sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Santarém, onde está o verde?


Santarém: onde está o verde?

Por: Paulo Leandro Leal 

Aqui e ali, ouço comentários de que Santarém deveria assumir a sua vocação de cidade verde,
sustentável, no meio da Amazônia. Pela sua localização, no coração amazônico, a cidade deveria ser
exemplo de sustentabilidade. A verdade é que Santarém perde feio para outras cidades, muitas delas
incrustadas em regiões onde a vocação natural não é a preservação das florestas.


SInop: três milhões de m² de floresta

Vejamos o caso de Sinop, no Mato Grosso. Estive lá recentemente e me surpreendi. Espécie de capital
do agronegócio, Sinop é uma cidade verde, literalmente. Possui mais de três milhões de metros
quadrados de áreas verdes preservadas, com destaque para um parque florestal contínuo de mais de um
milhão de metros quadrados, bem no meio da cidade.
Então a pergunta que se faz é porque Sinop, capital do agronegócio, é uma cidade verde, enquanto
Santarém, capital na natureza, não é? Talvez a resposta esteja na visão míope das elites locais, que por
mais de 300 anos ocupam o espaço urbano de forma desordenada, sem planejamento e sem a mínima
preocupação com a questão ambiental.
Mais recentemente, nos últimos 30 anos, a cidade vem vivendo um processo de expansão acelerado,
sem qualquer planejamento, sem saneamento e sem um projeto de preservação do verde e de
arborização. Agora, mais recentemente, recebeu grandes projetos de urbanismo, que foram feitos sem
considerar a vocação natural da cidade, colocando todo o verde no chão e transformando áreas imensas
em desertos.
Curioso é que Santarém é também uma espécie de capital de organizações ambientalistas. Com tanta
gente para defender a preservação, é no mínimo espantoso que a cidade não possua uma política de
criação de parques florestais, de arborização e paisagismo. O Plano Diretor, instrumento adequado para
a implantação deste tipo de política, é uma peça de ficção.
Outra curiosidade - não desperta ainda no Ministério Público – é que uma longa contínua faixa de praia
e floresta na margem do Rio Tapajós que vai de Santarém a Alter do Chão vem sendo ocupada
sistematicamente por mansões e projetos imobiliários sem qualquer obediência a uma política de
preservação. Ocupação feita por endinheirados, influentes, muitos dos quais estão por trás de
movimentos como Salve o Juá e outros.
Santarém é uma cidade belíssima. E fantástica. Mas sofre por causa da visão retrógrada e da falta de
sensibilidade de suas elites e lideranças. Está na hora de começar a plantar o futuro, iniciando uma
política que possa dar à cidade uma identidade verde e sustentável. Ou será que os terríveis sojeiros de Sinop têm uma sensibilidade ambiental mais aguçada do que os nossos doces e tropicalistas
ambientalistas?
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