desconfortáveis" podem ser fortes. Especialista pede cortes de emissões que exigem "mudança
revolucionária na hegemonia política e econômica".
Texto originalmente publicado no site Climate&Capitalism
"Hoje, após duas décadas de blefes e mentiras, o objetivo dos 2°C que faltam cumprir [referência à meta de limite do aquecimento global prevista pela ONU na COP 19, em 2013] o acordo de redução exige uma mudança revolucionária na hegemonia política e econômica." Isso foi publicado num blog, no ano passado, por Kevin Anderson, professor de Energia e Alterações Climáticas da Universidade de Manchester. Um dos cientistas de clima mais eminentes da Grã-Bretanha, Anderson também é vice-diretor do Centro Tyndall para Pesquisas sobre Alterações Climáticas.
Podemos, ainda, divulgar a mensagem a seguir, extraída de uma entrevista em novembro de 2013: "Precisamos de ações de baixo para cima e de cima para baixo. Precisamos de mudanças em todos os níveis", enfatizou a investigadora sênior do Centro Tyndall e professora da Universidade de Manchester, Alice Bows-Larkin. Anderson e Bows-Larkin são autoridades mundiais sobre os desafios da mitigação das alterações climáticas.
Em dezembro de 2013, os dois foram personagens centrais da Conferência de Redução Radical de Emissões, promovida pelo Centro Tyndall e realizada nas instalações de Londres da instituição científica de maior prestígio da Grã-Bretanha, a Royal Society. O "radicalismo" do título da conferência refere-se a um apelo dos organizadores para cortes de pelo menos 8% nas emissões anuais da Grã-Bretanha – o dobro da taxa comumente citada como possível dentro das estruturas econômicas e políticas atuais.
A conferência chamou atenção e recebeu ampla cobertura. Em Sydney, o “Daily Telegraph”, de propriedade dos Murdoch, descreveu os participantes como "desequilibrados" e "ecoidiotas", passando a citar uma referência feita por um "conselheiro de alterações climáticas sênior" da Shell: "Era uma sala cheia de catastrofistas (referindo-se à expressão 'aquecimento global catastrófico'), com a visão predominante... de que o problema só poderia ser resolvido pela completa transformação dos sistemas de energia e político globais... uma conferência de ideologia política".
De fato. A tradicional postura reticente dos cientistas, que, no passado, visavam principalmente ater-se às suas especialidades e evitar comentários sobre as implicações sociais e políticas de seu trabalho, já não é o que era.
Irritados
Os cientistas do clima têm ficado particularmente irritados com a recusa dos governos de agir, mesmo com as repetidas advertências sobre os perigos da mudança climática. Para aumentar a amargura dos pesquisadores, em mais do que casos isolados, foram feitas pressões sobre eles para amaciar as suas conclusões, de modo a evitar mostrá-las a governantes e decisores políticos. As pressões para que se evite levantar "questões fundamentais e desconfortáveis" podem ser fortes, explicou Anderson em uma entrevista em junho de 2013.
"Os cientistas estão sendo persuadidos a desenvolver conjuntos cada vez mais bizarros de cenários... que sejam capazes de entregar mensagens politicamente palatáveis. Tais cenários subestimam a taxa atual de crescimento das emissões, assumem picos ridiculamente precoces nas emissões e transformam os compromissos para ficar abaixo [de um aquecimento] de 2°C em uma chance de 60% a 70% de exceder esses 2°C."
Anderson e Bows-Larkin têm sido capazes de desafiar tais pressões ao ponto de terem sido coautores de dois artigos notáveis e relacionados entre si, publicados pela Royal Society em 2008 e 2011.
No segundo deles, os autores fazem uma distinção entre países ricos e pobres (tecnicamente, nas categorias do "anexo 1" e "não-Anexo 1" da ONU), ao calcularem as taxas de redução de emissões em cada conjunto, que seriam necessárias para manter a temperatura média global não superior a dois graus dos níveis pré-industriais.
A notícia embaraçosa para os governos é que os países ricos do Anexo 1 precisam começar imediatamente a cortar suas emissões com taxas de cerca de 11% ao ano. Isso permitiria que os países fora do Anexo 1 atrasassem seu "pico de emissões" até 2020, permitindo o desenvolvimento de suas economias e a elevação dos padrões de vida de seus habitantes.
