quarta-feira, 6 de maio de 2015

A oposição que virou panelas…



Por Renato Rovai 

Na década de 80 uma lanchonete se tornou famosa em São Paulo por conta do nome curioso. O Engenheiro que Virou Suco ficava na Avenida Paulista, nas proximidades com a Brigadeiro Luis Antônio. A história do nome é também um pouco o retrato de uma época. Odil Garcez Filho, que já morreu, foi demitido da empresa em que trabalhava. Sem perspectiva de se recolocar, decidiu mudar de ramo. E como tinha boa formação conseguiu se dar melhor que muitos que tiveram o mesmo destino que ele.
O Brasil dos anos 80, do Chico Buarque que andava com sua cabeça lá pelas tabelas, era um desespero só. A inflação altíssima, as perspectivas mínimas. O país iniciava sua caminhada rumo à democracia e ainda teve que ver o avô de Aécio, que era muito melhor que o neto, morrer e deixar como presidente um autêntico filhote da ditadura, como dizia o Brizola. Sarney foi presidente da Arena e só pulou do barco para se tornar candidato a vice na chapa do PMDB-PFL no Colégio Eleitoral quando a vaca da ditadura já não tossia mais.
O regime militar tirou do país ao menos 20 anos. O Brasil Bossa Nova onde tudo parecia que ia dar certo dos anos 50 e 60 foi soterrado pelas botinas dos generais. E o tal crescimento dos anos 70 só gerou riqueza para poucos e as custas de uma enorme dívida externa que comprometeu a economia ao menos por mais 10 depois da redemocratização.
Só com as privatizações de FHC e com o Plano Real é que as tais contas públicas ganharam algum fôlego, mas as panelas da maior parte do povo brasileiro continuaram vazias.
Lula assumiu o governo em 2003 com o país vivendo ainda um dramático caos social. E com a economia entrando em colapso. O dólar batia em 4 reais e o salário mínimo não comprava nem a cesta básica.
E depois de 12 anos, uma parte da população resolve bater panelas em boa medida não só para criticar o PT ou se manifestar contra a corrupção. Mas porque está com saudades de um Brasil que não existiu. O país dos sonhos dourados dos anos 80 e 90 é aquele em que algumas famílias do Sul maravilha traziam meninas do nordeste para ser suas serviçais. Onde o filho da empregada não tinha sequer um caderno para ir pra escola. Onde a desnutrição infantil era altíssima. Onde um trabalhador da construção civil não ganhava nem para comprar uma bota. E onde em muitas palafitas havia apenas uma panela que nunca tinha visto mistura. Ah, claro, mistura, amigos paneleiros, é aquele algo mais além do arroz, da farinha e do feijão. Porque no Brasil dos anos 80 e 90, bife ou ovo eram artigos de luxo.
Quando as panelas soam reclamando por um futuro melhor ou por liberdade dá pra entender. Mas as panelas que têm soado nos bairros mais nobres das grandes cidades brasileiras pedem um passado que foi muito pior do que hoje. As panelas dos bairros nobres das grandes cidades não soam pelos professores e pela melhoria da educação. Elas são pelo Dilma sua vaca e pelo Lula filho de qualquer coisa. São panelas vazias, sem rumo e sem discurso.
Isso pode até dar certo num momento de crise mais aguda, mas se a situação melhorar um pouco, ficarão apenas os radicalizados. E como panela não vota, a tendência é a oposição ser derrotada de novo. Porque os radicalizados vão fazer seu candidato chamar quem quer que seja de leviana, de vadia e de bandido. E o povo que sabe o valor da educação e do respeito não costuma aceitar esse tipo de atitude como um procedimento correto.
E como o PT e o governo vão ter de trabalhar muito para sair dessa situação, que de fato é ruim, as panelas que pareciam ser um fantasma a lhes aterrorizar, podem lhe ajudar a achar o rumo de casa.
A oposição que hoje bate panelas pode virar panelas. E daqui a algum tempo pode vir a ser encontrada numa beira de estrada, sozinha, vazia e sem perspectiva. As panelas de hoje já não foram tantas quanto nos primeiros protestos. Essa é uma informação que precisa ser levada em conta.
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