quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Santarém: Um Parque Natural Luta para Existir

Visão aérea do Parque da Cidade (Santarém - Amazônia)
Vista áerea do Parque da Cidade, em Santarém. Foto: Anísio Quincó – arquivo Blog do Jeso

No Blog do Dutra

Bem no coração da Amazônia, uma de suas mais antigas cidades tem muito poucas árvores, tão poucas que se pode falar em cidade desarborizada, sem verde. Isso mesmo, no coração da maior floresta tropical do Planeta! E esse pouco está cada dia se perdendo mais por causa do pogreço tão defendido pelos que se fazem porta-vozes da especulação imobiliária, das atividades da norte-americana Cargill e das centenas de carretas que chegam enlameadas do Mato Grosso, trazendo soja e ameaçando quebrar as poucas ruas que prestam na cidade. Essa cidade é Santarém, no Oeste do Pará.


Este exemplar de pau-brasil resiste bravamente no único parque de 30 hectares existente em Santarém. Dentro do chamado Parque da Cidade a Receita Federal planeja construir uma nova sede regional. A área, já pequena, vai sendo ocupada por coisas que não devem estar dentro de um parque ou de um jardim botânico, como você verá nas imagens que seguem. As duas jovens da foto aí embaixo fazem parte da clientela ideal, pois o Parque oferece espaço para passeios, exercícios físicos e locais para conectar a internet, ler e estudar.


Especialmente nas tardes quentes os estudantes procuram o parque para estudar e pesquisar em seus computadores. Há, inclusive, um espaço apropriado para leitura.


Outra dupla aproveita o silêncio para estudar, com mesas debaixo de barracas sob árvores altas, com bastante sombra. Pois não é aqui, nesse ambiente, ou bem perto dele, que a Receita Federal quer construir um prédio para a sua sede regional?


Na foto abaixo um trecho de uma das trilhas que, nas horas de calor mais ameno, são ocupadas por quem deseja caminhar. Pode-se caminhar tanto nestas trilhas, como no calçadão que rodeia todo o parque. Como ficará esse recanto com a possível e indesejada construção de uma repartição federal? Na cidade existem vários outros locais, inclusive grandes áreas de propriedade da União, mas a RF quer um naco do Parque!


Na foto abaixo, caminhões que transportam material para o Salão do Livro que se realiza dentro do Parque, uma vez por ano. A despeito da excelência do evento, melhor seria que encontrassem outro local para o Salão, caso contrário, aparecerá um prefeito que queira transformar a empanada em alvenaria...


Há trecos do Parque atulhados assim, como se vê nessa foto a seguir. Várias construções já estão dentro da área. Se não houver uma lei clara de utilização pública, logo mais o Parque terá perdido por completo a sua finalidade para ser área de escola, de Receita Federal, se secretaria municipal e o escambau. E assim se completará a lógica da decadência, a vocação para o nada, de uma sociedade que não se adapta ao seu meio, que sofre o calor crescente do Trópico e assim mesmo continua destruindo aquilo que a natureza deixou para fazer face ao calor natural da Amazônia. Burrice vocacionada?


Hoje a delegacia da Receita Federal em Santarém divulgou uma nota dando a sua versão sobre o projeto da nova sede. Para a RF a questão é puramente legal. Aliás, se essa questão ainda se arrasta é culpa também de vários prefeitos, pois há décadas aquela área, de propriedade da União, foi desocupada pela Aeronáutica, quando da construção do atual aeroporto, há 40 anos.
A prefeita Maria do Carmo, do PT, teve o mérito de implementar o Parque, mas teve o demérito de ter desprezado os aspectos legais que agora são apontados pela RF. A questão é: o Parque está implementado, consolidado, utilizado pela população e seria uma excrescência permitir que se construa uma repartição burocrática ali dentro. As questões legais, agora, são absolutamente secundárias, especialmente numa cidade marcada pelo mandonismo do que detêm o poder, para os quais as leis sempre são favoráveis.
A nota da Receita Federal está disponível aqui:
http://www.jesocarneiro.com.br/cidade/receita-divulgar-nota-sobre-parque-da-cidade.html
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