quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Luís Inácio, o último que ficou, pai dos que vão nascer




A esquerda de punhos de renda é tão avessa aos líderes populares quanto a direita obtusa.
Porque o líder de massas não é nada em si, embora seja um milagre do processo social.
Ele dá corpo, cara, voz, representação humana aos sonhos e aos desejos de milhões, anulando sua 
própria existência para que sobreviva esta essência.
Não é uma teoria, é uma prática.
Portanto, falha, capenga, mambembe, defeituosa, cheia de contradições e defeitos.
A esquerda que se vê como tutora e guia do povo fica desconcertada.
Não está nos manuais. Não leu Gramsci. Nem sabe quem é Weber. Concilia com a burguesia sempre 
que pode. Faz amigos de direita, empresários. Vive cercado de áulicos, mas ouve mais os que sabe 
terem opiniões próprias, desde que as dêem discretamente.
Vive quase isolado, porque sua condição de líder o aprisiona: não pode descer à padaria ou ao 
botequim, como um de nós, ou levar o neto ao parquinho de diversões.
É seu maior sacrifício, porque não pode ser macio com os seus como deve ser com os outros, até 
com muitos que de seus nada têm.
É uma preciosidade porque, contra a sua vontade, percebeu-se um fio de nossa história e vive a 
obsessão do dever de, sendo último de uma espécie, a qual o tempo foi devorando, deixar quem o 
suceda.
Porque, no fundo, gostaria de estar vivendo sem os apertos da política convencional os anos da etapa 
final da vida.
Mas é justamente por ser tudo o que é e, mais anda, por representar tudo o que representa que ele não 
terá paz.
Então, resta apenas voltar a ser o que sempre foi e nunca deixará de ser, mesmo quando não estiver 
por aqui, como todos um dia não estaremos.
Lula já não é mais, faz tempo, Luís Inácio da Silva.
É Lula, a face da esperança que o povo brasileiro viu e não esquece.
E que, como já aconteceu na História, aos que pensam que o derrotaram há de responder com a 
vitória.

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