terça-feira, 30 de setembro de 2014

A canastrice de Marina Silva e o DNA hollywoodiano

Wilson Ferreira

Muitas teorias conspiratórias veem a candidata Marina Silva como um “instrumento de Washington”, 
“a nova direita” etc. Se isso for verdade, não seria tanto pelas teses neoliberais que seu programa de 
governo defende. Seu DNA não está em Washington, mas em Hollywood. Marina Silva se filia a uma 
lista de personagens políticos construídos a partir do imaginário coletivo cinematográfico como Hitler e 
Mussolini (o cinema mudo), Jânio Quadros (Jacques Tati) e Collor de Mello (Gordon Gekko de “Wall 
Street”). 
É a “canastrice” na propaganda, noção que a ciência política deveria levar mais à sério: políticos 
tornam-se verossímeis quando se reconhecem neles elementos de uma certa mitologia pop ou 
cinematográfica. Mas por que eleitores não percebem o artificialismo das performances exageradas, 
melodramáticas e esteticamente kitschs, características da canastrice? Talvez porque um século de 
Hollywood não apenas tenha afetado nossos corações e mentes, mas a própria percepção.  
(........)

Marina Silva, Washington, Hollywood
Em reportagem especial sobre a campanha eleitoral brasileira, o jornal francês L’Humanité Dimanche 
definiu a candidata Marina Silva como “instrumento de Washington” e “a nova direita brasileira”. E o 
episódio da visita da candidata aos EUA “em busca de novas parcerias”, como afirmou, em plena reta 
final da campanha eleitoral apenas reforçou essa teoria conspiratória.


Marina Silva: a "nova direita" com DNA hollywoodiano?
Mas para esse blog a evidência de que a candidata seria teleguiada pelos EUA não estaria tanto nas 
teses neoliberais que o seu programa de governo defende - Banco Central independente, recuperação 
do “tripé econômico” ao custo do sacrifício dos programas sociais para alcançar metas de superávit 
primário etc.
Para nós, a principal evidência estaria no inconfundível DNA hollywoodiano da construção da 
personagem Marina Silva: a filha de seringueiros que emergiu da floresta para salvar a Amazônia (ou a 
“rainforest”, expressão com a qual os americanos costumam se referir à florestas tropicais) e, portanto, 
todo o planeta. A marca indelével da linguagem midiática da indústria do entretenimento norte-
americano estaria na canastrice da sua personagem, que repete o mesmo padrão de uma certa mitologia 
pop.
Canastrice e a Ciência PolíticaO poder da canastrice é uma noção que deveria ser levada mais a sério
pela ciência política. Walter Benjamin afirmava que a estetização da política era a principal estratégia
do fascismo: tanto os astros como os ditadores se dirigiram às massas através do cinema.


Walter Benjamin: astros e ditadores se dirigiram às massas através do cinema

“A humanidade preparou-se séculos para Victor Mature e Mickey Rooney”, também disse outro 
frankfurtiano, Theodor Adorno, sobre o poder hipnótico dos atores canastrões. Astros do cinema mudo 
como Chaplin, Max Linder, O Gordo e o Magro e os Keystone Cops prepararam o terreno para as 
performances caricatas dos ditadores do século XX. Exatamente nesse ponto reside a canastrice na 
política: certamente Hitler e Mussolini se inspiraram nas gags visuais dos gênios do cinema mudo. 
Mais tarde, de forma overact, exagerada, kitsch e artificial (características da canastrice) trouxeram para 
a realidade o que viram nas telas. E com trágicas consequências que foram bem além do 
entretenimento.
Marina Silva é mais um exemplar dessa espécie de hiper-populismo baseado na canastrice política, 
assim como foi Jânio Quadros (uma versão canastrona de Monsieur Hulot do cineasta francês Jacques 
Tati) ou Collor de Mello (a reedição canastrona dos yuppies que povoaram as telas do cinema nos anos 
1980, como o personagem Gordon Gekko do filme Wall Street, 1987).
A construção de uma personagem
Marina possui o que se chama physique du role para exercer o papel: magra, olhos fundos, levemente 
arqueada, com um xale sobre a cabeça e olhar vindo de baixo para cima como um contra-plogee no 
cinema, sugerindo uma estudada humildade e resignação diante da sua suposta predestinação. A 
humildade humana diante dos misteriosos caminhos de Deus...


Marina Silva tem o "physique du role" para o papel

Ela é a reedição de toda uma galeria de santos, heróis, salvadores ou sobreviventes enaltecidos pelo 
inconsciente coletivo midiático: a foto da menina Sharbat na capa da National Geographic, com uma 
túnica cobrindo a cabeça conferindo um ar beatífico de pureza e resistência; a naturalizada indiana 
Madre Tereza de Calcutá, beatificada muito tempo antes da Igreja pela mídia...


É a personagem perfeita, porque veio da floresta intocada, pura. Mais uma amostra do DNA midiático 
norte-americano, chave do novo puritanismo neopentecostal daquele país que criou um 
fundamentalismo religioso baseado no pensamento ecologicamente correto, como pode ser visto em 
ação no filme 
O Mistério da Rua 7 (Vanishing on 7th Street, 2010 – um mix de demônios indígenas, colonização 
norte-americana e o ideário místico-ecológico da Teoria Gaia – sobre o filme clique aqui).
>>>>>>>>>>Leia mais>>>>>
__________________________________________

Nenhum comentário: