sexta-feira, 20 de junho de 2014

Seu Jorge na festa da Copa dos coxinhas



por : Kiko Nogueira

No show de horrores da agora famosa festa VIP em que uma multidinha de coxinhas pagou até 1000
reais para ver o jogo da seleção com o México, um personagem chamava a atenção: o cantor Seu Jorge.
Que diabos Seu Jorge estava fazendo ali?
Tudo bem. Sua mulher, Mariana, estava lá. No vídeo, ela avisa de cara que veio “especialmente de Los
Angeles, onde a gente mora, pra ver essa bagunça”. Depois reaparece com alguns patuás falando
frases completamente sem sentido. Ok. Ele é um dos sócios da casa noturna.


Ainda assim. Volto a perguntar: que diabos seu Jorge estava fazendo ali, tocando para aquela turma
barra pesada?
Antes de LA (pronuncie “Él Ei”), o casal morou com as filhas em São Paulo. Numa entrevista, ele
contou que certa noite foi a um shopping ver “Ratatouille” e saiu no meio da sessão para fumar um
cigarro. Na volta, duas senhoras o viram e chamaram o segurança, achando que se tratava de um
assaltante.
Ele armou um quiproquó ameaçando denunciá-las por racismo. Desistiu quando a confusão cresceu. No Rio de Janeiro, cada passeio que dava em sua Lamborghini branca era um acontecimento. Saía nos jornais. “O que o negão está fazendo num carro desses? Quem ele pensa que é?” — era a pergunta impressa no rosto das testemunhas e embutida em cada entrelinha.
Ele não vive em negação. Pelo contrário. O homem que morou nas ruas de Santa Teresa já falou sobre sua experiência traumática na Itália. “Não volto lá nunca mais. O italiano é racista. Eles têm sérios resquícios da colonização que sofreram: não aprenderam a lidar com outras etnias. Me maltrataram muito. Lá, percebi que, por ser negro, não era brasileiro, era da África, da Somália. No Brasil, isso também é forte ainda, viu?”
Você vai me dizer que é o trabalho dele e você não está errado. Que ele estava ali porque queria, ué. “Houve um tempo em que artistas diziam: me dê liberdade ou me dê a morte. Hoje eles dizem: me faça um escravo, apenas me pague o suficiente”, afirmou o escritor Todd Garlington.
Em 1965, os Beatles foram ao palácio de Buckingham receber uma condecoração da rainha, a MBE. “Aceitar a medalha foi me vender”, Lennon afirmaria mais tarde. “Eu sempre odiei essas coisas sociais. Todos os eventos e apresentações. Todos falsos. Você podia enxergar por dentro daquelas pessoas. Eu as desprezava”.
Provavelmente, Seu Jorge não despreza aquelas pessoas, senão não estaria ali.
Mas não seria exagero pensar que a maioria delas o desprezaria — ou chamaria o segurança — não fosse ele o cara famoso que estava lá para diverti-las cantando “Burguesinha” enquanto decidem quem vão mandar tomar no c…_________________________________________________

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