segunda-feira, 4 de maio de 2015

“DOS 392 PROFESSORES FERIDOS, MAIS DE 90% FORAM ATINGIDOS DA CINTURA PARA CIMA: CABEÇA, TRONCO, ROSTO, ATÉ NOS OLHOS”



por Conceição Lemes

Curitiba, 29 de abril de 2015. Pela manhã, professores, funcionários da rede estadual de ensino e de outras categorias do serviço público do Paraná começaram a chegar à Praça dos Três Poderes. O Centro Cívico da cidade. Aí, ficam a Assembleia Legislativa (Alep), o Palácio Iguaçu (sede do governo do Estado) e o Tribunal de Justiça.
Já havia policiais a postos, por todo lado. O governador Beto Richa (PSDB) trouxe 1.600 do interior, que se juntaram aos 4 mil de Curitiba e Região Metropolitana. Eles ficaram se revezando.
Os trabalhadores resolveram permanecer o dia todo em frente à Alep para fazer pressão sobre os deputados estaduais para que não votassem o projeto de lei que confisca a poupança previdenciária de 200 mil servidores públicos do Estado. A votação estava prevista para as 14h30.
O projeto, agora lei aprovada pelos parlamentares e já sancionada por Richa, permite ao governo tucano sacar mensalmente R$ 150 milhões – ou R$ 2 bilhões ao ano em valores corrigidos – do fundo ParanaPrevidência.
Havia uma liminar para que 480 trabalhadores acompanhassem a votação dentro da Assembleia. Só que o Tribunal de Justiça cassou-a.
Por volta das 14h, um grupo de deputados pró-professores foi até o presidente da Alep, Ademar Traiano (PSDB), para tentar convencê-lo a liberar a entrada dos 480.
O presidente da Assembleia não liberou o acesso nem mesmo dos diretores da APP-Sindicato dos Trabalhadores da Educação Pública do Estado do Paraná.
Parêntese. APP significa Associação dos Professores do Paraná (APP). Como até 1988, funcionário público não podia ser sindicalizado, os professores criaram-na . A partir de 1989, a proibição caiu e os professores puderem criar o seu sindicato. Só que eles quiseram manter a marca APP. O sindicato é de professores e funcionários de escolas públicas. Fechando o parêntese.
“Na hora em que essa notícia chegou lá fora, um helicóptero com policiais militares começou a fazer voos rasantes sobre os milhares de professores que estavam na praça”, relembra José Cândido de Moraes. “O intento, acredito, era desviar a atenção dos professores para começar o ataque. Foi o que ocorreu.”
José Cândido é professor de História e Filosofia e integra um grupo chamado Cinema da Luta, que nasceu em fevereiro deste ano. Ele está fotografando e fazendo vídeos da greve e das manifestações, para produzir um documentário.
“Como os professores já estavam bastante assustados com os voos a baixíssima altitude do helicóptero, ficou mais fácil iniciar o ataque”, expõe. “De repente, os policiais começaram a lançar bombas e tiros de balas sobre os professores e demais funcionários públicos.”
Concentrados na Praça dos Três Poderes, eles foram atacados covardemente pelas tropas do tucano Beto Richa e do seu secretário de Segurança, o deputado federal Fernando Francischini (Solidariedade).
Durante quase duas horas, 1.800 policiais lançaram sobre os manifestantes aproximadamente 1.500 bombas de efeito moral, além de balas de balas de borracha, gás lacrimogêneo, spray de pimenta e cães. Isso sem falar dos cassetetes pra todo lado.
“Eu nunca vi tamanho aparato policial”, avalia, ainda perplexo, Mário Sérgio Ferreira Souza. “Nós não esperávamos nem estávamos preparados para o massacre do dia 29.”
Mário Sérgio é professor aposentado rede pública estadual (deu aula de matemática) e secretário de Assuntos Jurídicos da APP-Sindicato.
“Os policiais não agiram para conter ou dispersar a manifestação, como é a norma; eles nos atacaram”, prossegue. “Foi um ataque premeditado. Ao entrar na área do Centro Cívico, a tropa de choque foi dividindo e encurralando o pessoal que estava na praça. Ao mesmo tempo, jogava bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo, balas de borracha, spray de pimenta e cães em cima da gente.”
Sobrou até para o jornalista da Band, que foi mordido por um pitbull do Richa.


“Por ordem do governador e do secretário de Segurança, os policiais vieram preparados para o massacre”, observa Mário Sérgio. “Tanto que foram jogando as bombas indiscriminadamente em todos os cantos da praça, a ponto de atingir duas creches do outro lado da rua, deixando as crianças muito assustadas.”
Mário Sérgio participou de todas as mobilizações de professores nos últimos 35 anos: 1978, 1980, 1981, 1982, 1986, 1988, 1990, 2001, 2014 e 2015.
“Dos 392 professores feridos, mais 90% foram atingidos da cintura para cima: cabeça, tronco, rosto, até nos olhos”, denuncia. “Na nossa avaliação, foi ordem do comando para que os policiais atirassem assim nas pessoas.”
Um dos feridos é Tarso Cabral Violin, advogado, professor de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFRN) e blogueiro. É dele o Blog do Tarso.
O vídeo abaixo retrata o início do massacre. Mostra o exato momento em que o rosto de Tarso foi atingido por estilhaço de uma bomba. “Por dois centímetros, não fiquei cego”, observa o blogueiro, que fez BO e exame de corpo de delito.



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