quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Nenhum governo resiste ao vácuo de poder



Luis Nassif

Há um perigoso vácuo de poder no governo Dilma Rousseff.
No dia seguinte à eleição de Dilma, a oposição inaugurou o terceiro turno, uma guerra implacável de
desestabilização.
Criou-se um problema a mais em um cenário já complexo, com problemas fiscais, economia estagnada, 
contas externas deficitárias, o desemprego começando a se apresentar.
Dilma tem um conjunto de questões para administrar, divididas da seguinte maneira:
Decisões complexas e difíceis de implementar. Exemplo: compatibilizar ajuste fiscal com crescimento e 
emprego.
Decisões complexas e fáceis de implementar. Por exemplo, a eleição da presidência da Câmara. Tendo 
o poder do rei, a presidente saía com vantagem do jogo. Mas a questão era complexa e não se 
conseguiu analisar todas as variáveis.
Decisões simples e fáceis de implementar. A crise da Petrobras.
O caminho para resolver a crise da Petrobras é óbvio, embora exija medidas corajosas. Trata-se de 
isolar a operação da crise.
Indique-se um executivo com uma nova diretoria para assumir a presidência e tocar o barco, sem a 
herança injustamente carregada pela diretoria atual.
Nomeie-se um presidente de Conselho de Administração experiente, para negociar com a Lava Jato, 
com a Price e com os bancos, para preservar a cadeia do petróleo e gás. Essa pessoa teria sob seu 
comando uma força tarefa especialmente preparada para administrar a crise.
Não se trata de fórmula mágica mas do caminho óbvio a ser seguido por qualquer empresa racional.
É o caminho que seria adotado, por exemplo, pela própria presidente da Petrobras Graça Foster, pela 
diretoria, pelo Conselho de Administração, pelos assessores de Dilma no Palácio, pelos Ministros da 
área econômica e por qualquer agente dotado de racionalidade.
***
Mas Dilma chamou a si a decisão e, para mostrar que uma dama de ferro nunca verga, manteve a 
diretoria e a presidente Graça Foster. Parecia solidariedade à amiga fiel. Não era. Era apenas uma 
maneira de não dar o braço a torcer.
Graça é um exemplo de lealdade. Assumiu um desafio monumental, o de expurgar a Petrobras das 
influências políticas de alguns diretores, desafio, aliás, muito acima de sua experiência de petroleira.
Viu-se envolvida em uma crise que ela não armou, foi alvo de denúncias vazias, mas que ameaçam o 
patrimônio que juntou com décadas de uma carreira exemplar.
***
Quando as circunstâncias envolveram seu nome na Lava Jato, era hora de ser poupada. Dilma exigiu 
que continuasse, ao custo da sua própria saúde.
Esta semana, Graça foi chamada ao Palácio. Saiu sem se demitir, mais uma vez atendendo o pedido da 
amiga. Ontem, ela e a diretoria apresentaram formalmente seu pedido de demissão, pegando Dilma de 
surpresa.
Mesmo sabendo-se que a saída de Graça era inevitável e questão de tempo, nenhum executivo ainda 
havia sido sondado para ocupar a presidência da companhia.
Agora, finalmente Dilma tomará uma decisão. Mas apenas quando a decisão tornou-se inevitável.
***
A política não aceita vácuos de poder. Apesar das Cassandras – FHC e amigos – o quadro hoje é 
bastante distinto dos tempos de Goulart. A legalidade democrática tornou-se um valor nacional.
Mas não há governo que resista a tanta falta de decisão.
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