sexta-feira, 24 de abril de 2015

NEM DEUS SALVA BABILONIA E A REDE BOBO


Flop

por : Paulo Nogueira

Babilônia não tem público, mas em compensação milhares de pessoas se dedicam a animados 
debates sobre as razões do seu fracasso.
O último especialista a palpitar foi Boni. Para ele, o problema não está na polêmica em torno de 
coisas como o casal de senhoras lésbicas.
A novela, simplesmente, é ruim, diz Boni.
Não vi e nem verei uma só cena de Babilônia, mas sei o mal de que padece a novela: internet.
As discussões ignoram isso: televisão e seus produtos como novela viraram obsolescência na Era 
Digital.
Ninguém mais vê televisão. Ou melhor: o público que importa para a sua sobrevivência – os jovens 
— não vê.
Tevê deixou de fazer parte da vida dos jovens com o florescimento da internet, e isto é uma sentença 
de morte.
Uma pesquisa recente do Ibope mostrou o envelhecimento do público da tevê: os consumidores 
estão, essencialmente, acima dos 50 anos.
A mesma coisa ocorre com jornais e revistas. Talvez alguém da Globo possa se sair com uma frase 
antológica do diretor de redação da Veja, Eurípides Alcântara.
Perguntado por seu chefe sobre por que o leitor da Veja é tão idoso – acima dos 60 –, Eurípides 
invocou Charles Aznavour. Disse que a Veja é “Charles Aznavour” das revistas, como se isso fosse 
um triunfo.
Eurípides se notabilizou na juventude por editar a célebre matéria do boimate – uma pegadinha de 
1.o de abril de uma revista científica estrangeira que dizia ter sido feita uma combinação de boi com 
tomate. Mas, com a menção a Charles Aznavour, ele se superou na meia idade.
Qualquer coisa que passe na televisão, daqui por diante, padecerá do mesmo mal de Babilônia: 
escassez desesperadora de público.
Imagine que a Globo traga o criador de Breaking Bad, Vince Gilligan, e encomende a ele uma 
novela.
Será maravilhosa, graças ao talento exuberante de Gilligan. Só que ninguém vai ver.
O mesmo drama vale, naturalmente, para o telejornalismo da Globo.
A audiência do Jornal Nacional, hoje, é irrisória perto do que foi dez ou vinte anos atrás. É como se 
os telespectadores estivessem escorrendo por uma torneira o tempo todo.
Você pode mandar embora Ali Kamel, Bonner e toda a equipe que nada vai mudar substancialmente.
A internet é uma mídia disruptora. Não há nada que a Globo possa contra ela. Em seus 50 anos de 
domínio sobre o Brasil, não interrompido sequer com a chegada do PT ao poder, a Globo jamais 
encontrou um obstáculo como a internet.
A Globo não tem como intimidar, pressionar, sabotar a internet. A internet é infinitamente maior que 
ela.
Os brasileiros devem ter gratidão eterna pela internet.
Sem ela, a Globo continuaria a agrilhoar o Brasil e impedir, indefinidamente, o avanço da sociedade.
Agora, a Globo tem que lutar pela sobrevivência – e o dia em que os anunciantes acordarem para o 
fato de que pagam muito por uma audiência cada vez menor os sinos fatalmente dobrarão para a 
família Marinho.
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