terça-feira, 13 de outubro de 2015

Aparece o áudio da escuta da PF na cela de Alberto Youssef


O aparelho instalado na cela de Alberto Youssef gravou mais de 100 horas de conversas. 
história da “escuta velha e desativada” com que tentou se encobrir a descoberta de um 
equipamento de transmissão na cela de Alberto Yousseff, 20 dias depois de o doleiro ser preso 
pela Polícia Federal, em 17 de março passado desabou ruidosamente, com efeitos imprevisíveis 
sobre a Operação Lava-Jato, como revela Marcelo Auler. Mais de 100 horas de gravação ilegal 
dos seus diálogos com visitantes – inclusive seus advogados ou outros presos – há a informação 
de que Paulo Roberto Costa foi colocado na mesma cela – estão sendo sendo tratadas por 
peritos federais para melhorar a qualidade do áudio, desmontando completamento o que vinha 
sendo sustentado pelos delegados e – pior – pelosprocuradores da Operação Lava Jato.
Agora, toda a operação está sob risco, caso se considere que a investigação começa por 
informações obtidas de forma ilegal, uma vez que no seu primeiro depoimento, dia 21 de 
março, Youssef tinha se mantido em silêncio. No dia seguinte, Paulo Roberto Costa, preso no 
dia 20, foi levado para a mesma carceragem da PF. Leia a história, exclusiva, revelada por 
Marcelo Auler, que já chegou aos deputados da CPI da Câmara.

Marcelo Auler

A notícia ainda vem sendo guardada a sete chaves pela direção geral do Departamento de Polícia Federal, mas vazamentos já ocorreram confirmando que a perícia técnica do DPF recuperou mais de cem horas de áudios que foram feitos, ilegalmente, dentro da cela do doleiro Alberto Youssef, entre março de 2014, data em que ele foi preso e abril do mesmo ano, quando localizou o grampo no forro do teto. Tudo na carceragem da Superintendência do Departamento de Polícia Federal do Paraná (SR/DPF/PR).
A recuperação destes áudios – cujo som não tem boa qualidade, mas os peritos estão tentando melhorar através de modernos equipamentos -, já chegou, extraoficialmente, ao conhecimento do deputado Aluísio Mendes Guimarães (PSDC-MA), um dos parlamentares mais ativos na CPI da Petrobrás, desde a terça-feira (06/10).
Ao confirmar a informação para o blog, o deputado não quis avaliar o que esta descoberta pode trazer para a Operação Lava Jato:
Aluísio Mendes Guimarães: responsáveis devem responder legalmente Foto: Zeca Ribeiro/Câmara
Aluísio Mendes Guimarães: responsáveis devem responder legalmente
Foto: Zeca Ribeiro/Câmara
 
 “Não farei juízo de valores sobre esta descoberta e as suas consequências. Só acho que quem não agiu corretamente no início desta Operação – que é importante no combate à corrupção – deve responder legalmente por isso. O efeito que isto terá em toda a Operação, cabe ao Judiciário avaliar. Não tenho elementos para fazê-lo”, comentou.
Segundo ele, a perícia resgatou a integralidade dos áudios nos computadores que o agente Dalmey Fernando Werlang identificou como sendo onde as gravações estavam guardadas. Conforme o próprio Dalmey admitiu na CPI da Petrobras, em julho passado – quando assumiu que colocou o grampo na cela – ele localizou no servidor do Núcleo de Inteligência Policial (NIP) da SR/DPF/PR copia dos áudios que ele captou na cela do doleiro.
Receoso de que estes áudios fossem apagados, ele e o delegado Mario Fanton – lotado em Bauru que estava em Curitiba fazendo investigações sobre um possível dossiê contrário à Operação – comunicaram o fato a Coordenadoria de Assuntos Internos (Coain) da Corregedoria de Polícia em Brasília que tratou de confiscar os aparelhos para a realização da perícia técnica.
Independentemente da forma como esta descoberta afetará todo o trabalho realizado de combate ao maior esquema de corrupção que já se teve notícia – o que provoca aplausos nacionais -, os delegados que ocupam cargos de chefia na Superintendência devem sérias explicações.
Esses delegados, a começar pelo superintendente, Rosalvo Ferreira Franco, insistiam que não existia grampo para ouvir o doleiro. O aparelho descoberto no final de março – que só foi entregue em abril –, segundo eles, estava na carceragem desde 2008, desativado, por conta de uma investigação em tono do traficante Fernandinho Beira-Mar.
Para o deputado, qualquer trecho do grampo que vier a ser divulgado, jogará por terra abaixo as argumentações dos delegados da Operação Lava Jato que o aparelho estava desativado e era da época do Beira-Mar. “É mais um elemento a derrubar a tese das chefias das superintendência”. Segundo a Diretoria de Inteligência Policial (DIP) em Brasília, o equipamento encontrado só foi encaminhado à Curitiba meses depois de Beira-Mar ter deixado aquela custódia.
Como este blog anunciou no dia 20 de agosto, a Corregedoria do Departamento da Polícia Federal já havia comunicado oficialmente à CPI da Petrobras que o segundo grampo encontrado dentro da superintendência – na escadaria do prédio, local que os servidores usam como fumódromo – também funcionava e não tinha autorização judicial.
Delegados  Rosalvo (alto, esq.- foto: MPRS), )Igor (alto,centro - reprodução),. Daniele (Alto, dir. - reprodução), Moscardi (baixo, esq. Foto Altino Machado)() Marcio Anselmo (baixo, centro - reprodução) e  José Washington (foto oliciapenaldealagoas.blogspot.com.br)
Delegados Rosalvo (alto, esq.- foto: MPRS), )Igor (alto, centro – reprodução),. Daniele (alto, dir. – reprodução), Moscardi (baixo, esq. Foto Altino Machado), Marcio Anselmo (baixo, centro – reprodução) e José Washington (foto -policiapenaldealagoas.blogspot.com.br)

Segundo Dalmey , o grampo da cela de Youssef foi colocado atendendo a determinação de três delegados – o superintendente Rosalvo, o chefe da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado (DRCor), delegado Igor Romário de Paula, e o principal delegado da Lava Jato, Marcio Anselmo Adriano. Já o aparelho do fumódromo foi instalado por determinação da delegada Daniele Gossenheimer Rodrigues, que era a sua chefe no Núcleo de Inteligência Policial (NIP). A ordem de Daniele foi respaldada, à época, pelo delegado José Washington Luiz Santos, Diretor Executivo, que substituía Rosalvo nas férias deste. Igor e Daniele são casados.
Outro delegado que não ficará bem é Mauríco Moscardi Grillo (chefe do Grupo de Investigações Sensíveis – GISE) que foi quem presidiu a sindicância 04/2014 instaurada para apurar se o grampo encontrado na cela estava funcionando. Seu trabalho, segundo críticas do próprio Dalmey, do delegado Fanton e de outros policiais foi todo dirigido para concluir que o aparelho estava desativado e não tinha condições de funcionar. Ele nem mesmo providenciou uma perícia técnica no equipamento.
Também o Ministério Público Federal do Paraná não sairá bem na fita. Afinal, uma de suas funções prioritárias é zelar pelo cumprimento das leis e, neste caso, ele, assim como o próprio juiz Sérgio Moro, aceitaram a tese do grampo desativado, sem contestação.
Outro que terá que se pronunciar, saindo do seu silêncio obsequioso, será o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que até agora parece se manter afastado de tudo quanto é denuncia que surge contra os federais.
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