quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Desigualdade econômica está fora de controle


Jornal GGN – A Oxfam Internacional lançou hoje um relatório sobre a desigualdade 
econômica. Segundo a ONG, 70% da população mundial vive em países onde a desigualdade 
cresceu nos últimos 30 anos. A Organização afirma que apenas o patrimônio líquido dos 
bilionários da Índia é suficiente para eliminar duas vezes a pobreza absoluta do país. Os dados 
não param aí: as 85 pessoas mais ricas do mundo possuem fortuna igual à da metade mais 
pobre da população mundial. E no último ano eles ainda ficaram 14% mais ricos.

Desigualdade está 'fora de controle' e pode levar a 'retrocesso', diz Oxfam

Por Fabio Murakawa Do Valor Econômico


A desigualdade econômica no mundo está "fora de controle" e "pode levar a um retrocesso de décadas 
na luta contra a pobreza", segundo relatório da Oxfam Internacional que será divulgado hoje.
O estudo "Equilibre o Jogo: é hora de acabar com a desigualdade extrema" abre uma campanha de 
cinco anos da entidade "para pressionar líderes mundiais a transformar a retórica em prática e garantir 
condições mais justas às pessoas mais pobres".
Nele, a Oxfam cita uma série de dados. Segundo a ONG, sete em cada dez pessoas no mundo vivem 
em países onde o abismo entre ricos e pobres cresceu nos últimos 30 anos. Outro exemplo: patrimônio 
líquido dos bilionários na Índia é suficiente para eliminar duas vezes a pobreza absoluta do país.
Ainda de acordo com a ONG, com base em relatório anual da revista "Forbes", as 85 pessoas mais 
ricas do mundo detêm uma fortuna igual à soma das posses de metade da população mais pobre do 
planeta. No período de um ano, entre março de 2013 e março deste ano, a riqueza desses bilionários 
ficou 14% maior. Isso representa um aumento anual de US$ 244 bilhões - ou US$ 668 milhões por dia.
A Oxfam diz que o ritmo de alta da desigualdade vem se acentuando após a crise econômica global. 
Nos últimos quatro anos, a riqueza somada dos bilionários subiu 124%, atingindo US$ 5,4 trilhões - o 
que corresponde a duas vezes o PIB (Produto Interno Bruto) da França em 2012.
Segundo a Oxfam, o "fundamentalismo de mercado" e o que chama de "captura política pelas elites" 
são os principais fatores a contribuir para o aumento da concentração de riqueza no mundo.
"A desregulamentação econômica conseguiu promover crescimento, mas seus benefícios foram 
aproveitados por muito poucos e não chegaram aos mais pobres", disse ao Valor Simon Ticehurst, 
diretor da Oxfam Internacional no Brasil. "Além disso, há uma capacidade desproporcional dos mais 
ricos em influenciar políticas públicas."
Todo esse poder de decisão concentrado na camada mais rica da população, pelo raciocínio da Oxfam, 
dificulta a adoção de políticas públicas que propiciem a redução da desigualdade, como uma tributação 
progressiva sobre a riqueza (em vez da taxação do consumo, por exemplo) e leis que combatam a 
evasão fiscal.
Em 2013, a Oxfam estimou que o mundo perdeu cerca de US$ 156 bilhões em receitas fiscais por 
causa da alocação de ativos de pessoas ricas em paraísos fiscais. "Quando os mais ricos desfrutam de 
baixos impostos e podem se aproveitar de brechas fiscais, e quando os mais ricos podem esconder seu 
dinheiro em paraísos fiscais no exterior, gigantescos buracos são abertos nos orçamentos nacionais, que 
devem ser preenchido pelo resto de nós, redistribuindo renda ao contrário", diz o documento.
Pelos cálculos da Oxfam, 23 milhões de vidas poderiam ter sido salvas nos 49 países mais pobres do 
mundo se tivesse sido criado um imposto de "apenas" 1,5% sobre as fortunas dos bilionários do 
mundo, caso esse dinheiro fosse investido em assistência médica.
A entidade faz ainda uma relação direta entre a desigualdade e fenômenos como o aumento da 
violência. Usa, como exemplo, a América Latina, "região mais desigual e insegura do planeta". A 
América Latina, diz a ONG, reúne 41 das 50 cidades mais violentas do mundo e foi palco de 1 milhão 
de assassinatos entre 2000 e 2010.
Ticehurst, além disso, elogia o Brasil como "um dos poucos países do mundo onde houve redução da 
desigualdade nas últimas décadas. "É o único país dos Brics, um dos poucos do G-20 onde isso 
aconteceu", afirma. Ele pondera, no entanto, que apesar da "redução significativa", o país ainda está 
entre os 12 mais desiguais do mundo e os quatro mais desiguais da América Latina.
Segundo ele, os 10% mais ricos do Brasil concentram 42,9% da riqueza do país. A fatia dos 40% mais 
pobres, por sua vez, é de 10%.
Para ele, o modelo usado pelo Brasil para a redução de desigualdade deu certo, mas "não será 
suficiente para continuar a reduzir a desigualdade no país".
"A fase mais fácil já passou. A mais difícil inclui uma reforma fiscal que leve a um modelo de 
tributação mais progressivo", afirma.
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