Elas continuam lá, as carcaças do Sairé deste ano, uma semana depois da grande festa. São como mortos-vivos de um sincretismo de ontem e de hoje. Se ontem os missionários portugueses tentaram "cristianizar" o semicírculo adorado pelos Borari, hoje a festa se mescla também com os botos Cor-de-Rosa e Tucuxi. Tão estranhos como a cruz incrustada no objeto de veneração indígena, os botos são agora os donos da praça, do que resta de uma festa que animava praticamente toda a Amazônia até o século 17, à chegada do conquistador europeu. Dançava-se e adorava-se o Sairé desde o Marajó até os confins do Solimões.
No Blog do Dutra
O hábito de largar os restos de festas ao léu é bem conhecido. Na preparação, todos os esforços. Na acomodação depois da farra, todos sabemos como é. Em Parintins a desarrumação da casa está melhor. Há alguns anos cheguei lá uma semana após o Boi, e as carcaças já estavam depositadas nos seus respectivos terreiros. Em Alter do Chão, o hábito tem sido deixar as alegorias apodrecerem sob o sol e a chuva.
O hábito de largar os restos de festas ao léu é bem conhecido. Na preparação, todos os esforços. Na acomodação depois da farra, todos sabemos como é. Em Parintins a desarrumação da casa está melhor. Há alguns anos cheguei lá uma semana após o Boi, e as carcaças já estavam depositadas nos seus respectivos terreiros. Em Alter do Chão, o hábito tem sido deixar as alegorias apodrecerem sob o sol e a chuva.
Um pouco de história do Sairé: Associado, como folclore, à vila de Alter do Chão, no Tapajós, bem perto de Santarém, muitos imaginamos que o Sairé seja uma coisa dos nossos dias apenas, uma festa engendrada por “caboclos”, palavra esta com que todos nós, caboclos ou não, nos depreciamos uns aos outros.
No Primeiro Congresso Brasileiro de Folclore, há quase um século, o amazonense Nunes Pereira mostrou como o Sairé era uma festa que envolvia toda ou inúmeras partes da Amazônia, e de sua exposição saiu o livro “O sairé e o marabaixo: tradições da Amazônia” (vale mais como fonte bibliográfica). Em localidades do Pará, do Amapá e do Estado do Amazonas, e com destaque para a região do Tapajós, por quase toda parte se praticava a dança em certas épocas do ano. E esses registros estão em diversos autores.
O intelectual paraense de Óbidos, José Veríssimo, referindo-se à manifestação a que assistira em Monte Alegre em 1876, classifica o sincretismo do Sairé como pertencente a uma “ordem de crenças a que pudéramos chamar de católico-tupis”. Tais resquícios, já no final do século XIX, seriam reminiscências de uma forma de negociação entre conquistador e conquistado, tornando possível a permanência de elementos das festas tribais originárias. Segundo Veríssimo, uma das características das cantigas era a monotonia e a tristeza, a que ele chama de “melopeia triste, monótona e rouca”.
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