segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

O que o governo Dilma (não) fez desde o início da Lava Jato



O Raio-X da crise política



Vamos a mais um Raio-X da crise, em cima do desenho que venho apresentando desde a crise do 
mensalão. Esta é a última versão, publicada quando do estouro da Lava Jato.
Um balanço de como o quadro evoluiu de lá para cá.
O ponto central de disputa é o mandato de Dilma Rousseff, influenciado por quatro subgrupos de 
opinião:

• Opinião pública
• Empresariado
• Judiciário
• Congresso.

Por outro lado, esses grupos são influenciados por fatores como escandalização, situação da economia, 
restrições orçamentárias etc.
Vamos ver como cada tópico está sendo administrado:

Escandalização
O ponto central é a Lava Jato e a ofensiva em cima da Petrobras.
Esses pontos exigiriam a seguinte estratégia por parte do governo Dilma e do PT:

Monitoramento das delações – deveria ser papel do Ministro da Justiça e dos advogados do PT. 
Nada foi feito. Do Procurador Geral da República Rodrigo Janot ouvi que os vazamentos estavam 
sendo absolutamente seletivos e que as denúncias atingiam indistintamente a todos – inclusive algumas 
bombas de hidrogênio na oposição. Nada foi feito para reverter a parceria Grupo de Trabalho-mídia, 
sequer chegaram ao fim os inquéritos sobre o vazamento para a Veja ou sobre o ativismo político de 
delegados da Lava Jato.
Há o protagonismo total da oposição acumpliciada com grupos de mídia.

Fortalecimento da Petrobras – a única defesa razoável da Petrobras está sendo feita pelo ex-
presidente José Gabrielli, que foi colocado na fogueira pela própria Dilma. Para mostrar que não cede a 
pressões de espécie alguma, Dilma manteve a diretoria da empresa e a presidente Graça Foster, 
emocional e politicamente desgastada com o episódio. Agora, a opinião pública acha que os R$ 88 
bilhões de ajuste do balanço são fruto da corrupção, colocando mais lenha na fogueira.
Na presidência do Conselho – que exigiria um executivo com experiência internacional e status de 
Ministro, para negociar com o MPF, com os bancos credores da cadeia produtiva, para montar 
estratégia de compliance e de divulgação de informações – nomeou o ex-Ministro Guido Mantega.
Agora, cada estampido da Lava Jato reverbera no Congresso e na opinião pública.

Economia
Nomeou Joaquim Levy e Nelson Barbosa, aplacando por algum tempo os temores do empresariado. 
Mas a estratégia montada tem forte componente recessivo, leva tempo para surtir efeito e exige que seja 
contrabalançada por alguns respiros anticíclicos.
A demora em acenar com o pacote de bondades pode acirrar os sindicatos e movimentos sociais. Some-
se as tentativas de “golpes paraguaios”, para se ter um caldeirão fervente de manifestações populares.

Operação política
Antes mesmo da eleição de Eduardo Cunha para presidente da Câmara, sabia-se que as relações com o 
Congresso – problemáticas, devido ao próprio estilo Dilma – piorariam com as restrições orçamentárias.
Dilma abriu mão de um Ministério forte para poder enfrentar Eduardo Cunha na Câmara. Perdeu feio. 
Pior, quando a derrota já se desenhava, poderia ter composto com Cunha – que, admitamos, é um 
horror de político.
Mas Dilma preferiu, mais uma vez, uma aposta de alto risco a uma composição. E a direção do PT 
mostrou que não tem musculatura para delinear estratégias parlamentares adequadas.
Um antigo frequentador do Planalto dizia que Dilma não vê adversários, mas apenas inimigos pela 
frente. Ora, no caso Eduardo Cunha, posto que a tragédia era inevitável, o caminho a seguir seria tapar 
o nariz e propor um pacto.

Judiciário
Por ocasião da análise das contas de Dilma pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), fui alertado para a 
tentativa de “golpe paraguaio” por autoridade do setor, conhecedora dos meandros do TSE. Ela alertou 
um jornalista ou por não ter canais no Palácio ou por não acreditar na capacidade de reação dos 
Ministros de Dilma.
Entre outros motivos para o fato de José Antônio Dias Toffoli ter se bandeado para o lado de Gilmar 
Mendes está o episódio de que, em plena campanha e, na condição de presidente do TSE, Toffoli 
convidou os dois candidatos favoritos – Dilma e Aécio – para uma reunião onde seria acertado uma 
espécie de armistício. Aécio acolheu prontamente a ideia; Dilma recusou-se até a atender telefonema de 
Toffoli.
Não justifica a pequenez de Toffoli, mas explica.

Saídas
Tem-se a seguinte situação:

1. Sozinha, Dilma não dará conta do recado de articular uma estratégia política, colocar o governo para 
rodar e sair das cordas.
2. A recomposição política exigiria, como primeiro passo de Dilma, o reconhecimento de suas 
fragilidades e a mudança na forma de governar e decidir, com a nomeação de conselhos – indicados 
por ela – para assessorá-la nos principais desafios e para definir uma estratégia de resistência.
3. Até agora, não há nenhum sinal no ar de que a presidente mudará o estilo.

Na verdade, Dilma só se fortalece quando Fernando Henrique Cardoso explicita seus propósitos 
golpistas e estimula a reação dos setores legalistas – que precisam fazer das tripas coração para 
defender a legalidade política contra a fragilidade do principal avalista, a presidente da República.
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