quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

JOAQUIM SAMBOSA


Trabalhar que é bom 

Por Miguel do Rosário

Num dos últimos dias úteis de dezembro, Joaquim Barbosa esteve num samba no Rio de Janeiro. Pela primeira vez foi também vaiado. O Globo noticiou que se ouviram “algumas vaias”, então por aí já se pode concluir que foram muitas vaias. É triste constatar que nossas elites e setores de classe média, supostamente esclarecidos, mais uma vez tentam recuperar poder político através de soluções não-democráticas. Antes, as fardas. Agora, as togas.
A imagem de Barbosa sambando, enquanto nega o direito dos réus da Ação Penal 470 de cumprir sua pena em regime semi-aberto, mantendo-os ilegalmente em regime fechado, a imagem de Barbosa sambando e rindo com atores da Rede Globo, enquanto continua aterrorizando a família de um homem doente como José Genoíno, a imagem de Barbosa me lembra um comentário de Cesare Beccaria, o pensador que revolucionou a teoria penal moderna, ao deixar para trás o espírito de vingança que caracterizava o castigo aos condenados na idade média.
Beccaria diz:
“Que contraste não é mais cruel do que a indolência de um juíz e as angústias de um réu; e das comodidades e prazeres de um magistrado, de um lado, e as lágrimas e desolação de um prisioneiro?”
No caso, a situação é ainda pior do que a imaginada por Beccaria, porque o prisioneiro José Dirceu foi condenado sem provas. Dirceu também foi encarcerado ilegalmente, visto que o certo seria esperar em liberdade o julgamento dos últimos recursos, em 2014; sempre foi assim, e assim esperavam os advogados dos réus.
E agora Dirceu está preso ilegalmente em regime fechado, quando sua setença determina o regime semi-aberto.
E passa por tudo isso sendo linchado pela mídia, que tem a incrível cara-de-pau de falar em “privilégios”.
Dirceu, o homem que elegeu Lula e ajudou a tirar dezenas de milhões de pessoas da miséria, que arriscou a sua vida pela democracia e pelos pobres, está numa pequena cela com cinco pessoas. Sem ter cometido nenhum crime. Condenado num processo surreal, onde a mídia exerceu a função protagonista de condenar os réus, patrocinando uma publicidade terrivelmente opressiva, na qual explorou todos os preconceitos e traumas populares em relação à classe política.
Enquanto isso, a família Marinho, proprietários das Organizações Globo, que ajudou a planejar o golpe de 64, que recebeu dinheiro sujo dos EUA para dar o golpe e sustentar o regime militar, que nunca fez nada pelos pobres (ao contrário, ainda hoje apoia sempre os candidatos dos ricos), continua no topo do mundo, patrocinando festas e comprando juízes.
Até quando, meu Deus?
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