Deputado do PT afirma, em entrevista ao 247, que levou na semana passada, junto com
parlamentares petistas, a cópia da perícia da Polícia Federal "atestando a autenticidade" da
Lista de Furnas; "Porque ela sempre foi desqualificada, considerada uma fraude, mas é a
palavra da própria Polícia Federal", disse; questionado sobre o motivo de o caso não ter sido
investigado até hoje, Padre João apontou possível "influência" do senador Aécio Neves "em
setores do Ministério Público, do Judiciário", e acrescentou que "muitas questões ficam
paradas por interesse"; nome de Aécio foi citado pelo doleiro Alberto Youssef como um dos
beneficiados do esquema de corrupção.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista:
Quais foram exatamente os documentos levados ao procurador-geral?
A própria lista de Furnas, embora já houvesse sido encaminhada. Mas o diferencial foi a conversa que tivemos de quase uma hora com ele – fazendo a ligação dos fatos, desde a fala do Youssef, que cita de fato a lista, todo o trabalho da promotora Andreia Baião. Entregamos também a perícia, a cópia da própria Polícia Federal, atestando sua autenticidade, pois ela sempre foi desqualificada, considerada uma fraude, mas é a palavra da própria Polícia Federal. Ainda foi entregue a comprovação de citação de algumas pessoas que receberam recursos, que foram beneficiadas. O doutor Rodrigo Janot também ficou surpreso de todo esse material já não estar com ele, desse trabalho feito tanto em Minas quanto no Rio de Janeiro pela doutora Andreia Baião. Às vezes as coisas não são novas, mas a forma de organizar e juntar todas que levariam Janot a repensar, baseado nas documentações.
Por que essa documentação não havia chegado até ele?
Dá a entender que o senador Aécio Neves sempre teve muita influência em setores do Ministério Público, do Judiciário, isso atrapalha. Pois muitas questões ficam paradas por interesse. Basta lembrarmos do pedido de vista do [ministro do STF] Gilmar Mendes em relação ao financiamento empresarial. Então às vezes a pessoa, por uma questão ideológica, agiliza de acordo com sua concepção ou engaveta, infelizmente. Por isso acredito em uma nova conjuntura em relação à Procuradoria Geral da República. Tenho muita confiança no bom senso e como o doutor Rodrigo Janot vai fazer valer a importância dessa instituição para nossa democracia.
No depoimento, Youssef disse que ouviu dizer o nome de Aécio por parte de José Janene, que já morreu. Isso basta para investigar?
O Janot dizia que, se em uma delação premiada deveria se seguir um caminho, esse caminho se interrompe quando se depara com uma pessoa já falecida. Nós apresentamos para ele, por exemplo, que o então deputado Antônio Júlio, atual prefeito de Pará de Minas, está vivo e atesta que recebeu e repassou esses recursos, inclusive para um hospital. Tem recibo. Então existem tantas outras pessoas vivas e isso agora não é o "ouviu dizer", mas documentos que estão em suas mãos, além do trabalho da doutora Andreia Baião, que ele alega não conhecer. Uma das alegações é que estas pessoas estavam de fora porque tinham cargos políticos, e ela estava seguindo uma linha dos empresários, mas nós fizemos o nexo, pois agora envolve um senador da República. Esse documento tem que ser encaminhado para Brasília e ficar na PGR, com responsabilidade única e exclusiva do procurador para encaminhar esse processo.
Janot tem o direito de engavetar o caso e não investigar?
O não investigar é que é o problema. Nem a grande mídia, nem ninguém tem direito de condenar a priori. A investigação não é uma condenação, pelo contrário. Isso resguarda o próprio investigado, caso ele não tenha nada a perder. Mas quando a pessoa tem, ela tenta dificultar ao máximo a investigação. Para zelar pelo nome de uma instituição tão importante que é a Procuradoria Geral da República, ele tem o dever de investigar. Não tenho dúvida que, pela história dele, pelo compromisso com a República, com a democracia e com a isenção em relação a partidos, tem que investigar, não importa que partido seja, de que grupo, investigar é salutar.
Janot pode estar tendo um embate político dentro da Procuradoria para seguir em frente com o processo?
Isso não é um caso isolado. Vários episódios sempre têm alguém que dificulta. Que chegue indiretamente por um amigo em comum, ou com um mínimo de abertura para que recomende o contrário, disso não temos dúvida. Mas ele está ali, à frente da instituição, e precisa zelar pelo nome. Não podemos voltar a um passado de não ter confiança na procuradoria, que representa um lado, um partido, um grupo específico, seria um grande retrocesso. Pelo interesse que ele tem na matéria, em nos ouvir, por receber a documentação e por demonstrar interesse, detalhando a forma, desde a delação premiada, quais são as vantagens e algumas limitações – como o caso de uma pessoa falecida, é um dificultador, mas entendo que pode se buscar outros caminhos para continuar nessa linha de investigação, ou pelo menos para fundamentar a necessidade reabrir a investigação.
Qual é a repercussão disso em Brasília, no Congresso?
É algo que assusta muitas pessoas. Às vezes incluem os presidentes do Senado e da Câmara, são várias lideranças que foram citadas. Agora percebemos a movimentação de contratação de advogados – cada um quer contratar o melhor. Isso é salutar para a democracia, mas não pode retratar uma perseguição a um determinado partido ou ideologia, que pode desmoralizar o processo. Não consigo ver isso agora, mas já fez parte de um passado muito próximo – para alguns, tudo para debaixo do tapete e para outros até o atropelo da lei para levar determinada liderança para a cadeia, até mesmo sem um julgamento, sem uma condenação. Acho que são crimes que as pessoas não oferecem esses riscos para a sociedade, a ponto de ter sua liberdade resignada. É muito mais dar uma satisfação à grande mídia, muito menos à sociedade.
O governador de Minas Gerias, Fernando Pimentel, divulga hoje o resultado de uma auditoria do governo anterior, do PSDB, que ficou 12 anos no poder. A apuração aponta um estado endividado e manobras em contratos. Qual sua visão sobre o "choque de gestão" pregado pelos tucanos em Minas?
Eu fui deputado estadual, líder da oposição. Nós sempre colocávamos para a sociedade que era uma enganação. Que havia arrocho muito mais em cima dos trabalhadores, mas castigava mais da Educação, da área da Saúde, e não tinha nenhum plano de desenvolvimento real em Minas Gerais, seja para ampliar a arrecadação, na siderurgia. Focou-se muito mais na exportação de minério e nas construções dos minerodutos, que é uma grande contradição. Existem alguns que têm um consumo de água de 1600 litros por segundo e sacrificam a população para economizar água, mas vai licenciando tantos minerodutos, levando o minério a preço de banana e carrega um grande volume de água. Todo esse choque de gestão foi por meio de empréstimo, não houve nenhum planejamento para alavancar o desenvolvimento em nenhum setor da sociedade. Minas Gerais é um estado fabuloso em relação à diversidade de clima, microclima, mas não houve uma gestão que, em curto, médio e longo prazo ampliou a arrecadação. Utilizaram programas do governo federal e as pequenas obras realizadas eram provenientes de empréstimos. Houve um período de carência nesses 12 anos, mas agora chegam as contas e não se ampliou em nada a arrecadação. A maior farsa que temos no Brasil é este modelo de choque de gestão.
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