Mas os países pobres também teriam, então, de começar a cortar suas próprias emissões em níveis sem precedentes - e as chances de aquecimento superior a dois graus de aquecimento ainda seriam em torno de 36%. Mesmo para uma chance de 50% de aquecimento superior a dois graus, os países ricos teriam de cortar suas emissões a cada ano a uma taxa de 8% a 10%.
Como Anderson aponta, é praticamente impossível encontrar um economista "mainstream" que veja reduções anuais de emissões de mais de 3% a 4% como compatíveis com qualquer coisa, exceto recessão severa, dentro de uma economia constituída nos atuais termos.
Representação da emissão diária de dióxido de carbono em Nova York: esferas equivalem a
Texto originalmente publicado no site Climate&Capitalism
"Hoje, após duas décadas de blefes e mentiras, o objetivo dos 2°C que faltam cumprir [referência à meta de limite do aquecimento global prevista pela ONU na COP 19, em 2013] o acordo de redução exige uma mudança revolucionária na hegemonia política e econômica." Isso foi publicado num blog, no ano passado, por Kevin Anderson, professor de Energia e Alterações Climáticas da Universidade de Manchester. Um dos cientistas de clima mais eminentes da Grã-Bretanha, Anderson também é vice-diretor do Centro Tyndall para Pesquisas sobre Alterações Climáticas.
Podemos, ainda, divulgar a mensagem a seguir, extraída de uma entrevista em novembro de 2013: "Precisamos de ações de baixo para cima e de cima para baixo. Precisamos de mudanças em todos os níveis", enfatizou a investigadora sênior do Centro Tyndall e professora da Universidade de Manchester, Alice Bows-Larkin. Anderson e Bows-Larkin são autoridades mundiais sobre os desafios da mitigação das alterações climáticas.
Em dezembro de 2013, os dois foram personagens centrais da Conferência de Redução Radical de Emissões, promovida pelo Centro Tyndall e realizada nas instalações de Londres da instituição científica de maior prestígio da Grã-Bretanha, a Royal Society. O "radicalismo" do título da conferência refere-se a um apelo dos organizadores para cortes de pelo menos 8% nas emissões anuais da Grã-Bretanha – o dobro da taxa comumente citada como possível dentro das estruturas econômicas e políticas atuais.
A conferência chamou atenção e recebeu ampla cobertura. Em Sydney, o “Daily Telegraph”, de propriedade dos Murdoch, descreveu os participantes como "desequilibrados" e "ecoidiotas", passando a citar uma referência feita por um "conselheiro de alterações climáticas sênior" da Shell: "Era uma sala cheia de catastrofistas (referindo-se à expressão 'aquecimento global catastrófico'), com a visão predominante... de que o problema só poderia ser resolvido pela completa transformação dos sistemas de energia e político globais... uma conferência de ideologia política".
De fato. A tradicional postura reticente dos cientistas, que, no passado, visavam principalmente ater-se às suas especialidades e evitar comentários sobre as implicações sociais e políticas de seu trabalho, já não é o que era.
Irritados
Os cientistas do clima têm ficado particularmente irritados com a recusa dos governos de agir, mesmo com as repetidas advertências sobre os perigos da mudança climática. Para aumentar a amargura dos pesquisadores, em mais do que casos isolados, foram feitas pressões sobre eles para amaciar as suas conclusões, de modo a evitar mostrá-las a governantes e decisores políticos. As pressões para que se evite levantar "questões fundamentais e desconfortáveis" podem ser fortes, explicou Anderson em uma entrevista em junho de 2013.
"Os cientistas estão sendo persuadidos a desenvolver conjuntos cada vez mais bizarros de cenários... que sejam capazes de entregar mensagens politicamente palatáveis. Tais cenários subestimam a taxa atual de crescimento das emissões, assumem picos ridiculamente precoces nas emissões e transformam os compromissos para ficar abaixo [de um aquecimento] de 2°C em uma chance de 60% a 70% de exceder esses 2°C."
Anderson e Bows-Larkin têm sido capazes de desafiar tais pressões ao ponto de terem sido coautores de dois artigos notáveis e relacionados entre si, publicados pela Royal Society em 2008 e 2011.
