Picolé de chu chu....
por : Kiko Nogueira
Ao longo de décadas, Geraldo Alckmin aperfeiçoou seu jeito de lidar com as crises em seu governo. Alckmin é um legítimo, incontestável, imbatível negacionista. Em Ribeirão Preto, na abertura de um evento, declarou que “na realidade, não existe greve dos professores”. Eles “estão dando aulas e os alunos, estudando. A média de falta é de 3%, aumentou 1%, e é de temporários”.
A Apeoesp, sindicato da categoria no estado, divulgou uma nota avisando que os profissionais estão parados desde 13 de março, com adesão que varia “entre 50% e 75%”.
Não é a primeira vez e não será a última em que Geraldo usa esse subterfúgio esquisito. Hoje mesmo, 28 de abril, contou a empresários que não vai faltar água no período seco que se avizinha.
Uma alma generosa montou um tumblr com um apanhado de negativas alckmistas em 2014 e 2015. O endereço está aqui. É uma beleza.
Apenas para ficar em alguns exemplos:
. Alckmin nega falta de verba para escolas estaduais
. Alckmin nega que crise tenha levado a redução de imposto de água mineral
. Alckmin nega erro em projeto de monotrilho
. Alckmin nega racionamento em SP
. Alckmin nega rodízio
. Alckmin nega divisão no PSDB sobre impeachment de Dilma
. Alckmin nega ter esperado eleições para reajustar conta
É da natureza da política mentir. Mas Geraldo incrementou essa habilidade com um traço de, possivelmente, hipnose coletiva: se ele falar que não existe, o assunto desaparece. Não se sabe se vale para as montanhas, a chuva, os assaltos, a enxaqueca ou o carro enguiçado.
Nunca foi cobrado devidamente por isso. “Governador, o senhor garantiu que não ia faltar água no ano passado”. Na possibilidade de acontecer, ele provavelmente negará que afirmou tal barbaridade.
Há alguns anos, um professor de psicologia da Universidade de Massachussetts, nos EUA, lançou um livro chamado “The Politics of Denial” (“A Política do Negacionismo”). Michael Milburn pesquisou extensivamente as atitudes de políticos, o papel das emoções na opinião pública e os efeitos da mídia de massa no comportamento deles.
Para Milburn, aqueles que nunca fizeram terapia e experimentaram altos níveis de punição na infância são mais propensos à negação. “Há uma dificuldade, eventualmente, em ser capaz de discernir o quanto é negação real em termos das próprias crenças deles e o quanto é uma tentativa de distorcer um fato para alterar a percepção das pessoas”, disse Milburn à Newsweek. “A negação é um mecanismo de defesa que se desenvolve como um método de sobrevivência.”
O caso de Alckmin parece ser tudo junto. Como na história de Calvin e Harold, quando o menino pergunta para o tigre de pelúcia que é seu melhor amigo.
— De que estado você é?
— Do estado de negação.
O paulista pode acrescentar: do estado de negação de São Paulo.
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