
padrão de que “é o que temos para hoje”. Não é verdade. Há cinismo no jornalismo, também. 
Embora achemos que isto só exista na profissão dos outros.
Os médicos se acham deuses. Nós temos certeza!
Há uma má vontade dos colegas que se especializaram em política e economia. A obsessão em ver 
no Governo o demônio, a materialização do mal, ou o porto da incompetência, está sufocando a 
sociedade e engessando o setor produtivo.
O “ministro” Delfim Netto, um dos mais bem humorados frasistas do Brasil, disse há poucas 
semanas que todos estamos tão focados em sermos “líquidos” que acabaremos “morrendo 
afogados”. Ele está certo.
Outro dia, Delfim estava com o braço na tipoia e eu perguntei: “o que houve?”. Ele respondeu: 
“está cada vez mais difícil defender o governo”.
Uma trupe de jornalistas parece tão certa de que o impedimento da presidente Dilma Rousseff é o 
único caminho possível para a redenção nacional que se esquece do nosso dever principal, que é 
noticiar o fato, perseguir a verdade, ser fiel ao ocorrido e refletir sobre o real e não sobre o que 
pode vir a ser o nosso desejo interior. Essa turma tem suas neuroses loucas e querem nos 
enlouquecer também.
O Governo acumula trapalhadas e elas precisam ser noticiadas na dimensão precisa. Da mesma 
forma que os acertos também devem ser publicados. E não são. Eles são escondidos. Para nós, 
jornalistas, não nos cabe juízo de valor do que seria o certo no cumprimento do dever.Se 
pesquisarmos a quantidade de boçalidades escritas por jornalistas e “soluções” que quando 
adotadas deram errado daria para construir um monumento maior do que as pirâmides do Egito. 
Nós erramos. E não é pouco. Erramos muito.
Reconheço a importância dos comentaristas. Tudo bem que escrevam e digam o que pensam. Mas 
nem por isso devem cultivar a “má vontade” e o “ódio” como princípio do seu trabalho. Tem um 
grupo grande que, para ser aceito, simplesmente se inscreve na “igrejinha”, ganha carteirinha da 
banda de música e passa a rezar na mesma cartilha. Todos iguaizinhos.Certa vez, um homem 
público disse sobre a imprensa: “será que não tem uma noticiazinha de 
nada que seja boa? Será que ninguém neste país fez nada de bom hoje?”. Se depender da 
imprensa brasileira, está muito difícil achar algo positivo. A má vontade reina na pátria.
É hora de mudar. O povo já percebeu que esta “nossa vibe” é só nossa e das forças que ganham 
dinheiro e querem mais poder no Brasil. Não temos compromisso com o governo anterior, com 
este e nem com o próximo. Temos responsabilidade diante da nação.
Nós devemos defender princípios permanentes e não transitórios.
Para não perder viagem: por que a gente não dá também notícias boas?

Taí uma boa pergunta, cuja resposta Rezende sabe.
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