No segundo deles, os autores fazem uma distinção entre países ricos e pobres (tecnicamente, nas categorias do "anexo 1" e "não-Anexo 1" da ONU), ao calcularem as taxas de redução de emissões em cada conjunto, que seriam necessárias para manter a temperatura média global não superior a dois graus dos níveis pré-industriais.
A notícia embaraçosa para os governos é que os países ricos do Anexo 1 precisam começar imediatamente a cortar suas emissões com taxas de cerca de 11% ao ano. Isso permitiria que os países fora do Anexo 1 atrasassem seu "pico de emissões" até 2020, permitindo o desenvolvimento de suas economias e a elevação dos padrões de vida de seus habitantes.
Mas os países pobres também teriam, então, de começar a cortar suas próprias emissões em níveis sem precedentes - e as chances de aquecimento superior a dois graus de aquecimento ainda seriam em torno de 36%. Mesmo para uma chance de 50% de aquecimento superior a dois graus, os países ricos teriam de cortar suas emissões a cada ano a uma taxa de 8% a 10%.
Como Anderson aponta, é praticamente impossível encontrar um economista "mainstream" que veja reduções anuais de emissões de mais de 3% a 4% como compatíveis com qualquer coisa, exceto recessão severa, dentro de uma economia constituída nos atuais termos.
Representação da emissão diária de dióxido de carbono em Nova York: esferas equivalem a
148,9 mil toneladas.
Quatro graus?
E se o mundo mantiver as suas economias baseadas no mercado e, depois de um pico em 2020, começar a reduzir as suas emissões com base nestes 3% a 4% "permitidos"? Em artigo de 2008, Anderson e Bows-Larkin apresentam números que sugerem um possível nível de dióxido de carbono na atmosfera equivalente a 600-650 partes por milhão (ppm) como resultado. O climatologista Malte Meinshausen estima que 650 ppm resultaria na probabilidade de 40% de exceder não apenas dois graus [na temperatura], mas quatro!
Anderson, no passado, já se pronunciou sobre o que podemos esperar de um "mundo de quatro graus". Numa palestra pública, em outubro de 2011, ele o descreveu como "incompatível com uma comunidade global organizada", "provável que esteja além da adaptação" e"devastador para a maioria dos ecossistemas". Além disso, um clima quatro graus mais quente teria "uma alta probabilidade de não ser estável". Isto é, o acréscimo de quatro graus resultaria numa temperatura intermediária, rumo a um nível de equilíbrio muito mais quente.
Conforme relatado no jornal The Scotsman, em 2009, ele concentrou-se no elemento humano:"Eu acho que é extremamente improvável que nós não tenhamos mortes em massa com 4°C [de aquecimento global]. Se tivermos uma população de nove bilhões até 2050 e chegarmos ao acréscimo de 4°C, 5°C ou 6°C, poderemos ter 500 milhões de pessoas sobrevivendo."
Não admira que as pessoas bem informadas estejam se revoltando.
Quatro graus?
E se o mundo mantiver as suas economias baseadas no mercado e, depois de um pico em 2020, começar a reduzir as suas emissões com base nestes 3% a 4% "permitidos"? Em artigo de 2008, Anderson e Bows-Larkin apresentam números que sugerem um possível nível de dióxido de carbono na atmosfera equivalente a 600-650 partes por milhão (ppm) como resultado. O climatologista Malte Meinshausen estima que 650 ppm resultaria na probabilidade de 40% de exceder não apenas dois graus [na temperatura], mas quatro!
Anderson, no passado, já se pronunciou sobre o que podemos esperar de um "mundo de quatro graus". Numa palestra pública, em outubro de 2011, ele o descreveu como "incompatível com uma comunidade global organizada", "provável que esteja além da adaptação" e"devastador para a maioria dos ecossistemas". Além disso, um clima quatro graus mais quente teria "uma alta probabilidade de não ser estável". Isto é, o acréscimo de quatro graus resultaria numa temperatura intermediária, rumo a um nível de equilíbrio muito mais quente.
Conforme relatado no jornal The Scotsman, em 2009, ele concentrou-se no elemento humano:"Eu acho que é extremamente improvável que nós não tenhamos mortes em massa com 4°C [de aquecimento global]. Se tivermos uma população de nove bilhões até 2050 e chegarmos ao acréscimo de 4°C, 5°C ou 6°C, poderemos ter 500 milhões de pessoas sobrevivendo."
Não admira que as pessoas bem informadas estejam se revoltando.
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