quarta-feira, 21 de outubro de 2015

BRINCANDO DE IMPITIM




O Ministro Marco Aurélio de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal) está longe de ser um 
petista. Dia desses, chegou a fazer um apelo pela renúncia da presidente Dilma Rousseff e do vice-
presidente Michel Temer.
Mas tem um profundo respeito pela profissão que abraçou. Sabe que a força do Judiciário está no seu 
legalismo, no estrito respeito às leis e procedimentos. E um colega que manipula procedimentos e 
interpretações conspurca o Judiciário e, por tabela, a imagem de todos os operadores de direito.
Daí sua indignação ao tomar conhecimento que seu colega e presidente do TSE (Tribunal Superior 
Eleitoral) Dias Toffoli havia declarado que iria consultar PT e PSDB para saber se haveria alguma 
resistência à indicação de Gilmar Mendes para a relatoria do processo que julga as contas de Dilma.
Para Mello, “a iniciativa de Toffoli é inimaginável”. Em entrevista ao programa Roda Viva, 
manifestou sua vontade de ligar para Gilmar Mendes, para saber se houve mesmo essa 
"extravagância" por parte do presidente do TSE. E recomendou a Toffoli que “desautorize” as 
informações publicadas.
Por lei, só se aceitam juízes indicados por sorteio.
***
Toffoli e Gilmar não são os únicos a brincar com a democracia brasileira. A leviandade com que está 
sendo tratado o tema do impeachment mereceu uma condenação severa de André Ramos Tavares, 
professor da Faculdade de Direito do Largo São Francisco e Procurador Regional da República. “A 
abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) sem a prova de crime de 
responsabilidade cometido no exercício do mandato vai significar a vitória do oportunismo de 
plantão, um flagelo à Democracia brasileira e um escárnio à Constituição”.
***
Nos últimos dias, alguns advogados paulistas passaram a defender a tese de que crises de 
governabilidade são suficientes para fundamentar pedidos de impeachment.
É o caminho mais fácil para transformar o Brasil em uma república das bananas. Basta uma crise 
econômica, um presidente que perca provisoriamente o controle da base política, para grupos de 
mídia montarem uma campanha de escândalos e qualquer Fiat Elba servir de álibi para o 
impeachment.
***
Admitir a tese do impeachment por perda de governabilidade, seria conferir aos grupos de mídia – e 
aos parlamentares carcará – o poder supremo sobre as instituições.
São esses brucutus do direito que, na Venezuela, acabaram legitimando a atuação de Hugo Chavez e 
sucessores. O poder excessivo de grupos de mídia levou à queda de um presidente liberal, Carlos 
Andres Perez, ao enfraquecimento de outro, social-democrata Rafael Caldera. Quando Chaves 
assumiu, uma mídia viciada e irresponsável ajudou a conferir legitimidade ao seu governo, ao 
pretender impor a mesma mão pesada que abateu seus antecessores e ter encontrado a reação..
O que pretendem esses oportunistas do direito? Provar que, no Brasil, só se consegue 
governabilidade com regimes ditatoriais?
***
Dilma cometeu todos os erros políticos e econômicos e é capaz que cometa mais alguns. Mas como 
responsabilizar um governo que há quase um ano enfrenta diuturnamente o terceiro turno?A questão 
do impeachment não é uma mera disputa entre oposição e governo. É a diferença entre uma 
democracia saudável e uma república bananeira.
__________________________________________________

Nenhum comentário: