Nove jogos, nenhum gol; nove meses, só retrocessos econômicos.
POR FERNANDO BRITO
Mesmo sendo imprópria, a comparação do desempenho de Joaquim Levy no Ministério da Fazenda guarda certa semelhança com o craque Ronaldinho em sua reaparição no Fluminense.
Antes de tudo, não queiram mal a estes comentários, porque o escriba é tricolor doente desde que guarda de cor na memória o esquadrão de 69/70: Félix, Oliveira, Galhardo, Assis e Marco Antônio; Denílson, Samarone e Lulinha; Wilton, Flávio e Lula, com entradas constantes de Cláudio e Gilson Nunes.
Não se diga que Ronaldinho não deu certo porque lhe faltou apoio, assim como era esperado que os adversários lhe criassem dificuldades, mesmo com todas as cortesias de tapinhas nas costas e pedidos de camisa. Adversário faz isso, embora os de hoje estejam na base das botinadas.
Da mesma forma, não se diga que faltou apoio dos técnicos do Flu, porque não apenas o escalaram como levaram o time a centralizar nele as jogadas.
Levy teve tanto apoio de Dilma que a fez perder muito politicamente, com a adoção de políticas que contrariavam seu discurso e até, volta e meia, suas opiniões mais profundas, deixando a sua torcida irritada.
Da mesma forma que Ronaldinho, também teve apoio dos companheiros de Ministério: Nelson Barbosa recolheu-se como pôde e os demais, mesmo lutando, como era de se esperar, para preservar a “posse de bola” dos seus orçamentos sempre colaboraram com ele.
Que o time tricolor não estava bem, todo mundo sabe. Não era culpa de Ronaldinho. Mas o esquema de jogo a que a presença dele obrigava não rendia, não dava certo.
Usou-se a terapia de choque com os preços públicos que, é verdade, precisavam ser realinhados. Reforçou-se a defesa com os cortes orçamentários, que recuaram todo o time até a última linha, quase. Fez-se o governo irritar sua torcida, jogando sempre para trás.
Tudo aceitável, a hora é difícil. Estamos perdendo. Mas não se avançou sobre o adversário, não se mostrou força no contra-ataque, mesmo que eventual. Afunilou-se o jogo no centro, com um imposto “neutro” como a CPMF – já cheio de uma carga de “maldição política” que o fez ser rejeitado quando o adversário estava mais fraco, em 2007, e havia a ressalva, adotada aos 45 minutos do segundo tempo, de que ela não incidiria sobre a baixa renda e parte da classe média.
Levy apostou que um mergulho profundo e rápido produziria uma volta triunfante, com uma grande respirada de alívio.
Não duvido que Ronaldinho tenha acreditado que suas cobranças de falta antológicas e seus passes precisos pudessem suprir, também, o volume de jogo que não era capaz de estimular.
Ontem, o craque divulgou um comunicado, em termos gentis, dizendo que se “orgulhou (em) vestir esta camisa” e que não estará mais “em campo mas estarei na torcida pelo sucesso deste grande clube”.
Já a turma de Levy vem fazendo chegar aos jornais a história de que ele está desconfortável, insatisfeito, preparando sua saída. A conversinha rola há tempos, sem desmentido inequívoco e com toda a aparência de vitimização.
Hoje, tem, de novo, uma “pegadinha na Folha: “Aliados de Dilma temem que Levy esteja forçando saída do cargo”
É evidente que Levy joga com seu “apoio do mercado”, embora “o mercado” não lhe dê apoio algum, mas certamente se servirá de sua saída – exceto se para seu lugar for escolhido um “tanque de guerra” – para seguir na desestabilização do governo Dilma. Afinal, o que eles querem mesmo é a presidência do clube…
Não é objetivo deste texto leve propor “esquemas táticos” infalíveis, nem deixar de reconhecer que o craque gaúcho sabe muito mais de futebol do que eu, mas me fica melhor impressão de Ronaldinho que de Levy, mesmo que ele tenha feito o Flu correr o risco de passar de um dos líderes do campeonato a um time até ameaçado de rebaixamento, do qual parece estar escapando com a “prata da casa”.
Ah, a propósito: sem esquerdismo, até porque Ronaldinho é destro e ninguém deixou de vibrar quando, de direita, ele fez aquele golaço no jogo contra a Inglaterra, em 2002.
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