sábado, 4 de julho de 2015

Quem soltou os bichos e o medo de enfrentá-los


"Tá olhando por que? Eu não tenho nada a ver com isso!"

Por: Fernando Brito

Quando li a matéria sobre as ofensas racistas recebidas pela apresentadora do tempo da Globo Maria Júlia Coutinho, lembrei-me de outro jornalista, o velho companheiro Carlos Alberto de Oliveira, o Caó da lei que há 26 anos leva seu nome, de quanto avançamos e de quanto estamos retrocedendo em matéria de ódio, racial, entre outros.
Não é que o preconceito, a brutalidade, a intolerância tenham deixado de existir nestas quase três décadas: apenas tornaram-se vergonhosas e, sendo vergonhosas, encolheram-se e se reproduziam muito pouco, até que rebrotaram com o apavorante vigor de cogumelos venenosos.
Um dia, quando se escrever, distantes, a história deste país, estranhamente o marco temporal do renascimento desta onda de racismo, de preconceito, do “direito” de afirmar por quaisquer palavras e atos, não importa o que eles firam a alguém ou ao convívio de todos, estará bem assinalado nas “jornadas de junho”, tão idolatradas por uma esquerda que não percebeu que estava, em sua inorganicidade e radicalismo vazio, libertando forças sombrias, que não ousavam mostrar a cara abertamente fazia muito tempo.
De uma hora para outra, “descobriram” que o nosso país de carências acumuladas em meio milênio era, de uma hora para outra, “uma merda” e deveria deixar de sê-lo num estalar de dedos, quem sabe, talvez, com o algum dinheiro que se economizasse não fazendo uma Copa de Futebol…



A direita deitou e rolou, com as moças bem vestidas portanto seus cartazes em defesa da saúde “padrão Fifa”, da escola “padrão Fifa” e dos 20 centavos do ônibus que talvez não tome nunca.
Deu-se uma cara “boazinha” aos grupos que, agora, destilam ódio, agressões, discriminação.
Quando aceitaram o “blacbloquismo” aceitaram a perda de limites que leva, hoje, a agressões como esta, os adesivos obscenos com a presidenta, as ameaças ao filho do Noblat pela camisa vermelha, as agressões a Guido Mantega num hospital ou num restaurante, a humilhação de um pobre haitiano…
Soltaram, quase que literamente, os bichos…
Os “lulus” se tornaram em rottweillers.
A platéia sanguinária que o Jornal Nacional formou se volta contra uma profissional que, pessoalmente, não tem nada com isso.
Diante deste quadro selvagem, o governo se acoelha, com um ministro da Justiça que quer ficar para não fazer.
Todas as leis anti-discriminatórias que as lutas políticas da esquerda conseguiram aprovar e estão aí para serem aplicadas.
Quando quiserem fazê-lo talvez já não adiante.
A ousadia, no Brasil de hoje, parece ser privilégio dos canalhas.
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