sábado, 26 de setembro de 2015

A LAVA JATO TEM LADO (TUCANO)



Luis Nassif

Há um grande mérito na Lava Jato e uma grande interrogação.
O mérito foi o de ter, pela primeira vez, investigado uma das fontes centrais históricas do poder 
político brasileiro: as grandes empreiteiras de obras públicas.
A dúvida é o filtro político que impôs às investigações.
Para tentar entender:
1. A Lava Jato pretendia manter sob suas asas todos os inquéritos resultantes das delações 
negociadas até agora.
2. Há personagens centrais na Lava Jato: do lado dos beneficiários, gerentes e diretores da Petrobras 
e operadores do PT e do PMDB. Do lado dos pagadores, as empreiteiras.
3. A Lava Jato derivou para o setor elétrico, apurando os desvios da Eletronuclear.
4. Ora, o que Petrobras e Eletrobras têm em comum, para permitir à Lava Jato avançar sobre o setor 
elétrico? As mesmas empreiteiras.
O ponto em comum que unifica tudo, portanto, são as empreiteiras, seu modo de operar, seus 
subornos e financiamentos de campanha.
Sendo assim, qual a razão da Lava Jato ter deixado de fora governos tucanos?
A maior contribuição da UTC foi para a campanha de Aécio Neves. A grande obra da UTC em 
Minas foi o Centro Administrativo. Em São Paulo, as mesmas empreiteiras participaram de obras do 
Rodoanel e das parcerias para administrar as estradas paulistas.
No entanto, nenhum dos bravos delegados e procuradores, o imbatível juiz Sergio Moro tiveram a 
curiosidade de perguntar aos delatores sobre o financiamento à campanha de Aécio e para políticos 
paulistas.
Não há álibi técnico ou jurídico que possa justificar a desatenção do grupo em relação aos malfeitos 
dos réus com governos tucanos.
Na fase das investigações, especialmente ao colher os depoimentos dos réus e delatores, todos os 
temas relacionados às suspeitas de suborno por parte das empreiteiras são relevantes. Se surgirem 
indícios de cometimento de crimes em outras esferas, encaminha-se a denúncia para o STF (Supremo 
Tribunal Federal) (se for de réu com prerrogativa de foro) que decidirá se cabe um novo inquérito ou 
se a investigação será no bojo do mesmo.
Se a intenção é passar o país a limpo, tendo ao seu dispor pessoas dispostas a delatar, qual a razão da 
Lava Jato não ter aberto o leque para todos os partidos? A desculpa de não perder o foco não bate. Se 
não surgir outra Lava Jato, os segredos dos doleiros e delatores morrerão com eles, debaixo do nariz 
da tropa de 360 procuradores e técnicos que o MPF colocou à disposição.
Por tudo isso, pelo fato do Procurador Geral da República Rodrigo Janot ter poupado Aécio Neves 
das denúncias do doleiro Alberto Yousseff sobre Furnas, de jamais ter tirado da gaveta o inquérito 
sobre a conta no paraíso fiscal de Liechtenstein, pelo fato de procuradores e delegados jamais terem 
se preocupado com a questão óbvia de investigar outros partidos políticos, não há a menor dúvida de 
que a Lava Jato tem lado. O mesmo lado de Gilmar Mendes.
Os bravos procuradores sequer se preocupam em justificar essa seletividade, como se o assunto não 
existisse.
Mas há um cadáver no meio da sala de jantar. E não haverá como escondê-lo para sempre.
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