segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Wikileaks: PSDB promoteu a americanos rever lei do pré-sal



Por Natalia Vianna, em CartaCapital - Wikileaks 

“A indústria de petróleo vai conseguir combater a lei do pré-sal?”. Este é o título de um extenso
telegrama enviado pelo consulado americano no Rio de Janeiro a Washington em 2 de dezembro do 
ano passado.
Como ele, outros cinco telegramas a serem publicados hoje pelo WikiLeaks mostram como a missão 
americana no Brasil tem acompanhado desde os primeiros rumores até a elaboração das regras para a 
exploração do pré-sal – e como fazem lobby pelos interesses das petroleiras.
Os documento revelam a insatisfação das pretroleiras com a lei de exploração aprovada pelo 
Congresso – em especial, com o fato de que a Petrobras será a única operadora – e como elas atuaram 
fortemente no Senado para mudar a lei.
“Eles são os profissionais e nós somos os amadores”, teria afirmado Patrícia Padral, diretora da 
americana Chevron no Brasil, sobre a lei proposta pelo governo . Segundo ela, o tucano José Serra 
teria prometido mudar as regras se fosse eleito presidente.
Partilha
Pouco depois das primeiras propostas para a regulação do pré-sal, o consulado do Rio de Janeiro 
enviou um telegrama confidencial reunindo as impressões de executivos das petroleiras.
O telegrama de 27 de agosto de 2009 mostra que a exclusividade da Petrobras na exploração é vista 
como um “anátema” pela indústria.
É que, para o pré-sal, o governo brasileiro mudou o sistema de exploração. As exploradoras não terão, 
como em outros locais, a concessão dos campos de petróleo, sendo “donas” do petróleo por um 
deteminado tempo. No pré-sal elas terão que seguir um modelo de partilha, entregando pelo menos 
30% à União. Além disso, a Petrobras será a operadora exclusiva.
Para a diretora de relações internacionais da Exxon Mobile, Carla Lacerda, a Petrobras terá todo 
controle sobre a compra de equipamentos, tecnologia e a contratação de pessoal, o que poderia 
prejudicar os fornecedores americanos.
A diretora de relações governamentais da Chevron, Patrícia Padral, vai mais longe, acusando o 
governo de fazer uso “político” do modelo.
Outra decisão bastante criticada é a criação da estatal PetroSal para administrar as novas reservas.
Fernando José Cunha, diretor-geral da Petrobras para África, Ásia, e Eurásia, chega a dizer ao 
representante econômico do consulado que a nova empresa iria acabar minando recursos da Petrobrás.
O único fim, para ele, seria político: “O PMDB precisa da sua própria empresa”.
Mesmo com tanta reclamação, o telegrama deixa claro que as empresas americanas querem ficar no 
Brasil para explorar o pré-sal.
Para a Exxon Mobile, o mercado brasileiro é atraente em especial considerando o acesso cada vez mais 
limitado às reservas no mundo todo.
“As regras sempre podem mudar depois”, teria afirmado Patrícia Padral, da Chevron.
Combatendo a lei
Essa mesma a postura teria sido transmitida pelo pré-candidtao do PSDB a presidência José Serra, 
segundo outro telegrama enviado a Washington em 2 de dezembro de 2009.
O telegrama intitulado “A indústria de petróleo vai conseguir combater a lei do pré-sal?” detalha a 
estratégia de lobby adotada pela indústria no Congresso.
Uma das maiores preocupações dos americanos era que o modelo favorecesse a competição chinesa, já 
que a empresa estatal da China, poderia oferecer mais lucros ao governo brasileiro.
Patrícia Padral teria reclamado da apatia da oposição: “O PSDB não apareceu neste debate”.
Segundo ela, José Serra se opunha à lei, mas não demonstrava “senso de urgência”. “Deixa esses caras 
(do PT) fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos 
mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, teria dito o pré-
candidato.
O jeito, segundo Padral, era se resignar. “Eles são os profissionais e nós somos os amadores”, teria dito 
sobre o assessor da presidência Marco Aurelio Garcia e o secretário de comunicação Franklin Martins, 
grandes articuladores da legislação.
“Com a indústria resignada com a aprovação da lei na Câmara dos Deputados, a estratégia agora é 
recrutar novos parceiros para trabalhar no Senado, buscando aprovar emendas essenciais na lei, assim 
como empurrar a decisão para depois das eleições de outubro”, conclui o telegrama do consulado.
Entre os parceiros, o OGX, do empresário Eike Batista, a Federação das Indústrias do Estado de São 
Paulo (FIESP) e a Confederação Naiconal das Indústrias (CNI).
“Lacerda, da Exxon, disse que a indústria planeja fazer um ‘marcação cerrada’ no Senado, mas, em 
todos os casos, a Exxon também iria trabalhar por conta própria para fazer lobby”.
Já a Chevron afirmou que o futuro embaixador, Thomas Shannon, poderia ter grande influência nesse 
debate – e pressionou pela confirmação do seu nome no Congresso americano.
“As empresas vão ter que ser cuidadosas”, conclui o documento. “Diversos contatos no Congresso 
(brasileiro) avaliam que, ao falar mais abertamente sobre o assunto, as empresas de petróleo 
estrangeiras correm o risco de galvanizar o sentimento nacionalista sobre o tema e prejudicar a sua 
causa”.
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