Eduardo Cúnha e Severino Cavalcanti
No Balaio do Kotscho,
O que diria o velho doutor Ulysses, ao observar, lá do alto, esta renhida disputa pelo comando da
Câmara?
"Vocês ainda vão sentir saudades do Severino Cavalcanti...", poderia comentar naquele seu jeitão
"Vocês ainda vão sentir saudades do Severino Cavalcanti...", poderia comentar naquele seu jeitão
cético de quem sabia das coisas, diante da ameaça real da vitória do deputado carioca Eduardo Cunha,
na eleição deste domingo, para ocupar o terceiro cargo da República.
Se lesse esse texto, Ulysses me faria uma ressalva: "Velho, sim, mas não velhaco". Pois agora,
Se lesse esse texto, Ulysses me faria uma ressalva: "Velho, sim, mas não velhaco". Pois agora,
parafraseando Nelson Rodrigues, o capitão da resistência democrática poderia constatar que os
velhacos perderam a modéstia e já dominam o picadeiro, viraram protagonistas.
Só para lembrar, Severino era um legítimo representante do chamado baixo clero, como Cunha
Só para lembrar, Severino era um legítimo representante do chamado baixo clero, como Cunha
também é, no papel de líder do sindicato dos deputados sem rosto, sempre em busca de mais
vantagens. Só que, perto de Cunha, o folclórico deputado pernambucano, que surpreendeu o país ao
ser eleito para a presidência da Câmara, em 2005, era um amador, podemos dizer, até um romântico.
No jogo de chantagens do Legislativo com o Executivo, Severino queria apenas uma diretoria da
Petrobras, "aquela que fura poços", e acabou se vendendo por um módico mensalinho de R$ 10 mil
mensais ao concessionário do restaurante da Câmara. Eram outros tempos.
Eduardo Cunha é, acima de tudo, um profissional. Age, não como sindicalista, mas como empresário,
como bem constatou o colega Luiz Fernando Vianna, desde que surgiu nas franjas do submundo da
política fluminense, levado pelas mãos de PC Farias, no começo dos anos 1990, para ocupar um cargo
na falecida Telerj.
Desde então, aliado ora a Collor, ora a Garotinho, ora a Cesar Maia, acumula em seu currículo um
longo prontuário de processos na Justiça, que não o impediram de seguir na sua vitoriosa carreira,
chegando aonde chegou, como franco favorito. Pode ganhar até no primeiro turno, derrotando o
governo federal, que acabou de tomar posse, e do qual é desafeto assumido.
Suprapartidário, é líder do PMDB, o principal aliado do governo, mas ninguém na Câmara é mais
Suprapartidário, é líder do PMDB, o principal aliado do governo, mas ninguém na Câmara é mais
oposicionista do que ele. Gabou-se nas últimas eleições de ter ajudado a eleger sua própria bancada e
logo lançou-se em campanha pela presidência, com a retaguarda garantida por grandes grupos de
variados interesses econômicos e midiáticos, que sempre o apoiaram.
Do outro lado, concorre para valer só o candidato oficial do governo, Arlindo Chinaglia, do PT
paulista, que já foi um anódino presidente da Câmara. Chinaglia joga suas últimas fichas no trabalho de
ministros do Palácio do Planalto, correndo atrás do prejuízo, com suas planilhas para cobrar fidelidade
de parlamentares dos partidos aliados que ocupam cargos no governo.
Durante toda esta "campanha eleitoral" milionária na caça ao voto dos deputados, com jatinhos e
comilanças à vontade, nenhum dos dois discutiu os graves problemas nacionais, muito menos projetos
para o país. A disputa entre os dois se limita a saber quem oferece mais cargos e mordomias às
insaciáveis excelências.
Como o voto é secreto, ninguém saberá quem trairá quem, mas de uma coisa podemos ter certeza:
ganhe quem ganhar, diante deste cenário de vale tudo, perderemos nós.
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