sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

NELSON MANDELA: Bendito seja um mundo com heróis



Por: Fernando Brito

Minha juventude foi cheia de heróis.
Os de verdade, não os dos quadrinhos e seriados.
Ho-Chi-Min, o cozinheiro de navio que escrevi poesias e enfrentava o maior exército do mundo no Vietnã.
Fidel e Che Guevara – mataram Guevara, todos sussurravam, eu fantasiava a dúvida de que aquilo pudesse ser verdade…
Depois vieram o Arafat, o Samora Machel, o Agostinho Neto, todos guerreiros sensíveis, capazes de baixar a pistola e pegar o ramo de oliveira ou a pena de poeta
Havia – não se podia falar seu nome, exceto na casa de meu avô – o Prestes, sim o Velho, o Cavaleiro lendário.
O cárcere – escutem isso, meus amigos mais jovens – era uma espécie de privação sagrada, os 40 dias de Cristo no deserto …
E havia Nelson Mandela, o estóico Nélson Mandela, preso há uma década, decada e meia, duas décadas, quase três…
Duro, silencioso, invencível
Nos tempos de maturidade, vocês não sabem que privilégio foi o de ver alguns dos meus heróis em carne e osso, a oportunidade que tive por estar ao lado de outro “maldito”, Leonel Brizola.
Os que viviam, encontrei.
É estranho encontrar-se com uma figura mítica.
Estar com Mandela, mais estranho do que com qualquer outra, porque era inevitável, mesmo a um ateu encardido como eu, deixar de ter um comportamento reverencial, um impulso de abaixar a cabeça teimosa e algum medo de olhar os olhos apertados e brilhantes.
Brecht podia, como europeu, dar-se ao luxo de dizer que era triste um povo precisar de heróis.
Os povos oprimidos, dominados, escravizados, negros ou mestiços como nós, precisamos deles, sim.
Eles são uma bússola, um Norte que alinha milhares, milhões de forças minúsculas como um imã, tornando-as imensas.
E quando eles se vão, continuam em nós, por nós, por todos.
Que bom poder perder seus heróis, porque esse é o preço do imenso privilégio de tê-los tido.
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