terça-feira, 28 de outubro de 2014

Fabio Barbosa tem que responder por tudo que a Veja tem feito


Ele sabia

por : Paulo Nogueira

Quando Fabio Barbosa foi contratado para ser presidente executivo da Abril, ele tinha a fama de ser
um dos executivos mais arejados e mais modernos do Brasil.
Era particularmente aplaudido pelas suas palavras e ações, à frente dos bancos que comandara, no 
terreno da sustentabilidade.
Pela imagem de executivo diferenciado, ele foi convidado a ser membro do Conselho de 
Administração da Petrobras não na gestão do PSDB – mas na do PT.
Não à toa, muita gente imaginou que Fabio Barbosa poderia exercer uma influência transformadora 
sobre a Abril e, particularmente, sobre a Veja, já àquela altura metida numa louca cavalgada pseudo 
jornalística.
É verdade que dentro da própria Abril as expectativas eram menos elevadas. Almocei, na ocasião, com 
um amigo meu dos dias em que integrávamos o Comitê Executivo da Abril, no começo dos anos 2000.
“O que vocês esperam do Fabio Barbosa?”, perguntei.
“Ele é especialista em planejamento fiscal. A gente espera que ele faça isso para nós, agora que 
estamos dando muito lucro.”
Rimos. Era 2010, e a Abril tivera o maior lucro de sua história. “Planejamento fiscal”, como sabemos 
todos, é uma expressão bonita para dizer evasão de impostos. Ou, para usar a palavra justa, sonegação.
Grandes empresas multinacionais, em seu planejamento fiscal, transferem seu faturamento para lugares 
em que a carga de impostos é virtualmente nula.
Sonegam legalmente por esse expediente – uma esperteza que diversos governos estão tentando 
eliminar com grande empenho nestes nossos tempos.
Para o mundo exterior, o papel esperado de Fábio Barbosa na Abril ia muito além, naturalmente, de 
buscar frestas na legislação que permitissem à empresa pagar menos impostos.
Passado algum tempo, nada aconteceu do muro para fora. A Veja continuava a mesma.
Mas havia uma explicação razoável para eximir Barbosa de responsabilidade: Roberto Civita estava 
vivo e atuante.
RC, como o chamávamos, sempre dedicou a maior parte de seu tempo na Abril à Veja – o grande 
amor de sua vida.
Todo o resto do que foi o império Abril era pouco, ou quase nada, para RC diante da Veja.
Ele tinha uma reunião nas noites das quintas-feiras com o diretor da revista, na qual as coisas essenciais 
de política e economia na edição em curso eram acertadas.
Na gestão de JR Guzzo, durante parte da qual trabalhei na Veja, lembro do telefone vermelho que se 
destacava na mesa do diretor de redação.
Era, como tantas outras coisas na vida de RC, um simbolismo americano. Aquele aparelho servia 
exclusivamente para ligações de RC para Guzzo. Só tocava em momentos especiais, como o telefone 
vermelho que na Casa Branca da Guerra Fria era reservado a contatos com o comando supremo da 
União Soviética.
Tudo isso posto, era compreensível que, sob RC, Fabio Barbosa nada fizesse para tirar a Veja da 
delinquência editorial.
Mas as circunstâncias mudaram com a morte de Roberto Civita.
Seus filhos, Gianca e Titi, substituíram o pai. Nem um e nem o outro jamais tiveram pretensões 
jornalísticas, e então era o momento certo para algum tipo de mudança.
Aqui, confesso, tive alguma expectativa. Gianca – sob cuja chefia trabalhei um curto período – é uma 
pessoa que ouve o que os outros têm a dizer, e se rende a argumentos convincentes.
Cheguei a escrever que algo poderia ocorrer de novo na linha da Veja, pós-RC. Uma semana depois, 
estava claro que as coisas continuaram iguais.
Mudar uma revista não é difícil, ao contrário do que muitas pessoas possam imaginar.
Mudei muitas ao longo de minha carreira.
Você tem que saber o que quer e o que não quer, e conversar sobre isso com o diretor de redação e 
seus principais editores.
Depois, na edição seguinte, você lê e vê se as novas diretrizes foram ao menos parcialmente cumpridas.
Se sim, ótimo. Mais conversas vão acelerar as mudanças desejadas.
Se não, fica claro que você, para mudar a revista, tem que mudar seu diretor. Para o resto da redação, a 
mensagem é imediatamente percebida: não queremos mais a mesma coisa.
Morto Roberto Civita, e aberta portanto a chance de transformações fundamentais, nada aconteceu.
Imaginei, num primeiro instante, que de alguma forma Fabio Barbosa estivesse alijado de decisões 
editoriais, como sempre aconteceu com presidentes executivos na Abril sob RC.
Lembro que Maurizio Mauro, presidente executivo vindo da Booz Allen, se martirizava por não ter 
ação nenhumana área editorial. Ele não sabia sequer qual a capa da Veja que chegaria no sábado às 
bancas.
Viveria Barbosa no mesmo regime?
Soube que não – depois da morte de Roberto Civita.
Amigos meus da Exame, onde vivi meus melhores anos na Abril, me contaram que Fabio Barbosa 
participava de reuniões editoriais regulares nas quais se discutia o conteúdo da revista.
Na Veja, o mesmo ocorria.
Num recente boletim executivo da Abril, isso se tornou público. Fabio Barbosa era tratado ali, 
oficialmente, como coordenador editorial da Veja e da Exame.
Chequei com colegas meus dos dias de Comitê Executivo.
“Ele adora dar a amigos empresários detalhes das coisas que a Veja vai dar na próxima edição”, me 
contou um daqueles colegas.
Me veio à mente Roberto Civita: seus olhos brilhavam quando ele antecipava, a uns poucos eleitos, os 
“furos” da Veja que chacoalhariam a República.
Logo, Fabio Barbosa é tão responsável pelo que a Veja faz quanto os dois filhos de Roberto Civita e o 
diretor de redação, Eurípides Alcântara.
A capa criminosa das vésperas das eleições não teria saído sem a anuência desse quarteto do qual 
Barbosa faz parte.
A Veja era Roberto Civita.
Morto Roberto Civita, a Veja é Gianca,Titi, Fábio Barbosa e Eurípides Alcântara.
Qualquer tentativa de Fabio Barbosa, agora que a casa caiu, de se eximir de responsabilidade será 
apenas falácia, cinismo e mentira – tudo aquilo, aliás, que vem pautando o comportamento da Veja.
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