Luis Nassif
A confiança que a presidente Dilma Rousseff deposita no plano Joaquim Levy segue a seguinte
lógica:
1. Implementa-se um ajuste fiscal rigorosa, recuperando a confiança do mercado.
2. Há uma queda na atividade econômica. Segundo o peixe que venderam para Dilma, "o pior
1. Implementa-se um ajuste fiscal rigorosa, recuperando a confiança do mercado.
2. Há uma queda na atividade econômica. Segundo o peixe que venderam para Dilma, "o pior
já passou".
3. Convive-se por um tempo com um desaquecimento da economia, sem afetar o mercado de
3. Convive-se por um tempo com um desaquecimento da economia, sem afetar o mercado de
trabalho, "porque a maioria dos trabalhadores está no setor terciário".
4. Depois, voltam os investimentos privados, especialmente na área de infraestrutura, com as
4. Depois, voltam os investimentos privados, especialmente na área de infraestrutura, com as
concessões, trazendo de volta o crescimento.
Assim como a distribuição ampla e irrestrita de subsídios não trouxe o crescimento, não se pense que bastará o ajuste das contas públicas para se obter a redenção.
Desde o ano passado, a economia vivia um pré-ensaio de ajuste fiscal, com o contingenciamento de praticamente todas as liberações orçamentárias. Não escapou nenhum setor, do mercado de livros didáticos à cadeia do petróleo e gás.
O aprofundamento dos cortes, no entanto, traz uma realidade nova para a economia.
Mário Henrique Simonsen, o pai de todos os ortodoxos - por se tratar de um ortodoxo que sabia analisar os sinais da economia - dizia que provocar uma recessão é como puxar um saco com uma corda; sair da recessão é como tentar empurrar o saco com a corda.
***
O jogo mal começou. A ideia de que o pior já passou é falsa.
Nos últimos meses, o mercado de crédito desabou. Há uma defasagem até a redução do crédito bater nas empresas, devido a alguma gordura acumulada. O custo da rescisão trabalhista, o desmonte de forças de trabalho, fazem as empresas resistir um tempo ao desmonte. Reduzem o número de turnos, providenciam férias.
Depois, começa a pauleira. Quem está acostumado a enxergar os sinais da economia, antes da explicitação dos índices, sabe que a atividade econômica está desabando em um ritmo assustador.
***
O mercado de trabalho começa a desabar, cai o nível de consumo e aumenta-se a capacidade ociosa das máquinas instaladas. Em determinado momento, a economia bate no fundo do poço e começa a reagir. Só que em um patamar muito abaixo do patamar pré-crise.
Mais que isso: como existe uma meta para a relação dívida/PIB, a queda do PIB obrigará a um aumento do superávit fiscal, para manter a mate fixada.
***
Lá na frente, a economia tentará se ancorar nas concessões e nas exportações. Mas seria necessário um nível de câmbio muito mais depreciado para compensar a queda na atividade interna. E o setor de infraestrutura não tem um peso relativo tão acentuado para acreditar que sua recuperação se refletirá imediatamente sobre os demais setores.
***
Amarrada a essa fé cega na faca amolada de Levy, restará à presidente montar planos de ação minimamente eficazes para as exportações e as concessões. Fosse um governo mais articulado, a esta altura estaria planejando as concessões futuras conjuntamente com a demanda por máquinas e equipamentos e insumos em geral - da mesma maneira que foi feito no bem sucedido plano de aparelhamento dos estaleiros.
Uma matriz de insumos permitiria montar uma verdadeira política industrial em torno das concessões.
Mas falta ao governo confiança no seu taco; e nos observadores, confiança no governo.
Assim como a distribuição ampla e irrestrita de subsídios não trouxe o crescimento, não se pense que bastará o ajuste das contas públicas para se obter a redenção.
Desde o ano passado, a economia vivia um pré-ensaio de ajuste fiscal, com o contingenciamento de praticamente todas as liberações orçamentárias. Não escapou nenhum setor, do mercado de livros didáticos à cadeia do petróleo e gás.
O aprofundamento dos cortes, no entanto, traz uma realidade nova para a economia.
Mário Henrique Simonsen, o pai de todos os ortodoxos - por se tratar de um ortodoxo que sabia analisar os sinais da economia - dizia que provocar uma recessão é como puxar um saco com uma corda; sair da recessão é como tentar empurrar o saco com a corda.
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O jogo mal começou. A ideia de que o pior já passou é falsa.
Nos últimos meses, o mercado de crédito desabou. Há uma defasagem até a redução do crédito bater nas empresas, devido a alguma gordura acumulada. O custo da rescisão trabalhista, o desmonte de forças de trabalho, fazem as empresas resistir um tempo ao desmonte. Reduzem o número de turnos, providenciam férias.
Depois, começa a pauleira. Quem está acostumado a enxergar os sinais da economia, antes da explicitação dos índices, sabe que a atividade econômica está desabando em um ritmo assustador.
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O mercado de trabalho começa a desabar, cai o nível de consumo e aumenta-se a capacidade ociosa das máquinas instaladas. Em determinado momento, a economia bate no fundo do poço e começa a reagir. Só que em um patamar muito abaixo do patamar pré-crise.
Mais que isso: como existe uma meta para a relação dívida/PIB, a queda do PIB obrigará a um aumento do superávit fiscal, para manter a mate fixada.
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Lá na frente, a economia tentará se ancorar nas concessões e nas exportações. Mas seria necessário um nível de câmbio muito mais depreciado para compensar a queda na atividade interna. E o setor de infraestrutura não tem um peso relativo tão acentuado para acreditar que sua recuperação se refletirá imediatamente sobre os demais setores.
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Amarrada a essa fé cega na faca amolada de Levy, restará à presidente montar planos de ação minimamente eficazes para as exportações e as concessões. Fosse um governo mais articulado, a esta altura estaria planejando as concessões futuras conjuntamente com a demanda por máquinas e equipamentos e insumos em geral - da mesma maneira que foi feito no bem sucedido plano de aparelhamento dos estaleiros.
Uma matriz de insumos permitiria montar uma verdadeira política industrial em torno das concessões.
Mas falta ao governo confiança no seu taco; e nos observadores, confiança no governo.
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