As grandes formulações de política econômica obedecem a tendências ideológicas. Mas há um conjunto de parâmetros técnicos a serem obedecidos por qualquer gestor, independentemente da escola de pensamento que segue.
Sob qualquer ótica que se analise a política monetária, desenvolvimentista ou financista, o BC está produzindo um desastre.
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A política de juros, com a Selic caminhando para 15% ao ano, cria uma trajetória insustentável para a dívida pública, seja pelo impacto direto dos juros, seja pela queda do PIB e da arrecadação fiscal.
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Ex-Secretário do Tesouro, economista-chefe do Banco Safra, Carlos Kawall concedeu uma entrevista importante para o jornal “Valor Econômico”.
Nela, uma declaração intrigante: há uma mudança na postura das agências de rating, que estão mais preocupadas com o PIB fraco e a dívida elevada, partindo para análises bem mais complexas do que no passado.
O que são essas “análises bem mais complexas”?
Até pouco tempos atrás, as agências consideravam virtuoso qualquer ajuste fiscal, independentemente da gradação e dos impactos sobre a atividade econômica.
Na crise de Argentina, sob Domingo Cavallo, dias antes da quebra do país, com a econômica exangue, as agências acenavam com melhora da nota devido a um pacote fiscal, que era um tiro de misericórdia no moribundo. Para qualquer observador isento, arrocho fiscal com o PIB despencando faria as receitas fiscais despencarem mais ainda. Foi o que ocorreu.
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Só recentemente, essas agências, que monitoram a maior parte do capital especulativo mundial, passaram a analisar os impactos dos ajustes fiscais e das políticas monetárias agressivas sobre o nível de atividade e, por consequência, sobre a nova relação dívida/PIB.
É a esse exercício óbvio, a esse bê-a-bá de análise financeira, que Kawall denomina de “análises mais complexas” da economia.
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As agências não trabalham mais com mistificações, como bala de prata e quetais. Passaram a analisar a trajetória das dívidas públicas em cenários dinâmicos estimando impactos das políticas monetárias no médio e longo prazo. Aprenderam que soluções heroicas não são factíveis, que o organismo econômico e social de um país exige mudanças gradativas. E contentam-se com esse gradualismo se percebem trajetórias consistentes de PIB e dívida, mesmo que a meta final seja de prazo mais longo.
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O que o BC está fazendo é macumba planilheira.
Joga as taxas de juros para níveis irreais, para mostrar ao mercado que tem o poder. E acredita que se o mercado acreditar que ele tem o poder, todos os indicadores macroeconômicos se arrumam automaticamente.
O que está ocorrendo é o mercado cada vez mais constatando que esse poder está sendo utilizado de forma irrefletida, piorando todos os indicadores econômicos.
É por isso que, na entrevista, Kawall aconselha:
Preocupem-se com PIB e crescimento.
Parem com os swaps cambiais e operações compromissadas, que estão pressionando de forma irresponsável a dívida pública.
Desvalorizem o câmbio em pelo menos 10% para dar um oxigênio para a economia do lado das exportações.
Parem com demonstrações de força, porque não é necessário. O mercado sabe que o BC tem a força. Agora, o BC precisa provar que , ao lado da força, tem o bom senso.
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