terça-feira, 14 de outubro de 2014

A saída de Xico Sá da Folha mostra uma nova fase na vida dos jornalistas


Ele disse chega

por : Paulo Nogueira

A saída estrepitosa de Xico Sá da Folha é um marco numa nova era na vida dos jornalistas.
Xico deixou o jornal depois que foi proibido de expressar apoio a Dilma numa coluna.
Quanto isso o indignou pode ser visto numa série de tuítes que continham um desabafo irado e sem 
freios.
“Só Reinaldões” podem defender candidatos na “imprensa burguesa”, disse ele.
Quer dizer: os candidatos que os donos das empresas apoiam, naturalmente.
Esse constrangimento – o jornalista saber que o limite de sua liberdade de expressão é a opinião de seu 
patrão – não é propriamente novo.
Novas são as circunstâncias trazidas pela Era Digital. Xico Sá tem, na internet, microfone para expor 
as suas razões e para criticar sem censura a Folha.
Terá também, na internet, maneiras de continuar sua carreira. É uma mídia florescente – ao contrário 
dos jornais – e ele construiu um nome capaz de atrair uma boa audiência.
Antes da mídia digital, pessoas incomodadas como Xico Sá engoliam seu desagrado pela falta de 
alternativas. Outros jornais e revistas eram a mesma coisa.
Agora, um jornalista não é obrigado a se contentar em repetir o que seu patrão quer que ele escreva.
A internet está aí. A autonomia é imensamente maior. Meu caso mesmo: em 25 meses de jornalismo 
digital expus muito mais minhas opiniões do que em 25 anos de carreira na Abril e na Globo.
Como é inexorável a migração – rápida — de publicidade para meios digitais, o jornalismo na internet 
logo atrairá os melhores jornalistas, como Xico Sá.
Mídias dominantes, ao longo da história, atraem os jornalistas mais talentosos. Nelas as oportunidades 
são maiores, o público é crescente – e as perspectivas na carreira parecem ilimitadas.
Para a Folha, a saída de Xico Sá é um golpe no marketing com que ela tenta convencer as pessoas de 
que não tem rabo preso com ninguém.
Tem sim.
Apenas, disfarça para enganar leitores menos argutos e mais crédulos.
Mas para quem trabalha lá a realidade não é muito diferente da que você tem em redações como a da 
Veja.
Você tem toda a liberdade de expressar suas opiniões – desde que elas coincidam com as dos donos.
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