sábado, 30 de agosto de 2014

Os dilemas do PT: esquerda, vou ver?


“Parte do PT torce para que a elite – apavorada com a inconsistência marineira – apóie Dilma. Isso 
significaria aceitar que Dilma vá mais para a direita para ganhar. Outra parte do PT imagina que a 
melhor forma de enfrentar Marina é aprofundar um programa trabalhista: Dilma teria que 
defender o fim fator previdenciário, redução da jornada de trabalho, mais direitos sociais, combate 
ao rentismo.”

por Rodrigo Vianna


Nunca acreditei que essa eleição seria decidida num turno único. O grau de insatisfação e a onda anti-
petista no Brasil deixavam claro que – mesmo com Aécio e Eduardo no páreo, dois candidatos que 
tinham dificuldade evidente para representar a “mudança” – Dilma teria que enfrentar um turno final 
para conseguir o segundo mandato.
Aécio (com apoios fortes em Minas, São Paulo, Bahia e Paraná) deveria bater em 25% até o começo 
de outubro. Eduardo talvez chegasse a 15%. Dilma, com cerca de 37% ou 40%, teria que enfrentar os 
tucanos no segundo turno.
O PT se preparou pra isso. Para esse cenário. Era a velha estratégia de fazer pouca política, acreditando 
que mais uma vez bastaria dizer: “o governo deles é o de FHC, com desemprego e quebradeira; 
o nosso é o governo do povão e da inclusão social”. Agora, a campanha de Dilma parece desorientada 
para lidar com a nova realidade pós 13 de agosto (dia do acidente que matou Eduardo Campos), que 
não é propriamente nova.
Por uma questão operacional e jurídica, Marina não conseguiu legalizar a Rede ano passado. Por isso, 
e só por isso, o difuso mal-estar de junho de 2013 seguia ausente da campanha de 2014. Por isso, e só 
por isso, o número de brancos/nulos e de “não votos” era tão grande. A queda do avião mudou tudo. 
A força de Marina (com o perdão do péssimo trocadilho, nesse agosto fatídico) não caiu do céu. Ok, 
Marina é candidata da Neca Setúbal. Ok, esse papo de “nova política” é falso, além de perigoso e 
despolitizante. Mas acontece que o eleitorado que vai com a Marina não é a velha classe média anti-
petista e tucana. É mais que isso. É a turma dos “celulares na mão”: Luiz Carlos Azenha foi quem 
melhor traduziu essa nova conjuntura aberta com junho de 2013.
Parte do PT (setor que parece ser majoritário) torce para que os tucanos desonstruam Marina – na base 
de escândalos e pauladas midiáticas. Mais uma vez, sem política de verdade. Ou então, para que a elite 
– apavorada com a inconsistência marineira – apóie Dilma num segundo turno. Isso significaria aceitar 
que Dilma poderia enfrentar Marina como opção pela direita. Seria desastroso para o PT, para os 
movimentos sociais e sindicatos.
Outra parte do PT e da militância de esquerda não se ilude com essa ideia, e imagina que a melhor 
(talvez a única) forma de enfrentar Marina é aprofundar um programa de esquerda. Dilma terá que 
caracterizar Marina como a candidata do grande capital, dos banqueiros. Ela, Dilma, terá que assumir 
as bandeiras da classe trabalhadora: fim do fator previdenciário, redução da jornada de trabalho, mais 
direitos sociais, combate ao rentismo.
A mim, parece que a primeira das escolhas é – além de tudo – uma ilusão. Acreditar que Dilma pode 
virar a opção “confiável” da direita seria desconhecer o ódio que leva empresários, banqueiros e donos 
da mídia a preferirem “qualquer coisa menos o PT” (como se ouve nas ruas dos bairros nobres de São 
Paulo, Rio e Brasília).
Mais que isso: quem acompanha os bastidores da eleição diz que jamais os candidatos petistas 
enfrentaram tamanha seca de recursos. Empresários decidiram que o PT já cumpriu seu papel, e 
gostariam de virar essa página.
A direção petista pode apostar na saída pela direita. E, numa conjuntura especialíssima, pode até colher 
uma vitória eleitoral com isso. Mas essa escolha, mesmo que traga vitória eleitoral (pouco provável), 
seria acompanhada de uma tripla e estrondosa derrota: política, ideológica e simbólica. Se o PT 
escolher esse caminho, selará seu destino ao lado do PS francês e do SPD alemão…
A outra alternativa é virar alguns graus à esquerda. Essa segunda alternativa pode levar a uma vitória 
apertada, num clima de grande confrontaçã política e ideológica no segundo turno. Ou pode levar a 
uma derrota eleitoral (com Marina ganhando apoiada pelos liberais e tucanos), mas que prepare o PT e 
o bloco de esquerda para uma reorganização: mais próximo dos movimentos sociais e dos sindicatos, 
esse bloco político pode ser decisivo no enfrentamento de uma agenda liberal que (com Marina ou com 
Aécio) será imposta ao Brasil.
Trata-se, portanto, de uma eleição decisiva para os rumos do Brasil, da América Latina e também para 
o futuro do PT como força (ainda) capaz de comandar um processo de reformas e democratização.
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