Dilma deve assegurar participação social como política de governo
Por Helena Sthephanowitz, na RBA
Uma frase genial do antropólogo, escritor e político Darcy Ribeiro retrata o momento vivido com a
derrubada pelo Câmara dos Deputados do decreto que cria a Política Nacional de Participação
Nacional (PNPS). Ele costumava dizer que havia fracassado em muitas tentativas de superar a pobreza,
as carências educacionais e o subdesenvolvimento nacional, mas detestaria estar no lugar dos que o
venceram.
As palavras caem como luvas na votação do projeto de autoria de dois deputados do DEM, Mendonça
Filho (DEM-PE) e Ronaldo Caiado (DEM-GO), para derrubar o Decreto 8.243/2014, da presidenta
Dilma Rousseff.
O Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 1.491, de 2014, de Mendonça Filho e Caiado, quer suspender
O Projeto de Decreto Legislativo (PDC) 1.491, de 2014, de Mendonça Filho e Caiado, quer suspender
a criação do PNPS e impedir a ampliação do espaço da sociedade de intervir nas decisões
governamentais.
A proposta de derrubada do decreto presidencial – que agora segue para votação pelo Senado – tem
A proposta de derrubada do decreto presidencial – que agora segue para votação pelo Senado – tem
cheiro de chantagem do PMDB, maior partido da base, em tese, aliada da presidenta depois do PT. O
presidente da Câmara, Henrique Alves (PMDB-RN) se elegeu deputado pela primeira vez em 1971 e
concorreu neste ano ao governo do Rio Grande do Norte. Perdeu.
A partir daí, deu diversas declarações à mídia queixando-se do fato de o ex-presidente Lula ter gravado
A partir daí, deu diversas declarações à mídia queixando-se do fato de o ex-presidente Lula ter gravado
depoimento em apoio ao seu adversário no segundo turno, Robinson Faria (PSD). Henrique Alves
voltou para a Câmara retaliando, sem dar espaço para conversa ao líder Henrique Fontana do governo
(PT-RS), que queria evitar a votação do decreto.
Depois de barrar o decreto de interesse da sociedade, Henrique Alves anunciou votação de um projeto
Depois de barrar o decreto de interesse da sociedade, Henrique Alves anunciou votação de um projeto
de seu interesse. Ele quer votar nos próximos dias uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que
torna obrigatório o pagamento de emendas parlamentares individuais. Chamada de PEC do Orçamento
Impositivo, esse projeto é uma promessa de campanha de Henrique Alves quando de sua eleição ao
comando da mesa diretora da Câmara. Quer entregar a "obra" antes de deixar o Congresso e a bancada
do PMDB da Câmara já a definiu como uma das prioridades na negociação com o Planalto para outras
votações.
Henrique Eduardo Alves está na lista do PMDB para comandar o Ministério da Previdência.
Henrique Eduardo Alves está na lista do PMDB para comandar o Ministério da Previdência.
Atualmente, quem ocupa a pasta é Garibaldi Alves, que voltaria a ocupar sua cadeira no Senado, e
cotado pelos peemedebistas presidi-lo. O ímpeto peemedebista também foi um gesto político de disputa
que passa pelo desejo de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se eleger presidente da Câmara, com apoio da
oposição se for preciso, e de ganhar mais espaço dentro do governo.
O decreto apenas institucionalizava como política de Estado a participação popular em caráter
consultivo na formulação de políticas governamentais, sem tirar nenhum poder, nem invadir funções
do legislativo.
Incluía inclusive a participação popular através da internet. É inconcebível em tempos de redes sociais
que a política não se modernize e ouça mais o povo diretamente, dando mais cidadania e mais
protagonismo popular.
Foi resultado do diálogo da Presidência da República com amplos setores da sociedade, conduzido
Foi resultado do diálogo da Presidência da República com amplos setores da sociedade, conduzido
pelo ministro Gilberto Carvalho, e que se acelerou após as manifestações de junho de 2013, que
pediam principalmente maior participação como forma de aprimorar a representatividade dos
governantes eleitos.
A extrema direita, capitaneada por parte da imprensa corporativa, demonizava o decreto, mentindo
sobre seus efeitos como se levasse a uma "ditadura bolivariana" (sabe-se lá o que significa isso nas
cabeças ensandecidas dos leitores da Veja), como se "substituísse" o Congresso Nacional por
conselhos. Uma mentira deslavada. O decreto não toca em nenhuma atribuição do Legislativo, por
onde têm de passar todas as leis. Não mexe em estruturas institucionais.
Na prática, com ou sem decreto, o governo pode e deve consultar a sociedade para construir políticas
Na prática, com ou sem decreto, o governo pode e deve consultar a sociedade para construir políticas
públicas. Nada impede o governo de conversar com todos os setores representativos da sociedade,
colher sugestões, debater e até explicar efeitos colaterais nocivos que algumas reivindicações poderiam
trazer. É até muito saudável esse processo de diálogo para amadurecer decisões.
A presidenta Dilma, que perdeu a votação na Câmara, fica do lado dos anseios populares. Ainda que a
A presidenta Dilma, que perdeu a votação na Câmara, fica do lado dos anseios populares. Ainda que a
institucionalização da participação social seja barrada no Congresso como política de Estado, com
Dilma reeleita essa participação deve continuar existindo, como política de governo, com ou sem
decreto.
O que é isso, PSB?
Só PT, PCdoB, Psol e parte do PROS defenderam o decreto presidencial. Todos os outros partidos
O que é isso, PSB?
Só PT, PCdoB, Psol e parte do PROS defenderam o decreto presidencial. Todos os outros partidos
foram contra, inclusive PSB e PDT, confirmando sua guinada para o conservadorismo arcaico e um
distanciamento das lutas populares. Dos 15 deputados do PSB que votaram, só Luiza Erundina (SP)
foi contra a orientação de seu partido, que inclui entre seus companheiros o "socialista" Paulo
Bornhausen (SC).
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