quinta-feira, 31 de outubro de 2013

HADDAD TEMEU FUGAS DE CORRUPTOS ATÉ ÚLTIMA HORA


O prefeito de São Paulo e seu núcleo duro de assessores sabiam desde o final de semana que ex-
altos funcionários da Prefeitura seriam presos; no comando da gestão Fernando Haddad, o 
medo de que pudessem ocorrer fugas prevaleceu até o último momento; após sucesso da 
operação policial, receio passou a ser o de não politizar o caso; extensão das fraudes ainda é 
incógnita, mas golpes somaram pelo menos meio bilhão em prejuízos para a arrecadação 
municipal; "Quadrilha atuou por anos na Prefeitura", afirmou Haddad; "Investigações até 
agora não encontraram conexões políticas"; um dos presos era dono de uma pousada

Marco Damiani 247 – Um pequeno e seleto grupo de auxiliares diretos do prefeito Fernando Haddad dividiu com ele, desde o último final de semana, a angústia de guardar um segredo de meio bilhão de reais.
Este é o volume que se calcula, inicialmente, do que pode ter sido deixado de arrecadar em impostos municipais em razão da ação da quadrilha ex-altos funcionários da Secretaria Municipal de Finanças presa na manhã desta quarta-feira 30, em diferentes pontos da cidade.
Nos últimos dias, quando o cruzamento de dados obtidos pela Controladoria Geral do Município e promotores do Ministério Público Estadual já tinha volume suficiente para a obtenção, na Justiça, de ordens de prisão para os quatro ex-funcionários públicos considerados chefes do esquema, a tensão aumentou na cúpula da administração municipal. Temia-se que qualquer vazamento de informações pudesse alertar o ex-subsecretário Rolilson Bezerra Rodrigues, o ex-diretor de arrecadação Eduardo Horle Barcelos e os auditores Carlos Augusto Di Lallo Leite do Amaral e Luis Alexandre Cardoso Magalhães para o que iria acontecer.
"Os crimes foram muito grosseiros, e se estenderam por muito tempo, era difícil acreditar que eles se achavam tão impunes", contou ao 247 um dos que partilharam antecipadamente com o prefeito o desfecho da operação. "Além disso, já havia o precedente do Aref", continuou, referindo-se ao ex-diretor do setor de Aprovações de Obras da Prefeitura, Hussain Aref Saab. Esse funcionário municipal tornou-se famoso por ter juntado 106 imóveis em seu nome pessoal, no da mulher e de um filho. "Os caras presos hoje poderiam fugir para o exterior, onde devem muito dinheiro guardado". No curso das apurações a Interpol deve ser acionada para localizar possíveis rastros da quadrilha em outros países.
Em entrevista coletiva, Haddad afirmou que a quadrilha atuou "por anos dentro da Prefeitura", sem especificar, no entanto, desde quando. Politicamente, ele passou o dia visivelmente satisfeito com a efetivação das prisões. "Esse é um dia importante porque mostra que foi um acerto termos criado a Controladoria Geral do Município", resgatou o prefeito.
Para o cargo de controlador geral, o prefeito escolhera a dedo o ex- secretário nacional de Prevenção da Corrupção e Informações Estratégicas, da Controladoria Geral da União (CGU), Mario Vinicius Claussen Spinelli. Com um vasto currículo de análise de informações, ele viu a pasta ser criada já no segundo dia da gestão de Haddad, em atendimento a uma das principais promessas de campanha do atual prefeito. Hoje já exibe em seu currículo a abertura de mais de uma centena de processos administrativos contra servidores municipais suspeito de corrupção e má conduta, além de ter fisgado os seus quatro peixes grandes.
O prefeito vinha mantendo uma postura discreta sobre problemas encontrados na máquina da administração municipal, apenas dando pistas, em suas entrevistas, de que ao menos um grande caso estava para ser divulgado. Em suas conversas regulares com o controlador geral, o prefeito têm procurado se informar sem, no entanto, colocar pressão em Spinelli por resultados cinematográficos.
"A confiança do prefeito nos métodos de investigação do controlador geral é total", frisou ao 247 um dos colaboradores de Haddad
A equipe de auditores comandada por Spinelli percebeu discrepâncias na arrecadação de ISS de empresas do setor imobiliário e, mirando-se no exemplo do modus operandi de Hussain Aref, passou a cruzar os índices abaixo da média com dados patrimoniais de funcionários público do setor.
Começaram a surgir, nos CPFs desses funcionários, uma série de imóveis, entre os quais até uma pousada de luxo que, agora, tem imagens estampadas em toda a mídia. Casas lotéricas e carros de luxo igualmente foram encontrados no nome dos acusados e de pessoas ligadas a eles. Para espanto dos auditores, os funcionários públicos que serão exonerados e responderão a processos administrativos, além dos processos legais, receberam mais de uma vez grandes depósitos em dinheiros, feitos, acredita-se, por representantes de grandes construtoras, em suas próprias contas correntes.
"Eles operaram com a certeza da impunidade e mal fizeram para apagar seus rastros", assinalou o colaborador de Haddad ao 247.
Após o sucesso das prisões, as informações saídas da Prefeitura procuraram acentuar os aspectos técnicos da ocorrência, de modo a deixar próximo a zero o risco de politização do episódio. Até as vidraças do prédio da Prefeitura sabem que o escândalo remete diretamente aos pontos mais frágeis das gestões de Gilberto Kassab e seu antecessor e padrinho político José Serra, mas da boca do atual prefeito Haddad, está combinado, não sairá uma palavra sobre isso.
"Não vimos conexões políticas nesse caso", disse hoje o prefeito – que tende a repetir isso
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