segunda-feira, 9 de março de 2015

A crise atual é pior que a do mensalão para o governo e o PT



Por Renato Rovai

Em 2005, as denúncias de que o governo operava mesadas para deputados votarem a favor de suas propostas no Congresso levaram o país a uma crise histórica. A denúncia em si nunca se provou. Até hoje não há nada que sustente pagamentos rotineiros a parlamentares. Mesmo assim, líderes políticos foram presos e por dez anos a história acantonou o PT numa posição menos ousada, mas não lhe tirou a possibilidade de ganhar eleições.
O que foi fundamental para que o episódio do mensalão não apeasse Lula da presidência e o PT do jogo político? Fundamentalmente o fato de que, mesmo sob imensa pressão, Lula conseguiu botar o governo para andar, o país gerou empregos, a economia cresceu e a relação com o Congresso não se deteriorou.
Ao contrário, foi no meio das investigações que Lula atraiu o PMDB, abriu-lhe as portas do Planalto e engatou uma maioria parlamentar que foi crucial para segurar o tranco.
O atual momento político-econômico é completamente diferente.
O país está em meio a uma estagnação quase recessão da economia, adotou uma política ortodoxa para segurar a inflação, o desemprego deve aumentar e conquistas trabalhistas e programas sociais estão em jogo.
Afora isso, a base político-parlamentar do governo está em transe, com o presidente da Câmara e do Senado no meio dos investigados de um caso complexo de corrupção, a Operação Lava Jato, e ambos com sangue nos olhos para encurralar a presidenta.
Mas antes a diferença entre a situação de 2015 e esta de 2015 se resumisse apenas a esses dois aspectos. Ainda há uma coisa que pode desequilibrar ainda mais o jogo, a tal presença do povo na rua.
Em 2005, a oposição fez muito barulho na mídia tradicional, que está exatamente onde sempre esteve. Mas parou por aí. Não conseguiu levar mais do que meia dúzia de gatos pingados para as ruas.
Em 2015, há muitas chances de que isso fique diferente. A manifestação de 15 de março tende a ser muito maior do que a do dia 13, que, aliás, não deveria ter sido marcada e tende a soar como provocação.
Se na Avenida Paulista aparecerem uns 50 mil pedindo o impeachment, mesmo que em outras partes do país não se junte mais do que 5 mil nos principais atos, o movimento pode começar a ganhar fôlego. E a partir da ampliação do volume das investigações e da perda de força do governo, chegar em maio ou junho muito maior. Se forem uns 100 mil, aí o imponderável entrou em campo.
Este ano de 2015 tende a ser muito pior do que 2005 para o PT e o governo. E se nada mudar os anos subsequentes também seguirão a mesma lógica se comparados com os da década passada.
Ainda é cedo para sair acelerando e por isso é compreensível que o governo esteja esperando que a tempestade ao menos cesse por alguns minutos. A questão é que não se sabe se isso vai acontecer. E talvez seja o caso de começar a pilotar de forma mais arriscada, mesmo sabendo que o risco de derrapar é grande. Porque, com o carro parado, o risco é vê-lo ficar submerso na enchente sem fazer nada.
Ou Dilma aposta no povo e faz um governo popular, ou corre o risco de ver o povo na rua pedindo seu impeachment.
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