quinta-feira, 13 de março de 2014

Grandes Cineastas: Federico Fellini, o sonhador


O “maestro” sonhador.

por : Emir Ruivo

A lógica nem sempre se aplica ao mundo de Federico Fellini. É, afinal, um mundo onde sonho e devaneio têm a mesma importância da realidade – ou, por vezes, mais. Ali, as leis da física nem sempre são absolutas.
A razão disso parece estar entre uma opção artística e a fuga de uma tragédia (Fellini, aos 25 anos, perdeu um filho com um mês de vida). A psicologia que ele mesmo estudara para criar suas obras pode explicar: quando a realidade é dura demais para ser suportada, o que resta é sonhar. E, neste caso, o sonho fez o gênio.
gênio em ação
gênio em ação

Fellini nasceu em 1920 em uma família de classe média da cidade de Rimini. Seu pai era caixeiro viajante e sua mãe, dona de casa. Tinha dois irmãos, ele o mais velho.
Assistiu aos 6 anos seu primeiro filme, “Maciste All’Inferno”, de Guido Brignone, que acabaria por influenciá-lo pelo o resto da vida. Já nesta época desenhava, lia gibis e encenava peças com fantoches.
Decidido em se tornar cartunista, aos 18 viajou a Florença, onde publicou seu primeiro trabalho. Um ano depois, acabaria por se matricular no curso de direito da Universidade de Roma, por pressão familiar. Mas nunca foi a uma aula.
Passou então a publicar trabalhos nos jornais Il Popolo di Roma e Il Piccolo, tal como na revista Marc’Aurelio, a mais influente bi-semanal da época. Lá, ele deixou de ser freelancer e passou a integrar a equipe fixa, fazendo inclusive trabalhos como jornalista. Ficou lá até 1942.Cartaz do filme Cidade das Mulheres
Durante esse período, passou a colaborar com cineastas. “Il Pirata Sono Io”, de Mario Mattoli, foi o primeiro filme de que participou como roteirista. Este, na verdade, foi um período movimentado de sua vida. Ele chegou a viver escondido com a namorada na casa de sua tia até a queda de Mussolini, em 1943, e em 1945 teve um filho que acabou morrendo de encefalite com um mês de vida.
Com a morte de seu filho, se jogou de vez no trabalho: para se subsidiar, abriu uma loja onde fazia caricaturas de soldados americanos que ainda estavam por aquelas bandas durante o pós-guerra, e se envolveu profissionalmente com Roberto Rosselini, com quem escreveu três filmes e ganhou um Oscar. Com ele, chegou a ser assistente de direção e a conhecer vários dos atores que seriam seus preferidos por um bom tempo.
No começo dos anos 50, lançou seu primeiro filme, “Abismo de Um Sonho”. Foi apresentado no festival de Veneza e detonado pelos críticos. Seu segundo filme, “Os Boas Vidas”, de 1953, ganhou o Leão de Prata da edição seguinte do mesmo festival – o que lhe rendeu seu primeiro contrato de distribuição internacional.
B00005QAPH.01.LZZZZZZZEm 1956, ganhou com “Noites de Cambíria” seu segundo Oscar, o primeiro com um filme próprio. Mas sua obra-prima (ou ao menos a primeira delas) seria lançado em 1961 sob o título de “A Doce Vida”. Este lhe rendeu, além do Oscar, uma Palma de Ouro e um Bafta, e mais outros prêmios de menor expressão.
Foi o começo da interferência da fantasia em sua obra – marcada, não por coincidência, pela descoberta de Carl Jung, um dos grandes estudiosos da psicologia, por parte de Fellini. Seus grandes clássicos posteriores, como “8½”, “Satyricon de Fellini”, “Amarcord”, entre outros, utilizam ideias Junguianas na construção dos personagens. E, em momentos, o diretor flertou também com a parapsicologia, o espiritismo e até mesmo com o LSD em sua busca artística.
Em 1982, os desenhos de Fellini voltaram ao centro das atenções: ganharam uma grande exibição em Paris e, posteriormente, Bruxelas e Nova Iorque.
Em 1989, filmou “A Voz da Lua”, com Roberto Benigni, seu último trabalho como diretor de fato. Em 1991, contou sua história para o cineasta canadense Damian Pettigrew, o que resultou no documentário lançado mais de 10 anos depois, chamado “Fellini: I’m a Born Liar” (Fellini: Sou um Mentiroso de Nascença).
Em junho de 1993, aos 73 anos, sofreu um derrame que o deixou parcialmente paralisado. Poucos meses depois, sofreu um segundo e derradeiro derrame. Por algum tempo, ficou em coma. Morreu em outubro do mesmo ano.
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