quinta-feira, 25 de junho de 2015

Porque o “ajuste fiscal” virou aumento de gastos?



Por: Fernando Brito

“A diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem”, frase atribuída ao médico e 
alquimista Paracelso deveria ser lembrada pela Presidente Dilma quando visse o que está produzindo 
a forma de fazer o “ajuste fiscal”.
Porque a forma “cavalar” com que se agiu ao colocar a ideia de que o país estava mergulhado numa 
crise e que seria necessário cortar e cortar despertou a oposição para arruinar o Governo justo no 
ponto que lhe é mais sensível: os direitos e vantagens trabalhistas.
Repete-se, hoje, o que ocorreu há dias com o fator previdenciário: o que não se deu, 
ponderadamente, quando havia condições políticas para fazer com prudência e escalonadamente, 
agora é atirado como fato consumado e, provavelmente, irreversível.
O reajuste dos aposentados nos mesmos moldes do salário mínimo – justo, como o fator 85/95 – vai 
ficar. E Dilma, de novo, vetará, para propor, talvez, uma fórmula “intermediária” que, se não for 
praticamente igual, será derrubada, como ainda se arrisca a ser derrubada a progressividade do fator.
O Governo está manietado por algo muito mais grave que a contabilidade pública: a política.
De um lado, pela estratégia de deixar que a inflação permaneça alta – e muito mais alta para o povão, 
pois ela é, basicamente, de tarifas de energia residencial e de gêneros alimentícios in natura, pois 
temos um Ministério para o Agronegócio e nenhum para o Abastecimento – e produzir uma elevação 
dos juros, como numa boa receita neoliberal e cortar despesas sociais e investimentos, coisa contra as 
quais, aliás, é Dilma a quase única barreira.
O efeito reverso é uma expectativa inflacionária maior e, com o grau de deterioração que a base 
parlamentar do Governo atingiu, fazer do Congresso um centro de “bondades” quem feitas da 
qualquer maneira, significam um comprometimento dos gastos grave, porque maior a cada dia, mês e 
ano.
O Governo Dilma, que não perdeu o rumo no longo prazo, precisa entender quem, sem o imediato, é 
o estratégico que fica comprometido.
Porque os nossos “bonzinhos” vão se aproveitando disso para enfiar nas votações situações que 
abalam o nosso futuro.
Serra vai “aliviar” a Petrobras, tadinha, do esforço de investir no pré-sal.
Os deputados patronais, tão generosos, aumentam as aposentadorias e reduzem-lhe o tempo.
Todo o discurso pela “austeridade” e pelo superávit – lembram desse termo da “moda”, que só 
reaparece para dizer que Levy não conseguirá alcançar? – se foi e a ordem é gastar, que Dilma paga.
Paga, inclusive, o preço do desgaste político.
Depois querem saber porque o Lula chia. Chia porque vê o Governo perder naquilo que, como 
relembrou o Ricardo Kotscho, ele disse ao assumir seu primeiro governo que era onde não se podia 
errar: na política.
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