Por: Fernando Brito
Vou tentar recompor pelo noticiário a acareação entre os ladrões Paulo Roberto Costa e Alberto
Youssef – o primeiro “arrependido” e o segundo “bandido profissional”, nas palavras do Dr. Sérgio
Moro – durante de oito a “cerca de 10 horas” segundo as diferentes versões publicadas – em que
estiveram juntos.
Do Globo.com: “De acordo com ambas as defesas, o único “ponto de convergência” obtido na
Do Globo.com: “De acordo com ambas as defesas, o único “ponto de convergência” obtido na
acareação foi com relação a um pagamento de propina feito pela Braskem braço petroquímico da
Odebrecht para uma compra de nafta. Os outros oito pontos destacados para análise, segundo os
advogados, terminaram com os delatores mantendo as versões originais das delações premiadas.”
Veja-se como chegaram a esta convergência:
“O advogado João Mestieri, que representa Paulo Roberto Costa, confirmou a convergência entre as
“O advogado João Mestieri, que representa Paulo Roberto Costa, confirmou a convergência entre as
versões. “No primeiro momento, o Paulo Roberto Costa disse que não participou disso, porque não
se dava com o diretor-presidente [da Braskem]. Aí começaram a rememorar uma série de questões
para então chegar à admissão de que isso ocorreu”, afirmou.”
Reparem que maravilha: Paulo Roberto Costa, responsável pelas refinarias que produzem e vendem
nafta, dizia que “não participou disso” e quem lembrava tudo era Alberto Youssef, que
provavelmente de nafta só conhece aquelas bolinhas que se colocava nas gavetas para espantar
insetos.
Como é que Paulo Roberto Costa “esqueceu” e depois “lembrou” do negócio? Seria um trocado?
Muito ao contrário: a compra de nafta da Braskem à Petrobras monta a quase R$ 1 bilhão por mês.
Muito ao contrário: a compra de nafta da Braskem à Petrobras monta a quase R$ 1 bilhão por mês.
Com a “taxa de roubalheira” que dizem que era praticada – de um a três por cento, uma coisa
indefinida que faz lembrar o bordão usado pelo Didi Mocó: “aí vareia, né, doutor” – dá entre quase
R$ 10 milhões e R$ 30 milhões por mês. Aos preços de hoje entre R$ 50 milhões e R$ 150 milhões
por um contrato de seis meses, já que venda de nafta não é na base do “me dá aí um quilo e meio,
bem pesado”.
Amigo, será que você precisaria “rememorar uma série de questões” para lembrar de uma bolada
destas? Mas o advogado de Costa se desculpa, na Folha: “são coisas que aconteceram há cinco, sete
anos. É possível que as pessoas se esqueçam de algum ponto.”
Observe o tamanho, em reais, o tamanho deste “algum ponto”.
Observe o tamanho, em reais, o tamanho deste “algum ponto”.
O fato de que essa é a questão que interessa agora para incriminar a Odebrecht, sócia da petroleira no
controle da Braskem certamente não vem ao caso, não é?
Vejamos outra questão abordada na tal acareação, narrada pelas matérias:
“O ex-diretor da Petrobras disse que, em 2010, autorizou Youssef a fazer contribuições para as
campanhas da então governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), e do senador Humberto
Costa (PT-PE), mas o doleiro afirma que não entregou dinheiro a eles.Segundo Youssef, é possível
que Costa tenha se confundido e os repasses tenham sido feitos por outros operadores do esquema de
corrupção”. (Folha)
Bem, acusar Rosena Sarney até de roubar balinha de criança é algo que, em geral, todo mundo
Bem, acusar Rosena Sarney até de roubar balinha de criança é algo que, em geral, todo mundo
acredita. No papo de botequim, porque na Justiça tem de haver o pequeno detalhe de provas, ao
menos testemunhais.
Só há uma maneira de que os dois estejam dizendo a verdade: Costa mandou pagar e Youssef não
Só há uma maneira de que os dois estejam dizendo a verdade: Costa mandou pagar e Youssef não
pagou, embolsando o dinheiro. Se ambos pediram, como diz Costa, e não receberam, é obvio , iriam
queixar-se e o ladrão-diretor daria ao menos um telefonema: “aí, turco, não mandei você dar?”
Mas isso, diz um dos advogados de Youssef, é “bom”: “A divergência mostra que não houve
Mas isso, diz um dos advogados de Youssef, é “bom”: “A divergência mostra que não houve
combinação de versões, então dá mais valor para a colaboração de cada um deles”. Certo doutor: um
mandava, o outro obedecia; o um diz que mandou, o outro diz que não mandou e isso prova que os
dois estão falando a verdade, certo?
Já no Estadão: “Em relação a Paulo Bernardo, os delatores apontam o pagamento de R$ 1 milhão
Já no Estadão: “Em relação a Paulo Bernardo, os delatores apontam o pagamento de R$ 1 milhão
para a campanha de 2010 da ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT-PR), que foi eleita
senadora naquele ano. Bernardo, que é marido da senadora, fez a solicitação.Um dos pontos de
divergência explicado foi o de quem efetivamente teria entregue os valores pedidos por Paulo
Bernardo. O doleiro (disse?) não ter sido ele pessoalmente o efetivador das entregas.”
Então quem foi? O “Careca”? O motoboy? “Um rapaz que trabalhava lá no escritório, que eu não
Então quem foi? O “Careca”? O motoboy? “Um rapaz que trabalhava lá no escritório, que eu não
lembro o nome”? Ou foi por Sedex?
Quando comecei em jornal, um velho jornalista contava, divertido, que sua primeira apuração foi de
Quando comecei em jornal, um velho jornalista contava, divertido, que sua primeira apuração foi de
um incêndio num prédio na Avenida Rio Branco. Voltou da cena, escreveu a matéria e o redator (que
viroucopydesk) sentiu falta da informação: “qual é o número do edifício?”. “Ih, não reparei”,
respondeu o “foca”. “Então volta lá, desgraçado”…
A Folha narra o clima ameno do encontro de Costa e Youssef:
“Segundo os advogados dos dois delatores, não houve tensão durante a acareação. Apenas num
A Folha narra o clima ameno do encontro de Costa e Youssef:
“Segundo os advogados dos dois delatores, não houve tensão durante a acareação. Apenas num
determinado momento, de acordo com os advogados, os delatores trocaram farpas, como “Você não
está lembrando direito”, e “Não, você é que não está”.
Retiro o que disse sobre papo de botequim, porque no botequim isso faz diferença. Parecem mais
Retiro o que disse sobre papo de botequim, porque no botequim isso faz diferença. Parecem mais
duas senhoras dividindo implicâncias enquanto tricotam.
Espremi as matérias para ver se saída mais alguma coisa de concreto de uma acareação-
Espremi as matérias para ver se saída mais alguma coisa de concreto de uma acareação-
interrogatório que durou de oito a dez horas, mas não tem nada além, segundo os jornais. A história
do dinheiro que Costa diz ter sido pedido por Palocci e Youssef “não deu tempo” de tratar.
Marcaram outro chopinho para hoje, outro para amanhã e quem sabe, na quinta.
Quem sabe, como no providencial caso Braskem-Odebrecht, até lá lembram ou seus advogados
combinam algo?
Ou terminam o casaquinho. Porque tem de prestar atenção: é um ponto meia, outro tricô. Não são
Ou terminam o casaquinho. Porque tem de prestar atenção: é um ponto meia, outro tricô. Não são
iguais, mas formam um belo conjunto.
______________________________________________
Nenhum comentário:
Postar um comentário