Por Igor Felippe, no Escrevinhador
A população que vive em São Paulo não aguenta mais a violência, os serviços públicos sem qualidade e a corrupção. São muitos e muitos problemas que afligem diversos setores, como os trabalhadores, estudantes, idosos e aqueles que se manifestam por um mundo melhor.
A Policia Militar de São Paulo é uma das polícias mais violentas do mundo. Violenta famílias de trabalhadores que vivem na periferia, assim como reprime aqueles que se manifestam democraticamente.
Os métodos arbitrários da PM aproximam as famílias de trabalhadores dos manifestantes que não estão satisfeitos com o atual estado de coisas.
2.045 pessoas foram mortas entre 2005 e 2009 no Estado de São Paulo pela Polícia Militar, que na manifestação desse sábado prendeu 230 pessoas, entre as quais cinco jornalistas.
Meses atrás, essa mesma polícia reprimiu os rolezinhos dos jovens da periferia nos shoppings e os dependentes de crack durante operação humanitária da Prefeitura.
As famílias de trabalhadores, os estudantes e os idosos não aguentam mais o tempo perdido no trânsito e a falta de qualidade do transporte público, especialmente no metrô.
O sistema público de educação não atende a necessidade da população. Escolas que não educam, com falta de estrutura, professores e funcionários sem uma remuneração justa, além da falta de vagas no ensino médio e superior.
Pronto-socorro, posto de saúde e hospital público sem condições de atender a população, acumulando filas e filas, que têm como consequência atendimento ruim e falta de estrutura para suprir a demanda. Fazer uma consulta ou um exame demora meses e meses.
A corrupção fundada na relação promíscua entre o poder público e empresas capitalistas, que contamina todo o Estado, revolta todos que precisam de serviços públicos.
Mais e mais notícias começam a desvendar o esquema de corrupção nas obras e fornecimento de trens e equipamentos para o sistema de transporte sobre trilhos em São Paulo.
A luta que pode unificar os anseios das famílias de trabalhadores das periferias, a juventude em luta e os movimentos populares é o #NaoVaiTerAlckmin.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, não é o único responsável por essas questões, mas é o alvo que pode unificar os movimentos e a classe trabalhadora, viabilizando uma coalizão das formas emergentes de luta social e os movimentos sociais tradicionais, com apelo popular.
O #NaovaiterAlckmin é funcional para o PT? Pode ser, porque o partido tem interesse em desgastar o governador, mas também representaria um tensionamento interno entre aqueles que querem e não querem protestos e um perigo em potencial para uma acomodada presidenta Dilma Rousseff.
O #NaovaiterAlckmin é funcional para as formas emergentes de luta? Pode ser, porque constrangeria o PT e poderia acumular força social e apoio de setores que não se identificam com o #NaovaiterCopa, criando condições para mobilizar e organizar as massas para pressionar o governo Dilma pelas mudanças.
O governo federal e o comando do PT teriam que se decidir: aceitar, apoiar e aderir às lutas do #NaovaiterAlckmin ou se aliar ao governador para manter a ordem e reprimir as manifestações, como dá sinais o ministro José Eduardo Cardozo.
O #NaovaiterAlckmin é superior ao #NaovaiterCopa porque pode mudar a correlação de forças, contribuindo para desgastar o PSDB, colocando a faca no pescoço do governo federal e do PT, que teriam que se posicionar. O que diriam os governistas que querem endurecer as leis repressivas e os petistas que têm medo das manifestações de rua?
Mais um elemento da superioridade da jornada contra o governador é que o #NaovaiterCopa não representa necessariamente uma saída para a esquerda, enquanto o #NaovaiterAlckmin ataca os setores conservadores e a repressão da PM.
O #NaovaiterAlckmin representaria a partidarização do movimento de lutas? Não necessariamente, porque o movimento pode construir uma plataforma de mudanças com perspectiva estratégica.
Garantia do direito constitucional de manifestação, desmilitarização da PM e proibição de porte de armas letais em operações em protestos; democratização dos meios de comunicação que manipulam e criminalizam os protestos; educação e saúde públicos, universais e de qualidade; fim da corrupção nas obras do metrô, retomada do dinheiro desviado e investimentos na qualificação e expansão das linhas podem ser o ponto de partida da construção dessa plataforma.
O #NaovaiterAlckmin poderia empunhar também a bandeira do plebiscito pela convocação de uma assembleia constituinte exclusiva para a reforma do sistema político, para mudar de vez as instituições reféns do poder econômico e que não representam mais os interesses das maiorias.
O #NaovaiterAlckmin é o xeque mate do movimento das ruas. Representa um salto de qualidade na luta e pode mobilizar mais pessoas, fazer mais protestos e acumular mais força para enfrentar o aparato repressivo do Estado e as amarras do nosso sistema político que impedem as mudanças estruturais.
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