segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

O que significa para o mundo a vitória do Syriza


Tsipras quer taxar os ricos e punir sonegação. “Vitória do Syriza, partido nascido em 2009, nas 
eleições gregas lembra o básico: eleitorado pode ser cruel com governos que não defendem 
empregos e salários”, segundo ele, experiência ensina ao Brasil que “todo cuidado é pouco”: 
‘comprometida com a perspectiva de “arrumar a casa”, a presidente tem se demonstrado 
particularmente zelosa quando se trata dos direitos dos trabalhadores’.

por : Paulo Nogueira

A vitória da esquerda na Grécia pode ser uma das duas seguintes alternativas.
Apenas isso, uma vitória da esquerda na Grécia.
A primeira manifestação de exaustão, no mundo, do receituário conservador para combater a crise econômica.
Em breve se saberá qual das duas sentenças prevalecerá. Seja como for, todos os olhos convergem, a partir de agora, para a Grécia, em busca dos desdobramentos da vitória do Syriza e de seu jovem e carismático líder Alexis Tsipras.
No Brasil, particularmente, o triunfo da esquerda grega coincide com a adoção, por Dilma, de um programa econômico que coincide, em muitos pontos, com aquilo que está sendo repudiado pelos gregos.
Para simplificar, Joaquim Levy é o anti-Syriza por excelência.
Na esquerda brasileira, o PT incluído, provavelmente serão inflamados os debates nos próximos tempos.
Embora tenha um retrato de Che Guevara em seu gabinete e tenha dado o nome de Ernesto a um filho, Tsipras não é um incendiário.
Ele não prega a saída da Grécia da União Europeia, por exemplo. Mas não quer que a permanência nela do país tenha o brutal custo social que vem tendo.
Será complicada a vida da Grécia longe da zona do euro. O primeiro e imenso desafio seria a criação de uma nova moeda, e outros obstáculos complexos apareceriam rapidamente no caminho.
Mas também é difícil para a União Europeia a saída da Grécia, porque poderia ter um efeito dominó que colocaria em risco o euro.
Por isso, o realismo sugere que as partes encontrarão uma solução conciliadora.
As ideias defendidas por Tsipras não são incompatíveis com a presença da Grécia na União Europeia.
Ele tem falado em coisas que estão no discurso de muitos líderes de países desenvolvidos ocidentais: taxar mais fortemente os mais ricos e combater severamente a evasão fiscal.
Obama tem dito coisas parecidas.
Nestes dois campos – taxar os ricos e cercar a sonegação – é o Brasil, e não a Grécia, que parece perdido no tempo.
Em nenhum momento em sua campanha Dilma tocou em tais temas.
Dias depois de vir à luz uma manobra do Bradesco num paraíso fiscal para fugir de impostos, Dilma bateu no banco duas vezes em busca de um ministro da Economia.
Acabou acertando na segunda tentativa, com Levy. É aquele tipo de pragmatismo que resultou no abraço de Lula em Maluf, ou na longa aliança com Sarney.
E embora até os bilionários brasileiros admitam secretamente que pagam muito pouco em impostos, ninguém no governo fala em aumentar, ainda que modicamente, sua contribuição.
A chegada do Syriza ao poder na Grécia lembra a chegada do PT ao poder no Brasil, há doze anos.
Inclui-se nas semelhanças o terrorismo retórico das forças conservadoras.
Se olhar para o caso brasileiro, Tsipras vai entender com clareza que será um erro repetir qualquer coisa parecida com a “Carta aos Brasileiros” – com a qual Lula acalmou o “mercado” e abdicou de fazer um governo verdadeiramente renovador.
Em todas as partes do mundo, a esquerda espera que o Syriza não sucumba à tentação de uma acomodação que, como ocorreu com o PT, o impeça de ser o Syriza.
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