terça-feira, 30 de junho de 2015

“Condições impostas à Grécia são revoltantes”



Publicado na BBC Brasil.

As nações europeias credoras são as “culpadas” pela situação da Grécia desde que o país foi 
obrigado a pedir volumosos empréstimos para cobrir suas dívidas, e as condições impostas ao 
governo de Atenas são “revoltantes”.
Esse é o resumo da crise na Grécia feito pelo prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz, durante 
uma entrevista exclusiva à BBC Mundo.
Stiglitz tem sido uma das vozes mais críticas da ortodoxia de grandes economias e de órgãos 
financeiros internacionais.
O poder executivo grego já afirmou que rejeita as condições impostas para que o país siga recebendo 
ajuda financeira e que fará um referendo em 5 de julho sobre a aceitação ou não das demandas 
europeias.
Muitos acreditam que a situação atual pode ser, na verdade, a antessala da saída grega da zona do 
euro.
Dirigentes da União Europeia garantem que foram feitos enormes esforços para se chegar a um 
acordo com a Grécia, para que fosse possível ampliar a ajuda financeira a Atenas e evitar o colapso 
de seu sistema econômico.
Stiglitz afirma, no entanto, que a Grécia pode tirar boas lições sobre como se recuperar da crise ao 
analisar a decisão da Argentina, em 2001, de declarar default (calote) de sua dívida externa.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista com o prêmio Nobel:

BBC Mundo – Vence nesta terça-feira o prazo da Grécia para pagar o FMI. Há alguma 
possibilidade de acordo para se evitar o calote?

Stiglitz – É concebível que o restante da Europa e a Alemanha acordem e se deem conta de que 
suas exigências à Grécia são absolutamente revoltantes. Então, é possível, mas é muito pouco 
provável. A exigência (por parte dos credores) de que a Grécia chegue a um superavit fiscal de 
3,5% antes de 2018 é uma garantia de que o país seguirá vivendo sob uma depressão.Para mim, é 
óbvio que a austeridade fracassou. O povo grego foi o primeiro a dizer: ‘Nos negamos a renunciar 
à nossa democracia e aceitar essa tortura da Alemanha’. Mas, com sorte, outros países como 
Espanha e Portugal, vão dizer o mesmo.

BBC Mundo – Como na Argentina, a Grécia declarou um ‘corralito’ (limite de saques) 
bancário e agora discute se segue o caminho de Buenos Aires, que em 2001 optou por cessar 
um dos maiores pagamentos da história. O exemplo argentino pode trazer alguma lição para a 
Grécia?

Stiglitz – Creio que é possível tirar uma importante lição do êxito argentino. Depois do calote, a 
Argentina começou a crescer a uma taxa de 8% ao ano, a segunda mais alta do mundo, depois da 
China.
Estive na Argentina e pude ver o êxito e o impacto no padrão de vida. A experiência argentina 
prova que há vida depois de uma reestruturação da dívida.O euro foi apenas parcialmente bem-sucedido por oito anos. Foi uma experiência curta e, em 
minha opinião, fracassada se não houver uma mudança dramática na maneira em que eles 
operam.

BBC Mundo – O sr. já disse que as exigências da Europa para o resgate financeiro da Grécia 
são um ‘ataque à democracia’ do país. Com isso, o sr. não está, de alguma maneira, ignorando 
uma possível culpa do governo grego para que o país chegasse a essa situação?
Stiglitz – Ainda que a Grécia tenha sua parcela de culpa na situação (que levou aos problemas 
fiscais descobertos em 2010), a desastrosa situação em que o país se encontra desde então é de 
responsabilidade da Troika (formada pelo FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central 
Europeu).
Pense no que poderia ter acontecido se em 2010 a Grécia e os países europeus tivessem tentado 
fechar um plano para a dívida que permitisse que Atenas retomasse seu crescimento.Espero que essa crise ajude a mudar a maneira pela qual o mundo enfrenta as crises das dívidas 
soberanas dos países.
Cada país tem uma lei de falência, pois sabe que os indivíduos precisam de uma nova 
oportunidade, já que às vezes a oferta de empréstimos é excessiva, às vezes se aceita empréstimos 
demais. Isso também acontece com os países.
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