“Ainda tem muita coisa de dinamarquês em mim, não dá para negar isso, não vou mentir. O
DNA é dinamarquês, mas entrou muita coisa de brasileiro. Talvez eu tenha nascido no lugar
errado” diz Morten Soubak, 49 anos, o técnico dinamarquês que levou o time feminino de
handebol do Brasil a um inédito título mundial.
Ele começou sua carreira de técnico na Dinamarca. Primeiro, ele comandou o GOG e o FC Kopenhagen, times da Liga Dinamarquesa, uma das principais do mundo.
Mas foi como comentarista que Morten Soubak se tornou uma figura conhecida no mundo do handebol. Foram cinco anos como comentarista da TV2, o principal canal de televisão do país.
No Brasil, o primeiro time que ele dirigiu foi o Pinheiros, em 2005. “Trabalhei três anos lá e a Confederação me ligou e me convidou para a seleção. Foi esse o caminho.”
A estratégia de Soubak tem sido fazer as jogadoras brasileiras atuarem na competitiva Europa, para progredirem mais rapidamente.
O trabalho à frente do Brasil foi reconhecido internacionalmente. Ele ficou na segunda colocação na eleição de melhor técnico do mundo em 2012.
Antes de se dedicar ao handebol, no início da década de 90, ele fez trabalhos humanitários na Dinamarca.
“Trabalhei na Cruz Vermelha, de 1992 a 1995, logo depois que a guerra na ex-Iugoslávia começou. A Dinamarca, como vários outros países, recebeu muitos refugiados. Trabalhei em um navio, onde fui responsável por organizar esportes para as crianças e adultos.”
Por : Paulo Nogueira
“Venho de um país que é do tamanho do estado do Rio. Tem um pouco menos de seis milhões de habitantes e a educação é totalmente diferente. Todos têm educação de graça, está tudo pago, não tem buraco nas ruas. Aqui não deixam crianças nas ruas porque não confiam. Na Dinamarca vemos crianças com sete anos indo à escola de bicicleta. O sistema de educação é totalmente diferente, lá é tudo de graça para estudar e aqui é o contrário.”
A comparação entre o Brasil e a Dinamarca feita pelo técnico dinamarquês da seleção brasileira de handebol feminino, Morten Soubak, é inspiradora. Ela está registrada no site da Federação Paulista de Handebol.
O DCM se bate, intensamente, pela escandinavização do Brasi. A dificuldade para chegar lá está ligada muito mais a uma questão de mentalidade do que de tamanho: a cultura da elite dinamarquesa não é predadora, ao contrário do que acontece no Brasil.
Mas é outra parte do depoimento que me chamou particularmente a atenção.
Nele, Moubak fala de um sentimento que o toma quando abre um jornal no Brasil.
“Aqui, todos os dias, ao abrir o jornal, vejo que alguma coisa está errada.” Ele estava falando, especificamente, de corrupção.
Moubak tocou involuntariamente num ponto essencial para compreender o Brasil: a ênfase cínica e calculada que a mídia dá à “corrupção”.
É uma arma antiga empregada para desestabilizar governos populares: Getúlio Vargas em 1954 estava submerso num “mar de lama”. João Goulart também, uma década depois. Mais recentemente, as administrações petistas, segundo a mídia, parecem ter levado ao estado da arte a corrupção no Brasil.
Leitores como Soubak ficam com a impressão, completamente errada, de que o Brasil é um caso único de corrupção no mundo.
De Londres, acompanho o noticiário mundial: corrupção existe em toda parte. A maior diferença, no Brasil, é o destaque que a mídia dá ao assunto – quando lhe convém.
O Brasil pareceria bem menos corrupto para Soubak, e tanta gente, se ele vivesse aqui na época da ditadura militar, por exemplo.
Corrupção não era assunto, não porque não houvesse – havia e em extraordinária quantidade – mas por não ser noticiada.
Mesmo na era FHC a corrupção parecia não existir para a mídia brasileira. A possibilidade de reeleição de FHC foi comprada no Congresso, mas isto não comoveu a mídia brasileira. Ninguém investigou a sério o assunto e deu o tratamento que o caso merecia.
“Corrupção” entra verdadeiramente na pauta quando o alvo são administrações populares: isto é fato, e é absolutamente lastimável.
Ingênuos como o dinamarquês Soubak – ele deve imaginar que a mídia brasileira é tão honesta quanto a de seu país – são levados a crer em “mares de lama” dramaticamente ampliados para fins de manipulação.
Mas não nos enganemos.
O problema real do Brasil é um grupo que, ao longo dos tempos, tomou tudo para si e promoveu uma das maiores desigualdades do mundo.
A “corrupção” é o instrumento predileto deste grupo para engabelar os chamados 99%.
