quarta-feira, 8 de julho de 2015

Só há um risco em política, perder sua base, seu povo



Por Renato Rovai 

Há exceções, como em tudo na vida, mas os golpes não acontecem por acaso e nem de uma hora para outra. Necessitam de terreno fértil.
E esse terreno vai sendo fertilizado aos poucos.
Quando tudo parece ir bem, é que o diabo trabalha.
Durante um imenso período setores mais conservadores e a mídia tradicional batiam doído todos os dias no PT, em Lula, na Dilma, nas pautas progressistas, nas feministas e em tudo que parecesse ser de esquerda.
Pastores do ódio, políticos canalhas, sites fascistas e jornalistas a soldo do esquema montaram tocaia ainda quando tudo parecia estar tranquilo.
Quando aquilo tudo parecia só fazer parte do processo democrático. E não uma tentativa clara de derrotá-lo.
O polvo foi crescendo e ampliando tentáculos.
Para o Judiciário, as polícias todas, a classe médica que se emputeceu com o Mais Médicos, os setores médios dos centros urbanos e lideranças populares. Sim, a tese de que é preciso mudar tudo chegou no povão.
Na eleição do ano passado, a vitória de Dilma foi arrancada a fórceps.
E principalmente porque Aécio falava que tinha que mudar tudo. E de qualquer jeito.
E foi extremamente inábil ao chamá-la de leviana por várias vezes. Criando uma fenda entre ele e o eleitorado feminino popular.
Mas voltando à fertilidade do terreno, enquanto o monstro ia sendo alimentado, o governo alimentava os golpistas. Tirou a Globo da bancarrota em 2003, via BNDES, e depois lhe deu 6,2 bilhões de publicidade. Mais do que a Grécia deixou de pagar ao FMI.
E pra quê? Pra apanhar, para que todas as teses progressistas fossem massacradas em todos os veículos. Pra que o debate democrático não existisse. Para que um único lado pudesse falar.
Mesmo assim e com tudo isso, não há nada perdido.
Quem está no governo, governa. Não tem que ficar de chororô.
E também não tem que ficar dizendo que não vai cair.
Tem que fazer acontecer.
E parar de fazer o que disse que não ia fazer.
Parar de mentir e de sacanear a população que confiou no que ouviu.
E parar de achar que fazer política é administrar planilhas.
A Grécia deu um excelente exemplo disso.
Enquanto o grande objetivo do governo Dilma for não perder o investment grade, o risco de ser derrotado e golpeado será iminente.
Porque a economia não deve ditar as ações políticas.
Tem que ser o contrário.
Só há um risco em política, perder sua base, seu povo.
O resto faz parte do jogo.
______________________________________________

Nenhum comentário: