Publicado na DW.
Estilos de roupa diferentes já deixariam bastante claro que o ministro das Finanças holandês e chefe do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, e o novo e polêmico ministro das Finanças da Grécia, Yanis Varoufakis, não estão em sintonia
Enquanto Dijsselbloem acomodava-se na cadeira para a entrevista coletiva com um elegante terno escuro e gravata, Varoufakis preparava-se para a conversa com os jornalistas com uma camisa azul turquesa desabotoada e para fora das calças.
Mas não somente pela sua aparência pouco convencional Varoufakis vive dias de “popstar” da economia: o novo ministro grego já se distanciava politicamente do holandês pelas suas declarações.
“Nosso país se recusa a cooperar com a troica”, disse Varoufakis com um sorriso no rosto na sexta-feira (30/01). A declaração foi manchete na imprensa internacional. Em todos os cantos da Europa, perguntava-se se o ministro estava realmente falando sério.
Esfriando o discurso
O homem que descreveu o programa de resgate da União Europeia para a Grécia como um “afogamento simulado” – um método de tortura que deixa a vítima à beira da asfixia usando água – foi levado a sério. Com o iminente desconforto, o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, tentou, logo em seguida, aparar arestas, ligando para o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e para o presidente do Banco Central, Mario Draghi.
Como efeito, muitos gregos lotaram as agências bancárias preocupados com suas economias. O Banco Central Europeu ameaçou parar de injetar dinheiro no final de fevereiro caso Atenas não chegue a um acordo com seus credores até lá. Mais tarde, em uma entrevista à BBC, Varoufakis mesmo tratou de esfriar a polêmica.
“É claro que se vai negociar com as várias instituições da troica, portanto com a Comissão Europeia, o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu”, disse o ministro grego, salientando também a necessidade de conversar diretamente com os países doadores. “Nós queremos um novo programa, um novo acordo para a Grécia.”
Promessas de campanha
Um novo programa significa para Varoufakis alívio nas dívidas. Ele disse que é preciso negociar acordos de empréstimos com os parceiros europeus, que, para ele, representa uma praga para toda a Europa. Seu objetivo, afirma, é reformar a Grécia.
“Este país espera por reformas há cinco anos e não recebeu nada. Ao contrário, nós nos deformamos às custas de um programa de austeridade que não combate o câncer na economia grega”, disse o ministro de 53 anos. Ele diz que pretende também combater as oligarquias, a corrupção de colarinho branco e a imunidade tributária.
Varoufakis enfrenta agora o imenso desafio de restabelecer a “dignidade dos gregos”. Alexis Tsipras e seu partido, o Syriza, prometeram durante as eleições que muitos trabalhadores demitidos das suas funções públicas devido ao programa de austeridade e de reformas da Troica seriam readmitidos rapidamente.
O salário mínimo também seria reajustado, em 40%. A questão é que é necessário dinheiro para o projeto se concretizar. E Varoufakis ainda não deixou transparecer como ele quer pôr em prática o que planejou.
Cerca de 25% dos trabalhadores na Grécia estão desempregados – o percentual dobra entre os jovens. Se promessas não forem cumpridas, o governo de Tsipras pode perder a credibilidade.
Os seus apoiadores esperam que o novo governo consiga os libertar das rígidas medidas econômicas impostas em 2010, que são associadas pelos gregos à troica.
A Europa, diz o ministro, decidiu liberar os maiores créditos da história moderna sobre os ombros mais frágeis – dos contribuintes gregos. As pessoas, segundo ele, têm que comprometer um quarto das suas rendas para possibilitar isso.
“Qualquer criança entende que isso não pode ter bom resultado”, afirmou Varoufakis logo após sua posse como ministro das Finanças.
O fim da teoria
Varoufakis concluiu doutorado em Economia na Universidade de Essex, após estudar matemática e estatística. Teve contatos anteriores com a política quando era consultor para o líder oposicionista social-democrata Giorgios Papandreou. Mas eles entraram em conflito antes das eleições legislativas de 2009.
Quando a crise estourou, há cinco anos, ele analisou como professor a gestão das crises em Austrália, Escócia e Estados Unidos. Em seu livro, The Global Minotaur (O minotauro global, em tradução livre), ele incentiva um debate de base ao invés de ações de resgate frenéticas. Mas agora, como ministro, debater não é mais suficiente. Ele tem de colocar em prática o que seu governo anunciou.
“Abaixo a austeridade” é a mensagem clara de Varoufakis. Dívidas, afirma, só podem ser pagas por quem registra crescimento e gera excedentes.Segundo ele,Ambos os fatores, no entanto, estão sendo sistematicamente bloqueados na Grécia.
Muitos gregos acreditam que a Alemanha e a chanceler federal Angela Merkel teriam desempenhado um papel fundamental para que Atenas chegasse a essa situação. Enquanto Varoufakis inicialmente disparava agressivamente contra Berlim, afirmando que os alemães precisam pagar de qualquer maneira, agora ele parece retroceder.
“Como locomotiva de crescimento, a Alemanha é importante para a Europa”, disse o ministro a um jornal. Até agora nenhum integrante do novo governo grego havia dito isto de forma tão clara.
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