quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Com ou sem decreto, Dilma deve assegurar participação social



Dilma deve assegurar participação social como política de governo

Por Helena Sthephanowitz, na RBA

Uma frase genial do antropólogo, escritor e político Darcy Ribeiro retrata o momento vivido com a
derrubada pelo Câmara dos Deputados do decreto que cria a Política Nacional de Participação 
Nacional (PNPS). Ele costumava dizer que havia fracassado em muitas tentativas de superar a pobreza, 
as carências educacionais e o subdesenvolvimento nacional, mas detestaria estar no lugar dos que o 
venceram.
As palavras caem como luvas na votação do projeto de autoria de dois deputados do DEM, Mendonça 
Filho (DEM-PE) e Ronaldo Caiado (DEM-GO), para derrubar o Decreto 8.243/2014, da presidenta 
Dilma Rousseff.
O Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 1.491, de 2014, de Mendonça Filho e Caiado, quer suspender 
a criação do PNPS e impedir a ampliação do espaço da sociedade de intervir nas decisões 
governamentais.
A proposta de derrubada do decreto presidencial – que agora segue para votação pelo Senado – tem 
cheiro de chantagem do PMDB, maior partido da base, em tese, aliada da presidenta depois do PT. O 
presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN) se elegeu deputado pela primeira vez em 1971 e 
concorreu neste ano ao governo do Rio Grande do Norte. Perdeu.
A partir daí, deu diversas declarações à mídia queixando-se do fato de o ex-presidente Lula ter gravado 
depoimento em apoio ao seu adversário no segundo turno, Robinson Faria (PSD). Henrique Alves 
voltou para a Câmara retaliando, sem dar espaço para conversa ao líder Henrique Fontana do governo 
(PT-RS), que queria evitar a votação do decreto.
Depois de barrar o decreto de interesse da sociedade, Henrique Alves anunciou votação de um projeto 
de seu interesse. Ele quer votar nos próximos dias uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que 
torna obrigatório o pagamento de emendas parlamentares individuais. Chamada de PEC do Orçamento 
Impositivo, esse projeto é uma promessa de campanha de Henrique Alves quando de sua eleição ao 
comando da mesa diretora da Câmara. Quer entregar a "obra" antes de deixar o Congresso e a bancada 
do PMDB da Câmara já a definiu como uma das prioridades na negociação com o Planalto para outras 
votações.
Henrique Eduardo Alves está na lista do PMDB para comandar o Ministério da Previdência. 
Atualmente, quem ocupa a pasta é Garibaldi Alves, que voltaria a ocupar sua cadeira no Senado, e 
cotado pelos peemedebistas presidi-lo. O ímpeto peemedebista também foi um gesto político de disputa 
que passa pelo desejo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se eleger presidente da Câmara, com apoio da 
oposição se for preciso, e de ganhar mais espaço dentro do governo.
O decreto apenas institucionalizava como política de Estado a participação popular em caráter 
consultivo na formulação de políticas governamentais, sem tirar nenhum poder, nem invadir funções 
do legislativo.
Incluía inclusive a participação popular através da internet. É inconcebível em tempos de redes sociais 
que a política não se modernize e ouça mais o povo diretamente, dando mais cidadania e mais 
protagonismo popular.
Foi resultado do diálogo da Presidência da República com amplos setores da sociedade, conduzido 
pelo ministro Gilberto Carvalho, e que se acelerou após as manifestações de junho de 2013, que 
pediam principalmente maior participação como forma de aprimorar a representatividade dos 
governantes eleitos.
A extrema direita, capitaneada por parte da imprensa corporativa, demonizava o decreto, mentindo 
sobre seus efeitos como se levasse a uma "ditadura bolivariana" (sabe-se lá o que significa isso nas 
cabeças ensandecidas dos leitores da Veja), como se "substituísse" o Congresso Nacional por 
conselhos. Uma mentira deslavada. O decreto não toca em nenhuma atribuição do Legislativo, por 
onde têm de passar todas as leis. Não mexe em estruturas institucionais.
Na prática, com ou sem decreto, o governo pode e deve consultar a sociedade para construir políticas 
públicas. Nada impede o governo de conversar com todos os setores representativos da sociedade, 
colher sugestões, debater e até explicar efeitos colaterais nocivos que algumas reivindicações poderiam 
trazer. É até muito saudável esse processo de diálogo para amadurecer decisões.
A presidenta Dilma, que perdeu a votação na Câmara, fica do lado dos anseios populares. Ainda que a 
institucionalização da participação social seja barrada no Congresso como política de Estado, com 
Dilma reeleita essa participação deve continuar existindo, como política de governo, com ou sem 
decreto.
O que é isso, PSB?
Só PT, PCdoB, Psol e parte do PROS defenderam o decreto presidencial. Todos os outros partidos 
foram contra, inclusive PSB e PDT, confirmando sua guinada para o conservadorismo arcaico e um 
distanciamento das lutas populares. Dos 15 deputados do PSB que votaram, só Luiza Erundina (SP) 
foi contra a orientação de seu partido, que inclui entre seus companheiros o "socialista" Paulo 
Bornhausen (SC).
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