segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Solidão Politica. E agora, Dilma?


Da esquerda para a direita: Dilma, Mercadante, Miguel Rossetto e Pepe Vargas

Três pragas já rondavam o Palácio do Planalto antes de domingo para tirar o sono da presidente Dilma 
Rousseff: Petrolão, recessão e apagão.
Agora, com a humilhante derrota sofrida contra o PMDB de Eduardo Cunha na eleição para o 
comando da Câmara, apareceu mais uma : a solidão política. A cada dia, aumenta o número de 
opositores ao governo e diminui o de aliados.
É só fazer as contas: após as eleições de outubro, a presidente Dilma contava com uma ampla maioria 
da base aliada formada por 329 deputados eleitos, contra 181 da oposição.
Anunciado o resultado da votação para a presidência da Câmara, na noite de domingo, o placar 
simplesmente se inverteu: somando os 267 votos de Cunha, deputado federal do PMDB fluminense, 
um desafeto declarado do governo, aos 100 da oposição de Júlio Delgado (PSB, apoiado pelo PSDB), 
temos 367 deputados, contra apenas 136 de Arlindo Chinaglia, o candidato oficial do governo.
Foi o que restou de deputados fiéis ao governo com a estratégia do "tudo ou nada" adotada pelo novo 
comando político do Palácio do Planalto para derrotar Eduardo Cunha.
Pior do que isso: na sucessão de lambanças em torno da candidatura de Chinaglia, o trio formado pelos 
ministros planaltinos Aloizio Mercadante, Pepe Vargas e Miguel Rossetto, a tropa de choque de 
Dilma, o PT ficou sem nenhuma das 11 cadeiras da direção da Câmara dos Deputados. Ou seja, ficou 
com nada.
Mercadante já era o homem forte de Dilma ao final do primeiro governo, contestado no próprio partido 
e pelo ex-presidente Lula; Rossetto e Vargas foram recrutados por Dilma na Democracia Socialista 
gaúcha, uma tendência minoritária do PT.
Pela primeira vez na era PT, Lula sumiu de cena nas negociações para a formação do ministério e das 
novas Mesas que comandarão o Congresso Nacional nos próximos dois anos e acabaram jogando os 
descontentes do PMDB no colo da oposição.
A maior derrota política sofrida por um governo do PT, desde 2003, começou, na verdade, a ser 
plantada na formação do novo ministério, este verdadeiro saco de gatos que junta nulidades notórias 
com políticos de passado pouco recomendável.
De onde os sábios do Planalto tiraram esta ideia de jerico para diminuir a força do PMDB na 
Esplanada, em favor dos novos partidos de Cid Gomes (PROS) e Gilberto Kassab(PSD), dois políticos 
de expressão apenas regional, além de abrigar uma penca de nanicos? Deu no que deu.
No próprio domingo, antes mesmo do vexame anunciado do candidato do governo, Dilma convocou 
os ministros da (des)articulação política para uma reunião de emergência nesta segunda-feira. O 
governo quer propor um "acordo pela governabilidade" com o PMDB do agora todo-poderoso 
Eduardo Cunha, que vai comandar a agenda política daqui para a frente.
Agora??? Com sangue nos olhos, Cunha estaria interessado em qualquer tipo de acordo, a esta altura 
do campeonato, depois da blitzkrieg desfechada contra ele nas últimas duas semanas, com a utilização 
de todos os recursos oficiais imagináveis e não imagináveis, para evitar a traição dos aliados?
Conseguiram apenas aumentar a bronca dos parlamentares com o PT e o governo, jogar água no 
moinho do suprapartidário desafeto e atiçar a oposição formal, que perdeu as eleições de outubro, mas 
está toda fagueira chegando ao poder de fato, agora aliada ao PMDB de Cunha e da dissidência 
governista no Senado, engordada por partidos que eram da base aliada e foram desgarrando a cada 
movimento da tropa de choque dos trapalhões.
Fizeram strike. Posso imaginar o clima na abertura desta reunião de emergência.
-  E agora, presidente Dilma?
Se algum ministro tiver coragem de perguntar o que todo mundo tem vontade de saber, a presidente 
poderá retrucar aos seus companheiros de naufrágio:
-  E agora??? E agora???, pergunto eu!!!, meus queridos.
Lamento muito ter que dizer isso, mas este segundo governo Dilma começa em ritmo de Quarta-Feira 
de Cinzas antes mesmo do Carnaval. E corre o risco de acabar antes de começar.
Vida que segue.
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