Por Miguel do Rosário
Os ataques contra a Petrobrás se dão em inúmeras frentes.
1) Há um ataque especulativo, com forte viés político, cuja dinâmica se tornou explícita durante
a campanha eleitoral.
Sempre que as intenções de voto em Dilma caíam, as ações da estatal subiam, o que sinalizava
claramente o desejo de um grupo de acionistas que a Petrobrás adotasse uma política mais voltada para
o lucro rápido e fácil, e menos para o longo prazo.
Aliás, esta é a razão pela qual a venda de ações da estatal na bolsa de NY, comandada por FHC,
foi tão lesiva à nossa soberania.
As razões estratégicas que movem os investimentos da Petrobrás raramente se confundem com a de
seus acionistas na bolsa de NY.
Esses ataques são perigosos e contundentes, mas o seu poder de fogo não é ilimitado.
Os especuladores atacam vendendo papeis e, com isso, reduzem a sua participação na estatal.
Uma resposta óbvia do governo seria recomprá-los, usando as reservas internacionais, criando um fato
político e financeiro importante.
As reservas brasileiras em dólar encontram-se em momento de forte valorização, em virtude da
situação cambial.
Uma iniciativa deste porte encontraria, naturalmente, dificuldades políticas, visto que o governo ainda
não se decidiu a criar um sistema mínimo de comunicação.
A comunicação pública do governo Dilma permanece terceirizada, por incrível que pareça, à grande
mídia, a mesma que lhe faz oposição.
A única informação vinda do Planalto, nos últimos dias, chegou através do blog de Gerson Camarotti,
da Globo, que citou fontes anônimas próximas a Dilma.
As tais “fontes do Planalto” da Globo, estranhamente, sempre cantam em harmonia com a música
tocada pela mídia.
É como se o pentágono, após invadir o afeganistão e assumir o controle do país, entregasse a
comunicação oficial aos talibãs.
Tranquilizem-se, porém.
Daqui a pouco, Mercadante dará outra entrevista exclusiva à Miriam Leitão, na tv fechada, assistida
por 205 telespectadores, na qual explicará as diretrizes do governo.
2) Há um ataque propriamente político à Petrobrás.
Na capa do site da Globo, vemos a chamada: “As sete pragas do Egito se abatem sobre a Petrobrás”.
Clico no link, interessado no título e em informações novas sobre as desgraças da estatal.
É um post mixuruca, curtinho, de 270 palavras, de Luiz Felipe Lampreia, ex-ministro das Relações
Exteriores no governo FHC, feito apenas xingar, oportunisticamente, a Lei do Petróleo, aprovada pelo
Congresso em 2010. Esta é a lei que definiu parâmetros minimamente nacionalistas para a exploração
do pré-sal.
O Globo quer usar o ataque especulativo, até porque este ataque tem este objetivo, para forçar o
governo a rever a lei e abrir a exploração de petróleo ao capital estrangeiro.
Ora, a lei brasileira é moderna e permite a entrada de outros países, tanto que várias áreas do pré-sal,
incluindo uma das maiores, o campo de Libra, já estão sendo exploradas por empresas chinesas e
europeias. Só que a Petrobrás tem sempre o mínimo de 30%.
Não adianta. Eles querem tudo. Querem 100% do nosso petróleo.
3) O ataque midiático à Petrobrás vem de longe. Como estatal federal, a Petrobrás sempre
representou, para a direita brasileira, tudo o que ela mais odeia.
Atualmente, o ataque se dá confundindo a sociedade. A queda no preço do petróleo é um fenômeno
global e puxa para baixo as cotações de todas as petrolíferas, não apenas da Petrobrás.
Entretanto, não houve nenhuma mudança brusca nos fundamentos. Ainda não há nenhum substituto
comercialmente viável para o petróleo como uma das matérias-primas mais importantes do mundo, e a
população mundial continua crescendo, ou seja, demandando cada vez mais combustível e derivados.
Vargas, o idealizador da Petrobrás, escreveu em sua carta-testamento, antes de se suicidar com um tiro
no peito:
“(…) a campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados
contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra
a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na
potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de
agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja
livre.”
Este ataque é um dos mais perigosos, até porque ele se expande lá fora. Como o Brasil não possui uma
mídia pública, nacionalista, como possui Alemanha, Inglaterra, Rússia, China, Noruega, além de todos
os países árabes, o mundo se informa sobre o Brasil através da mídia de oposição.
Nas seções de imprensa das bibliotecas europeias, quando se quer saber sobre o Brasil, não há muita
coisa além de Veja e Globo.
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