segunda-feira, 28 de setembro de 2015

FHC é a Dilma do neoliberalismo



Luis Nassif

Quando terminaram as eleições de 2002, o candidato derrotado José Serra queixava-se a amigos da suspeita de ter sido boicotado por Fernando Henrique Cardoso. Sua hipótese é que FHC temia um governo bem sucedido, que pudesse realçar ainda mais o desastre do seu governo. E por isso apostara em Lula.
As futuras gestões de Serra na Prefeitura e no governo de São Paulo mostraram que, se havia algum temor da parte de FHC, foi evidentemente exagerado.
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Desde que deixou o governo, esta tem sido a eterna revanche de FHC. Seu sonho seria o país submergir ante um governo completamente desastroso que permitisse, por via da comparação, melhorar a avaliação sobre o seu governo.
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Nesse sentido, o governo Dilma Rousseff veio a calhar: ela está para o desenvolvimentismo como FHC esteve para o chamado neoliberalismo. Ambos comprometeram seus respectivos projetos políticos.
FHC impediu a continuidade do seu modelo econômico, os tais 20 anos de predomínio tucano, conforme imaginava Sérgio Motta, devido à completa ignorância sobre os diversos aspectos da constituição do tecido econômico e social do país.
Dilma comprometeu o modelo desenvolvimentista devido ao uso exagerado das intervenções no domínio econômico.
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FHC só via o mercado e se escondia na presunção de que se deixasse tudo solto, a mão invisível do mercado tudo resolveria.
Dilma só entendia o intervencionismo e se escudava na convicção de que manietando todas as ações de mercado, a verdade prevaleceria.
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FHC escondeu quatro anos de mediocridade controlando o câmbio até o limite da quebra do país. Dilma administrou seus dois últimos anos controlando tarifas até limite da irresponsabilidade.
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Há uma diferença abissal entre ambos: ao contrário de Dilma, FHC nunca demonstrou a menor vontade em transformar a realidade, em melhorar o país, em desenhar o futuro, mesmo sendo de uma família de militares que faz parte da história do país.
Da formação militar familiar não apreendeu os conceitos de planejamento estratégico, mas desenvolveu o estilo das decisões fechadas. Ou melhor, das não-decisões privadas, já que seu governo foi caracterizado pela inapetência de gestão e pobreza de participação.
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De seu lado, a formação de guerrilha de Dilma moldou seu espírito militar, impermeável a qualquer forma de participação externa, de empresários, trabalhadores ou movimentos sociais.
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FHC tornou-se um símbolo do mercado apenas pela necessidade de um contraponto ao símbolo Lula. Sua obra mais lembrada, a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) só saiu por imposição do FMI, quando acudiu uma economia em frangalhos.
Sem o creme de leite da propaganda política, há uma estabilidade da economia garantida pelo plano Real - e que seria levada adiante com FHC ou Itamar Franco. E, depois disso, quatro anos de apreciação irresponsável do câmbio e de taxas de juros irresponsavelmente elevadas, que elevaram a dívida pública de menos de 20% para mais de 50% do PIB , mesmo com toda a privatização e com a remonetização - desastre de tais dimensões que torna quase irrelevante o congelamento de tarifas da era Dilma.
Com todo seu esforço, o FHC que ficará para a história será o do apagão e o da desmoralização das políticas de desregulação do Estado, assim como Dilma será reconhecida como a presidente que desmoralizou as teses desenvolvimentistas na economia.
Mesmo com todo esforço, Dilma jamais conseguirá superar FHC no quesito irresponsabilidade econômica.
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