Duas vezes funcionou, em 1954 e 1964. Agora, parece que os brasileiros acordaram para seu drama real – e isto é muito bom.
Talvez um dia Soubak entenda isso também.
Ele começou sua carreira de técnico na Dinamarca. Primeiro, ele comandou o GOG e o FC Kopenhagen, times da Liga Dinamarquesa, uma das principais do mundo.
Mas foi como comentarista que Morten Soubak se tornou uma figura conhecida no mundo do handebol. Foram cinco anos como comentarista da TV2, o principal canal de televisão do país.
No Brasil, o primeiro time que ele dirigiu foi o Pinheiros, em 2005. “Trabalhei três anos lá e a Confederação me ligou e me convidou para a seleção. Foi esse o caminho.”
A estratégia de Soubak tem sido fazer as jogadoras brasileiras atuarem na competitiva Europa, para progredirem mais rapidamente.
O trabalho à frente do Brasil foi reconhecido internacionalmente. Ele ficou na segunda colocação na eleição de melhor técnico do mundo em 2012.
Antes de se dedicar ao handebol, no início da década de 90, ele fez trabalhos humanitários na Dinamarca.
“Trabalhei na Cruz Vermelha, de 1992 a 1995, logo depois que a guerra na ex-Iugoslávia começou. A Dinamarca, como vários outros países, recebeu muitos refugiados. Trabalhei em um navio, onde fui responsável por organizar esportes para as crianças e adultos.”
Por : Paulo Nogueira
“Venho de um país que é do tamanho do estado do Rio. Tem um pouco menos de seis milhões de habitantes e a educação é totalmente diferente. Todos têm educação de graça, está tudo pago, não tem buraco nas ruas. Aqui não deixam crianças nas ruas porque não confiam. Na Dinamarca vemos crianças com sete anos indo à escola de bicicleta. O sistema de educação é totalmente diferente, lá é tudo de graça para estudar e aqui é o contrário.”
A comparação entre o Brasil e a Dinamarca feita pelo técnico dinamarquês da seleção brasileira de handebol feminino, Morten Soubak, é inspiradora. Ela está registrada no site da Federação Paulista de Handebol.
O DCM se bate, intensamente, pela escandinavização do Brasi. A dificuldade para chegar lá está ligada muito mais a uma questão de mentalidade do que de tamanho: a cultura da elite dinamarquesa não é predadora, ao contrário do que acontece no Brasil.
Mas é outra parte do depoimento que me chamou particularmente a atenção.
Nele, Moubak fala de um sentimento que o toma quando abre um jornal no Brasil.
“Aqui, todos os dias, ao abrir o jornal, vejo que alguma coisa está errada.” Ele estava falando, especificamente, de corrupção.
Moubak tocou involuntariamente num ponto essencial para compreender o Brasil: a ênfase cínica e calculada que a mídia dá à “corrupção”.
É uma arma antiga empregada para desestabilizar governos populares: Getúlio Vargas em 1954 estava submerso num “mar de lama”. João Goulart também, uma década depois. Mais recentemente, as administrações petistas, segundo a mídia, parecem ter levado ao estado da arte a corrupção no Brasil.
Leitores como Soubak ficam com a impressão, completamente errada, de que o Brasil é um caso único de corrupção no mundo.
De Londres, acompanho o noticiário mundial: corrupção existe em toda parte. A maior diferença, no Brasil, é o destaque que a mídia dá ao assunto – quando lhe convém.
O Brasil pareceria bem menos corrupto para Soubak, e tanta gente, se ele vivesse aqui na época da ditadura militar, por exemplo.
Corrupção não era assunto, não porque não houvesse – havia e em extraordinária quantidade – mas por não ser noticiada.
Mesmo na era FHC a corrupção parecia não existir para a mídia brasileira. A possibilidade de reeleição de FHC foi comprada no Congresso, mas isto não comoveu a mídia brasileira. Ninguém investigou a sério o assunto e deu o tratamento que o caso merecia.
“Corrupção” entra verdadeiramente na pauta quando o alvo são administrações populares: isto é fato, e é absolutamente lastimável.
Ingênuos como o dinamarquês Soubak – ele deve imaginar que a mídia brasileira é tão honesta quanto a de seu país – são levados a crer em “mares de lama” dramaticamente ampliados para fins de manipulação.
Mas não nos enganemos.
O problema real do Brasil é um grupo que, ao longo dos tempos, tomou tudo para si e promoveu uma das maiores desigualdades do mundo.
A “corrupção” é o instrumento predileto deste grupo para engabelar os chamados 99%.
Duas vezes funcionou, em 1954 e 1964. Agora, parece que os brasileiros acordaram para seu drama real – e isto é muito bom.
Talvez um dia Soubak entenda isso também.
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