quinta-feira, 2 de outubro de 2014

O que significa a Bolsa de Valores desabar sempre que Dilma cresce nas pesquisas?



por : Paulo Nogueira

O que significa a Bolsa de Valores desabar a cada momento que parece mais provável a vitória de Dilma?
Imagino que o BM, o Brasileiro Médio, se faça essa pergunta diante das repetidas notícias de queda na Bolsa.
A resposta é: é um problemão para quem tem dinheiro aplicado na Bolsa de Valores, uma fração insignificante da sociedade.
A Bolsa brasileira sempre foi irrelevante. Poucas empresas, ao longo dos tempos, decidiram abrir seu capital.
Na mídia, por exemplo, que não para de noticiar agora a instabilidade das ações, nenhuma grande empresa foi para a Bolsa.
A visão hostil em relação à Bolsa faz parte da cultura nacional, pouco disposta ao risco. Fora isso, há investimentos seguros que pagam altas – em certos momentos altíssimas – taxas de juros.
Suponha que, numa virada sensacional, a Bolsa começasse a bater recordes. Mais uma vez: não significaria nada para o BM.
O BM não come ações.
Em compensação, alguns especuladores ganhariam muito dinheiro.
Por trás do noticiário catastrofista, está uma tentativa de intimidar o eleitor assustadiço e convencê-lo a votar no “candidato do mercado”, Aécio.
As pesquisas mostram que o BM não é o idiota que alguns pensam que é.
Pressões baseadas no apocalipse são comuns. Numa clássica, o então presidente da Fiesp, Mário Amatto, disse que 800 000 empresários deixariam o país caso Lula vencesse as eleições de 1990.
O “mercado” se agitou também em 2002, diante da iminência da vitória de Lula. Lula piscou, e disso nasceu a Carta aos Brasileiros, na qual o PT se comprometeu a seguir a essência da política econômica de FHC.
Quer dizer: o PT abdicava, ali, de ser um partido de esquerda. Começava um movimento que levaria o partido ao centro, ou à centro-esquerda.
(Um efeito colateral dessa caminhada do PT rumo ao centro foi a transformação do PSDB num partido de direita.)
O terrorismo econômico de 2014 não é muito diferente do de 1989, e nem do de 2002.
O que se deseja, a rigor, é que Dilma se comprometa com uma agenda da qual o “mercado” goste.
Lula parece ter aprendido, pelo que ele fala agora, que no fundo se trata de mais um blefe. Não era verdade que 800 mil empresários debandariam, e nem que o Brasil entraria em colapso se não fosse seguida a receita ortodoxa de FHC em 2002.
Mais uma vez, o que temos é o 1% sempre querendo manipular os 99%: a rigor, não é mais nem menos que isso.
Durante muitos anos, na ditadura militar e depois mesmo no governo FHC, os brasileiros foram enganados com o argumento de que era preciso fazer o bolo – a economia – crescer para depois distribuí-lo.
O bolo cresceu e, como mostram os dados da desigualdade, jamais foi distribuído decentemente por sucessivas administrações.
Num mundo menos imperfeito, a mídia teria cobrado duramente ações para fazer do Brasil um país menos abjetamente injusto.
Mas não.
A imprensa nunca fez do combate à iniquidade uma causa, porque se beneficiou da desigualdade. Os donos das empresas de jornalismo acabaram figurando entre as pessoas mais ricas do Brasil.
A melhor atitude que o BM, o Brasileiro Médio, deve tomar diante das trepidações da Bolsa é ignorá-las.
De alguma forma, pode até respirar aliviado. Nas presentes circunstâncias, caso a Bolsa estivesse bombando, é porque – como prometeu Aécio a um grupo de empresários no começo da sua campanha – medidas impopulares estariam ali na esquina.
E delas ninguém escapa, salvo os suspeitos de sempre, o chamado 1%.
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