terça-feira, 16 de junho de 2015

O BC e a Fazenda ignoraram o óbvio



Luis Nassif

Falta um maestro na equipe econômica. Tem-se uma orquestra de solistas, cada qual com sua própria 
partitura.
A meta macroeconômica mais importante - segundo o governo - é manter sob controle a relação 
dívida pública/PIB. Para tanto, definiu-se uma meta de superávit primário (despesa menos receita, 
excluindo juros) de 1,2% do PIB.
São três pontos de atenção, portanto:
Item 1. Receita
Item 2. Despesa
Item 3. Juros
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O Ministro da Fazenda pensa só no Item 2, o corte de despesas. Se o corte de despesas derrubar 
muito a economia, afeta o Item 1. Como resolve esse dilema? Pelo uso da fé.
Seu único controle é sobre os instrumentos econômicos, não sobre suas consequências.
Ele acredita que se os empresários acreditarem que haverá ajuste fiscal, imediatamente voltarão a 
investir, trazendo de volta o crescimento. Matéria de fé: quanto mais rápido for o ajuste, mais rápida 
será a recuperação, diz ele.
Ora, o ajuste leva a uma queda da atividade econômica. Cai o mercado de consumo privado (pela 
queda de renda) e público (pela queda de receita e pelos cortes nas despesas). Cria-se uma 
capacidade ociosa que, enquanto não for novamente preenchida, não resultará em novos 
investimentos.
E se a queda da atividade for muito intensa, o mercado não acreditará sequer nas metas da fazenda.
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O presidente do Banco Central Alexandre Tombini só pensa no controle da inflação e no política 
cambial.
Ele ganhou reputação ajudando a desenvolver a metodologia das metas inflacionárias. Ficou 
prisioneiro da sua criatura. O único instrumento que usa contra inflação é o aumento da taxa básica 
de juros; o único instrumento para administrar o câmbio, as operações de swap cambial. E pouco 
importam os efeitos sobre outros indicadores.
As duas impactam enormemente a dívida pública e o nível de atividade, tornando insuficiente o 
superávit primário e prejudicando drasticamente o Item 1 (Receita) e o Item 3 (juros).
Como se responde a isso? Com fé: a história de que quanto mais rápido o ajuste, mais rápida a 
recuperação.
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Vamos sair do campo da fé e entrar no dos fatos.
Ontem a Fazenda estimou em 3,8% a queda da arrecadação fiscal em maio, em comparação com o 
ano passado. O que significa:
Tomando por base 2014: PIB=100; Divida liquida = 34,5; Arrecadação = 35,95
Com 1,5% de queda, este ano o PIB cairá para 98,5. Com 3,8% de queda, a arrecadação cairá para 
34,6, ou 1,4% do PIB de 2014.
Para subir para 2,6% do PIB. Para compensar a queda do PIB, a dívida líquida teria que ser 0,5% do 
PIB.
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Com a taxa real de juros saltando para 6% ao ano, mais os custos fiscais das operações de swap 
cambial, para a relação divida bruta/PIB permanecer estável, o superávit primário teria que saltar 
para 5 a 6% do PIB. Mas com 5% a 6% do PIB a recessão aumentaria tanto que a arrecadação cairia 
mais ainda.
Não é por outro motivo, que um dos porta-vozes históricos do mercado, o economista Carlos Kawall, 
ex-Secretário do Tesouro e hoje economista-chefe do Banco Safra, declarou ao “Valor Econômico”: 
as agências de risco estão mais preocupadas com o PIB fraco e a dívida elevada; o foco não está 
mais no cumprimento um pouco acima ou um pouco abaixo da meta fiscal.
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